Memórias

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Depois, uma palavra que afeta a nossa vida e o nosso futuro. Passamos tanto tempo planejando coisas para depois que acabamos esquecendo de fazê-las no agora. Que tal um passeio no parque? Para depois. Vamos viajar mas depois. Preciso dizer para ele ou ela que estou perdidamente apaixonada, mas vejo isso depois. Tenho que praticar algum exercício depois.

O depois é uma palavra que, infelizmente, acaba com nossos planos. Deveríamos esquecer o depois e fazer o agora, ou iremos perder o tempo que nos resta.

Depois, depois e depois…

─── A Emily precisa de um acompanhamento especial. Ela é difícil de se lidar.

Lá estávamos nós em uma sala da diretoria mais uma vez, a mulher de cabelos castanhos com uma aparência de 67 anos ou mais falava sobre minha rotina naquela escola. Ela falava tantas coisas mas não citava o que faziam comigo.

Quando percebi que minha mãe estava se afetando muito com todos esses chamados, eu resolvi guardar o bullying que sofria para mim mesma, para não ter que lidar com tanto desgosto.

─── Por que ela iria precisar disso? ─── minha mãe perguntou, já com uma voz desapontada. Já sabia o que estava por vir.

Eu estava sentada na cadeira ao lado dela apenas ouvindo, não podia me defender, afinal só tinha 9 anos e minha palavra seria inútil no meio das mulheres mais velhas, ninguém iria acreditar em uma criança.

─── Ela está arrumando muitos problemas com seus colegas de classe. Ela pegou o caderno da colega e disse que era dela porque estava com inveja ─── a mulher por sua vez remexia a caneta por cima dos papéis enquanto explicava tal brutalidade que eu não tinha feito.

Eu ganhei aquele caderno do meu pai e não era dela. Ela é que estava com inveja e tomou o caderno, falando que ele o pertencia, mas ele tinha até meu nome que ela apagou quando nos levaram para a diretoria. Clark sempre arrumava intrigas comigo e eu não podia me defender, afinal ela era uma menina muito maior que eu e poderia me espancar se quisesse a qualquer momento.

─── Aquele caderno era meu, Sra. Chloe ─── rebati em minha defesa, inconformada com a situação.

─── Emily Parker, não se meta na conversa de adultos ─── minha mãe interrompeu minhas palavras com uma raiva que eu podia sentir a quilômetros de distância.

─── Eu estou cansada, mãe ─── interroguei, mudando o tom de voz.

─── Eu que estou cansada, Emily, eu já não aguento mais. Eu não sei o que fazer com você  ─── os olhos da minha mãe eram azuis claros e agora eu poderia ver o mar se transformando. Seus olhos estavam brilhando e quando ela sentiu que lágrimas iam cair, ela passou a mão e respirou fundo.

Eu não sei que conversa teve depois, mas eu saí da sala e bati a porta com força. Eu não tinha culpa de nada mas estava cansada de ser tão injustiçada como eu era naquela escola. Por algum tempo minha mãe me ensinou em casa, mas isso durou apenas 2 meses e tive que voltar para a escola que tinha sido expulsa e minha ficha escolar estava cada vez pior.

Meu pai não era como minha mãe, ele sempre ouvia os dois lados da história e não colocava toda a culpa em mim, ao contrário, ele corria atrás de cada vírgula até saber qual seria o ponto final da história.

Era como se eu carregasse uma maldição em mim. Era como se meu castigo fosse ser uma pessoa estranha na sociedade, não ser aceita por nenhuma escola e sofrer bullying o resto da minha vida.

Quando consegui entrar em uma escola, passei pelas mesmas coisas, mas eram mais leves quando conheci um garoto chamado Jack, um britânico que havia se mudado para Los Angeles alguns dias antes, e essa foi a única escola que havia disponível.

Só começamos a nos falar porque tivemos que fazer dupla em um trabalho e como éramos os novatos, nunca poderíamos ficar com os veteranos.

Desde então, ele me defendia de todas as pessoas que tentavam me machucar ou fazer piadas comigo. Jack se tornou meu melhor amigo, mas isso durou apenas 9 meses, ele teve que ir embora pois sua avó estava bastante doente e queria vê-lo uma última vez. Ele prometeu voltar, mas nunca voltou.

Mas se eu pudesse agradecê-lo novamente, eu faria isso sem pensar duas vezes, apenas dizer obrigado por ter tornado meu ano naquela escola o melhor; sem confusões, sem brincadeiras, sem piadas ridículas.

𝐃𝐄 𝐑𝐄𝐏𝐄𝐍𝐓𝐄 𝐔𝐌𝐀 𝐄𝐒𝐓𝐑𝐄𝐋𝐀 || 𝐖𝐚𝐥𝐤𝐞𝐫 𝐒𝐜𝐨𝐛𝐞𝐥𝐥 Onde as histórias ganham vida. Descobre agora