CAPÍTULO 13

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    "... As minhas pálpebras estão pesadas e rígidas, como se eu tivesse dormindo por uns cem anos, de modo com que eu quase não consiga abrir os olhos, precisando de alguns segundos para conseguir me acostumar a luz ambiente e veja o cenário ao meu redor. 

     Um frio assolador me atinge em cheio, me fazendo soltar um grunhido de surpresa. Tento mexer as minhas pernas, mas a sensação de uniformidade e a mobilidade vindo da parte debaixo do meu corpo indica que não estou mais na minha forma humana. 

      Olho ao redor, tentando saber onde estou. É difícil ignorar o frio, que parece está congelando os meus ossos de dentro para fora, e fazendo-me bater os dentes sem parar.

      Um mar tempestuoso se estende ao meu redor, e eu estou submerso dos ombros para baixo nessa água gélida, tão escura que eu mal consigo ver a parte inferior do meu corpo. Ondas bruscas e desordenadas me lançam para longe, mas eu tento me estabilizar e continuar com o rosto para fora da água. Relâmpagos cruzam o céu escuro e repleto de nuvens de chuva, seguidos por trovoadas ensurdecedoras

      — Wyatt?! — Grito o mais alto que consigo, embora o frio e a rouquidão façam a minha voz sair baixa e esganiçada. Eu olho ao redor, tentando encontrar alguma coisa que não seja essa imensidão tempestuosa de água, mas não há sinal de vida, terra firme, ou qualquer coisa que possa me ajudar. 

     — S-socorro!! — Grito, tentando inutilmente desviar de algumas ondas. Percebo que entre meus dedos há membranas, e minhas unhas estão pontiagudas e meio escuras. 

      Um calafrio de medo passa por mim, intensificando ainda mais o frio sobrenatural que estou sentindo. Eu mergulho na água turva, soltando um silvo de tanto frio. 

      Meus pulmões são invadidos pela água congelante, enquanto meu corpo troca automaticamente o meu meio de respiração. Meus olhos precisam de um momento para se acostumarem a escuridão, eu olho para baixo e noto que o mar é tão fundo que é impossível enxergar o fundo, e a pouca luz que atravessa a superfície se alguns poucos metros abaixo, fazendo uma imensidão negra se estender até onde minha visão alcança. 

       Arregalo os olhos quando percebo como minha cauda está. O azul brilhante e lustroso deu lugar a um cinza leitoso. As escamas sobrepostas foram substituídas por um couro meio limento, e ela está muito mais ossuda que o normal, com espinhos enormes despontando das nadadeiras, principalmente da barbatana que fica na ponta da cauda, onde tem um ferrão tão longo e pontudo que parece o de uma raia. 

      Olho por cima dos ombros e analiso a barbatana que fica na parte de trás. Se antes ela já era um pouco grande, agora está três vezes maior, e começando no meio das minhas costas, ao invés de se limitar a minha cauda. 

    Capturo um movimento estranho com a minha visão periférica, fazendo-me olhar para a direita e franzir um pouco os olhos para ver o que é. 

     De início eu consigo ver apenas uma sombra, mas a medida que aquilo se aproxima, consigo ver uma coisa grande circular, com o diâmetro de uns dois metros. 

      A coisa se aproxima ainda mais, até aquele enorme círculo se abre, revelando uma pupila gigante, que se expande assim que foca em mim. 

     — AAAAH!!! — Tento gritar, mas o grito nem sequer reverbera pela água fria. Mal tenho chance de fugir, antes que aquela coisa me ataque." 

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     Acordo meio atordoado, sentindo minha cabeça latejar sem parar e suando frio, ainda lembrando de algumas cenas do sonho esquisito e assustador. Empurro os cobertores para longe, tentando ignorar a maldita dor de cabeça.

O BEIJO DO OCEANO (COMPLETO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora