CAPÍTULO 18

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   Assim como da outra vez, forço a transformação antes de chegar perto o suficiente para ser visto, subindo para a superfície assim que aquela vontade incontrolável de tossir me atinge em cheio.

      Eu começo a nadar em direção a praia de forma rápida, batendo os braços e as pernas de forma ordenada, fazendo jus às aulas de natação que fiz quando era criança. Assim que consigo alcançar o chão com os pés, começo a andar mesmo, dando pulinhos para ir mais rápido. O meu cabelo molhado está dificultando a minha visão, mas depois de afasta-lo com um rápido movimento de mão, volto a enxergar perfeitamente.

      Começo a andar mais rápido quando q água já está abaixo da minha cintura. Os meus passos largos me fazem chegar em terra firme em poucos segundos.

     Não deve passar das três e meia da tarde, porque metade dos alunos ainda estão comendo sanduíches de forma tranquila.

      — Nooossa, Luther! Colocou o corpinho pra jogo? — Liza surge do nada com um sorriso largo no rosto. Abro a boca para perguntar do que ela está falando, mas é aí que olho para baixo e...

       PUTA MERDA!! EU ESQUECI O MEU CALÇÃO NAS PEDRAS!!! Ah merda...

       Uma vontade súbita de cobrir o meu corpo me invade, principalmente quando noto outros olhares direcionados a mim. Principalmente algumas garotas que estão sentadas no banco mais próximo de onde eu estou.

      — E-eu... Vi que todo mundo só usa sunga, então não vi problema em usar também. — Explico, porque não seria muito gentil sair correndo e deixá-la plantada aqui sem uma resposta.

     — Já comeu?

      — Não. — Respondo, colocando as mãos nas minhas cinturas e tentando não me encolher sob todos os olhares. A maioria dos garotos usa sunga, então eu não deveria me sentir assim, certo? Eu sou um pouco magrelo, mas não me considero tão feio a esse ponto.

       — vem comer, então. Antes que fique sem. — Ela sinaliza para que eu a siga em direção as mesas, então confirmo levemente com a cabeça e começo a andar atrás dela. O calor faz a água do meu corpo evaporar de forma rápida, deixando a sunga menos marcada, o que me faz quase chorar de alívio. Nunca me senti tão pelado na minha vida, é como se cada olhar arrancasse uma camada da minha pele. Com Wyatt é diferente, ele analisa meu corpo com aquele olhar penetrante, mas... Eu gosto da forma como ele me olha.

       Quando chegamos até a mesa, percebo que praticamente metade do lanche ainda está lá. Há diversos sanduíches embrulhados em papel alumínio, dispostos em duas pilhas diferentes.

       — Aqueles alí são sanduíches de frango desfiado, e esses são cachorro-quentes. — Ela explica, apontando para a pequena pilha, e logo depois para a segunda. Eu resolvo optar pela primeira opção, porque não gosto muito de cachorro-quentes que só tem a salsicha dentro e nada mais.

       Desembrulho a comida de forma rápida e faço uma bolinha de papel alumínio, não arriscando joga-la no chão porquê se algum professor me pegar fazendo isso...

       — Hey. Quem é seu amigo, Liza? — Uma garota morena e bonita se aproxima, alternando o olhar entre liza e eu. Ela me lembra um pouco a atriz Jennifer Lawrence, e lembrar do que Victor disse me faz pensar que ela me conhece muito bem.

      — Esse é o Luther. Você sabe, da nossa turma. — Liza explica, cruzando os braços sobre o biquíni preto e apoiando todo o peso do corpo na perna esquerda.

      — Oi. — Aceno para a garota com a mão livre, antes de dar uma bela mordida no meu sanduíche de frango, que está bom pra caramba, por sinal. Sinto a garota me olhar de cima a baixo e abrir um sorriso radiante.

      — Desculpa ser invasiva assim, Luther. Mas minhas amigas estão perguntando se você tem namorada. — A garota aponta para as três outras meninas deitadas numas toalhas esticadas sobre a areia. Duas delas são loiras e a outra tem cabelo castanho claro. Elas acenam para a gente assim que percebem que estamos olhando para lá.

       — Não. Eu sou gay. — Explico, dando de ombros. Não só mesquinho a ponto de esconder isso, só não vou ficar espalhando isso por aí.

        — Sério? — A garota arregala um pouco os olhos, mas se recupera rapidamente e tenta esconder o espanto.

       — Uhum. — Confirmo, voltando a comer o meu sanduíche. Liza esconde o sorrisinho e então observamos a garota assentir levemente com a cabeça, dar meia-volta e começar a andar em direção as suas amigas.

       — não liga pra elas. — Liza murmura, pegando um cachorro quente da mesa e o desembrulhando com calma. Eu assinto levemente com a cabeça e começo a comer em silêncio, tentando entender o que acabou de acontecer.

      — Sabe, Luther. Sempre vão existir pessoas boas e as interesseiras, cabe a você classificar quem quer ter por perto. Não se feche novamente por causa de terceiros. — Liza diz, me dando uma leve cotovelada, antes de dar uma mordida generosa na comida.

       Isso foi bem... Profundo. E ela tem total razão.

        — Certo. obrigado. — Digo, lhe dando um pequeno sorriso, mas sem mostrar os dentes (para o caso de ter algum pedaço de comida entre eles).

       Enquanto conversamos, tento encontrar Victor com o meu olhar, então noto que ele está nadando com seu grupinho de amigos e jogando uma espécie de vôlei aquático.

       Será que não vou ter como desfazer aquilo? Fazer com que retornamos ao que estava antes daquela noite? As dúvidas me fazem ficar um pouco triste e desanimado, mas eu só vou saber se tentar.

        — Hey. O que foi? — Liza me dá outra cotovelada e levanta uma das sobrancelhas, me lançando um olhar avaliativo.

       — Nada não. Eu só... Tive uma discussão com o Victor, e preciso pedir desculpas pra ele. — explico. É um pouco estranho contar coisas pessoais minhas para os outros, me abrir com alguém e sentir confiança em fazer isso. Mas eu prometi pra mim mesmo que ia tentar, e Liza para ser bem bacana.

       — fica tranquilo. Ele é de boa. — Ela me tranquiliza, então confirmo levemente com a cabeça e como o último pedaço do meu sanduíche.

      Avisto a cabeleira ruiva de Charles entre as barracas, enquanto ele caminha na nossa direção. Eu aceno para ele e abro um sorriso assim que entramos no seu campo de visão. Liza me lança outro olhar avaliativo e franze os olhos.

       — Quem é você? O que fez com o Luther que conhecemos? — Ela aponta para a minha cara com o dedo indicador e faz uma ceninha, a unha pintada de vermelho está quase roçado a ponta do meu nariz.

      — Engraçadinha. — Reviro os olhos e jogo a bolinha de papel alumínio no meio da sua testa, fazendo-a dá um gritinho de surpresa e um soco no meu ombro.

     Quando Charles chega até nós, nós três começamos a conversar tranquilamente e mal notamos o tempo passar.

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O BEIJO DO OCEANO (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora