A SOMBRA DO CORVO (COMPLETO)

CAPÍTULO 04

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   Quando estava quase anoitecendo, Amon pegou o seu velho casaco de lã, que apesar de estar com alguns pequenos rasgos na parte de baixo  era definitivamente a peça que ele mais gostava, por ser quentinha e confortável. Ele estava prestes a sair para dar uma volta, mas antes que chegasse até a porta do chalé, a mesma foi aberta por fora, fazendo o rapaz dar um pulinho para trás devido ao susto.

    — Ia dar uma voltinha, Amon? — o rapaz negro parado à porta perguntou, abrindo um pequeno sorriso e enfiando as mãos dentro dos bolsos internos do próprio casaco. Amon soltou um suspiro ao constatar que aquilo não é uma invasão ou algo do tipo. Na verdade era assim uma invasão, mas de certa forma muito bem-vinda.

     — Tava sem nada pra fazer. — Amon deu ombros e apoiou o peso do corpo apenas na perna esquerda, enquanto sentia o outro avaliá-lo de cima a baixo, sem deixar de fazer o mesmo. Ele conheceu Tristan, o rapaz de 22 anos à sua frente, quando tinha pouco mais de 17 anos, e ele era uma das poucas pessoas em quem confiava, senão a única. Talvez por Tristan também ser um bruxo, e aquele fosse um segredo que ambos deveriam guardar à sete chaves.

    O bruxo de pele escura também era um nômade, sem ficar em um lugar fixo por muito tempo, mas os dois acabavam se encontrando uma vez ou outra pelo reino meramente por acaso, apesar de terem feitiços que poderiam fazer os dois encontrarem um ao outro caso precisassem de ajuda.

    — Quer caminhar comigo, então? — Sugeriu o mais velho, encarando Amon com seus curiosos olhos acinzentados, que provavelmente haviam sido herdados do demônio com que havia descendência. Amon era arrogante suficiente para jamais admitir isso em voz alta para o outro (que já possuía um ego assustadoramente grande), mas sempre achou o bruxo negro uma das pessoas mais lindas que ele já vira em toda sua vida, e naquelas noites que passavam juntos algumas vezes durante os anos, os dois compartilhavam um com o outro bem mais do que apenas histórias e feitiços, e Amon fazia bastante proveito do que Tristan lhe podia proporcionar.

    — Claro.— Respondeu, umedecendo os lábios e caminhando em direção à porta, onde Tristan o esperava com um pequeno sorriso no rosto. Assim que o bruxo pálido estava perto o suficiente, Tristan passou o braço por cima dos seus ombros, puxando-o ainda para mais perto enquanto caminhavam de forma tranquila para longe do chalé, adentrando na floresta de Pinheiros e sequoias cobertas de neve.

     — O que tem feito durante esses meses? — Tristan perguntou, fazendo Amon encara-lo com o canto dos olhos, absorvendo as feições angulosas e bonitas do outro.

    — O de sempre. Tentando viver minha vida por aí sem ser descoberto. — Amon deu de ombros casualmente e encaixou o seu corpo ainda mais perto do outro para absorver o seu calor.

    — ontem à noite senti uma leve vibração das linhas de ley enquanto passava pelas redondezas, então soube na hora que você estava próximo. Estava falando com seu pai, certo? — Tristan enrolou uma mecha do cabelo branco de Amon no dedo, checando com curiosidade a cor natural que há muito tempo não via.

    — Sim. Falo com ele de vez em quando. — Explicou Amon, vendo o outro assentir levemente com a cabeça e trincar o maxilar. Amon sabia que Tristan também era descendente direto de um príncipe infernal, apesar do seu pai (Carreau) não ser tão poderoso quanto Mamon, não que Tristan se importasse com isso, já que ele pouco usava magia, e na maioria dos dias simplesmente vivia como um humano viajando de reino e reino.

     — planeja ficar aqui por muito tempo?

     — Só mais umas duas semanas. Vou para o Sul depois. E você? — Amon torcia para que tristan também fosse na mesma direção, mas o bruxo negro negou rapidamente com a cabeça.