CAPÍTULO 15

788 86 3
                                    


[•••]

     Quando já estavam dentro da mansão gigantesca e luxuosa de Mamon, o bruxo pálido não conseguiu evitar e se jogou nos braços do pai novamente, que ele amava tanto quanto amava Benjamin, apesar de o amor ser completamente diferente. O sentimento por Mamon era paternal, carinhoso e quente, já o que Amon sentia por Benjamin era absurdamente profundo, intenso e simplesmente delicioso e viciante.

     — O que achou do meu ruivinho? — Mamon sussurrou contra o ouvido do filho, beijando o seu cabelo cheiroso e ainda o envolvendo com seus braços. Benjamin tinha subido para o quarto para guardar as coisas dois dois, enquanto Landon havia ido trocar de roupa, pois ele estava vestindo apenas aquela calça úmida e com grãozinhos de terra.

     — Ele é lindo, e olha para você como se o senhor fosse o mundo inteiro dele. — Respondeu Amon, abrindo um pequeno sorriso e claramente feliz por o pai ter encontrado alguém. Pelo visto as últimas semanas haviam sido bastante movimentadas por alí, embora o bruxo não quisesse saber de todos os detalhes sórdidos (ele amava o pai, mas definitivamente não precisava saber sobre os seus hábitos e atividades sexuais). — E além disso, você também olha para ele como se ele fosse seu mundo.

     — Ele é... Alguém muito importante para mim. Vivi por milênios e já conheci e fodi tantas pessoas que seria impossível contar, mas eu nunca... Nunca senti isso antes. Meu coração bate de forma descompassada, eu quero rir e Agrada-lo de todas as formas possíveis, quero beijar aquele rosto sardento toda hora, quero... Quero que ele seja meu para sempre. — Mamon grunhiu, e ela primeira vez nos últimos vinte anos Amon viu o pai um pouquinho confuso, se embaralhando com as palavras, como se não soubesse o que era aquilo.

     — Acho que o nome desse sentimento se chama "Amor", pai. — Amon riu alegremente, sem acreditar que o pai realmente estava apaixonado. Mamon encarava o filho com os olhos arregalados, como se um terceiro olho tivesse crescido no meio da sua testa, além de que a declaração ainda pairava no ar e se infiltrava na cabeça do demônio bem devagarinho.

     — V-você acha que eu tô apaixonado por ele? — A cabeça de Mamon parecia que ia explodir.

     — Só você pode dizer isso. — Amon deu de ombros, ainda com um sorriso bobo no rosto. O príncipe infernal abriu a boca, mas parou antes de falar alguma coisa. Ele repassou todos os acontecimentos desde que havia conhecido Landon, os sorrisos, as provocações, os beijos, as fodas... Puta merda. Mamon realmente estava completamente apaixonado por aquele ruivinho safado. E se aquilo martelando no seu peito não fosse amor, nada mais seria. 

    — E já que estamos falando de sentimentos... Eu queria dizer que amo você, pai. — Começou Amon, agarrando o rosto bonito do príncipe infernal e encarando aqueles olhos verdes que pareciam ser um reflexo dos seus. — Amo você tanto que acho que não conseguiria viver sem você ao meu lado, assim como acontece com Benjamin. Você é o único parente que eu tenho. Cuidou de mim desde que eu nasci, me protegeu e sequer ligou quando eu não era gentil ou legal com você. E mesmo sabendo que eu só o procurava quando precisava de alguma coisa, você sempre me ajudou.

     — Você tinha razões para não confiar em mim, filho. — Uma onda de emoção tomou conta do corpo do demônio, que sentiu seus olhos pinicarem, ao mesmo tempo que limpava as lágrimas de Amon com os dedos quentes e macios.

     — Não tinha, não, pai. Acha que eu não percebia as barreiras de proteção ao redor de onde eu dormia quando era criança? As roupas que encontrava misteriosamente quando estava com frio? A comida, as bolsas com dinheiro, os sapatos...? Sempre soube que era você que fazia aquilo tudo. Eu só... Era estúpido e achei que você me ajudava porquê queria alguma coisa de mim. — Amon abraçou o pescoço do pai com força, sentindo o demônio devolver o aperto na mesma intensidade e quase esmagar suas costelas. Mamon não se lembrava de sentir coisas tão intensas quanto estava sentindo nos últimos tempos, além de não lembrar de outro momento nos seus longos milênios de que tenha sido tão feliz.

    — Você sabe que eu também te amo, não é? — Rosnou o demônio, dando um beijo longo e demorado na testa do filho. Ele não se importava sobre como demônios costumavam agir ou não, por aquela família que estava construindo Mamon ficaria de joelhos e beijaria os pés de cada um deles, faria tudo ao seu alcance para que eles fossem o mais feliz possível e até daria sua vida por eles se fosse necessário.

     — Eu sei, pai. — Amon riu e chorou ao mesmo tempo, dando um beijo na bochecha do mais velho. A partir daquele momento eles iriam ser uma grande família feliz, sem se importarem com todo o resto.

[•••]

    Eram quase duas horas da tarde quando eles finalmente se sentaram na enorme mesa que haviam colocado no terraço, perto dos lagos. Ele estava repleta de dezenas de travessas de comida, das mais variadas possíveis, doces e salgadas. O clima quente era absurdamente gostoso, e a felicidade era praticamente palpável pelo ar.

     Mamon estava sentado com Landon de um dos lados da mesa, enquanto Amon e Benjamin estavam logo do outro lado, todos com sorrisos bobos nos rostos, tão felizes que queriam que aquele dia durasse para sempre.

    — Senta logo, Baz! — Mamon exclamou para o secretário, que insistia em ficar organizando as coisas em cima da mesa (se tinha alguém que gostava de trabalhar mais que aquele demônio, Mamon desconhecia). O príncipe infernal pegou um morango e arremessou na cabeça de Basilton, que desviou por pouco e mostrou o dedo do meio para o chefe, antes de sentar à mesa, também de bom humor.

     Eles começaram a comer sem muita cerimônia, rindo e conversando feito um bando de malucos. Um bando de malucos incrivelmente engraçados e felizes. Mamon passou braço pela cintura de Landon e enfiou discretamente a mão por debaixo da camisa do ruivo, acariciando a sua pele macia de forma carinhosa por debaixo. O demônio pálido insistia em dar a comida naquela boquinha delicada e rosadinha de Landon, que apesar de estar com um pouquinho de vergonha por eles estarem fazendo aquilo em público, aceitou de bom grado as colheradas de pudim.

    Benjamin e Amon não estavam muito diferentes disso. O bruxo pálido estava sentado no corpo do rapaz moreno, colocando morangos na sua boca e roubando beijinhos estalados e carinhosos de vez em quando, encaixando a sua bunda naquela dureza da virilha de Benjamin.

     Basilton observava aquilo fingindo estar enjoado com o excesso de carinho demonstrado logo ali na sua frente, apesar de também estar feliz pra caramba, tentando conter a risada. O secretário estava pronto para sair correndo dalí caso os quatro malucos resolvessem simplesmente que queriam foder ali mesmo em cima daquela mesa (Baz desconfiava que era o que tinha a mente mais equilibrada entre os cinco sentados à mesa), mas enquanto a safadeza ainda não começava, Basilton se permitiu aproveitar e rir junto com o genro, o namorado e o filho do seu chefe doido.

     Os cinco continuaram conversando e rindo tanto que mal notavam as horas se passando, até porque isso sequer importava. Eles teriam toda a eternidade junta dali para a frente, e definitivamente não precisavam se importar com mais nada. Benjamin havia encontrado o amor da sua vida e o pai verdadeiro; Amon tinha um príncipe lindo consigo e o melhor pai do mundo; Mamon descobriu o amor e agora tinha um ruivinho fofo e um filho bonito para chamar de seu; Landon tinha encontrado uma família e o lugar à que pertencia, e baz... Bom, Baz era Baz. O demônio já tinha tudo que queria.


[•••]

A SOMBRA DO CORVO (COMPLETO)Where stories live. Discover now