CAPÍTULO 20

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   Na manhã seguinte, eu precisei inventar uma desculpa esfarrapada para Victor. Me senti um pouco mal por precisar mentir tanto assim, justamente quando estamos de boa novamente e ele sempre foi tão legal comigo, mas eu não tive escolha.

       Antes de sair, procurei por ele onde todos estavam tomando café, e depois de comer também (um pouco mais do necessário, para o caso de demorar muito para voltar), disse para ele que estava tendo dores de cabeça frequentes e que não tinha conseguido dormir durante boa parte da noite, e por isso iria tentar dormir de manhã. Não foi 100% mentira porque eu realmente tive alguns picos de dor de cabeça, mas isso nem sequer fez eu me sentir um pouco melhor.

       Precisei caminhar um pouco pela areia até ter certeza de que ninguém veria quando eu entrasse na água, e isso estragasse as minhas mentiras esfarrapadas. Andei tanto que quase cheguei naquela pequena cabana que fica quase no limite da praia. A porta de madeira estava levemente aberta, e uma grande placa verde néon com "Open" escrito presa a ela.

       Quem será que mora ali? E como alguém consegue manter um mercadinho aberto num lugar como esse, onde quase ninguém vem??

      Bom, não tenho tempo para essas perguntas e preciso aproveitar a deixa de que ninguém tentou se aventurar nessa direção ainda. Eu corro até a água e mergulho em meio as pequenas e tranquilas ondas, me transformando um milissegundo depois, já começando a nadar em direção a ilha de forma rápida, sem me entreter com os peixes e com acrobacias sob a água.

       Já era quase oito e meia da manhã quando eu acordei. Devo ter perdido a hora, por quê fiquei até tarde da noite conversando com Victor sobre as coisas mais aleatórias que existem, comendo marshmallows e ouvindo as histórias assustadoras.

       Quando estou na forma de tritão, parece que minha força aumenta de forma exponencial. Eu vou tão rápido que consigo ver pequenas ondas na superfície formadas pelos movimentos da minha cauda.

       Não demora muito para que eu chegue até a ilha, mas preciso dar a volta nela para chegar a caverna de Wyatt.

      Há algumas raízes das árvores e troncos caídos no meu caminho, mas eu desvio facilmente deles, subindo e descendo rapidamente, e as vezes até me arriscando a dar saltos para fora da água, como Wyatt gosta de fazer. É como se tudo isso fosse uma enorme e improvisada pista de obstáculos, mas procuro não me perder em meio a devaneios e continuo nadando o mais rápido que consigo.

       Até consigo ver o meu calção lá encima das enormes pedras, mas resolvo pega-lo depois, porque é preciso que eu me transforme em humano para subir até lá.

       Não demora mais do que uns cinco minutos para que eu chegue até a praia do lado oposto, repleta de pedrinhas coloridas. A luz do sol, e o ângulo perfeito que ele forma no céu da manhã faz com que os pedaços de vidro marinho acendam e reflitam a luz, se assemelhando a pequenas luzinhas de natal.

       Eu gostaria de poder trazer o meu celular e tirar uma foto disso, mas pelo visto essa é uma memória que terei guardada apenas na minha mente.

       Assim que a profundidade do lago é o suficiente para dar pé, paro de nadar e volto para a minha forma humana, soltando um grunhido de tanto esforço. Fiz como Wyatt disse e tentei esvaziar os meus pulmões antes de submergir, só que não devo ter feito direito, porque ainda tossi um pouco, mas bem menos do que o esperado.

       Atravesso os últimos metros caminhando mesmo, seguindo em direção ao amontoado de pedras gigantes onde a caverna de Wyatt fica.

       — Hey! — Ele aparece no meu campo de visão, saindo daquela entrada escondida como se tivesse sentido minha presença aqui. Dessa vez ele está vestindo uma sunga branca, que o deixa tão gostoso que faz um suspiro involuntário escapar do fundo da minha garganta. Desconfio que as únicas roupas que Wyatt tem são sungas (não que eu tenha algum problema com isso, muito pelo contrário...).

O BEIJO DO OCEANO (COMPLETO)Where stories live. Discover now