Capítulo II - Nova família

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" Podemos encontrar felicidade nos detalhes?"


O silêncio obsoleto deixava-a em autêntica exaltação interior. A sua mente vagava nas profundidades das suas mentiras. Após a sua inconsequente escolha e falta de senso em não ter sido sincera e humilde o suficiente para revelar as suas origens, apenas se contentou em batucar o pé no chão e analisar os cabelos  negros com mais atenção - já que ele estava de costas no banco da frente, guiando com as cordas a direção a qual a égua deveria seguir-. Na parte de trás, conseguia observar que os cachos soltos que tinha na franja, se tornavam mais definidos e pequenos. Perdidos entre os fios negros pude ver o reflexo de lindos fios mais clarinhos. Em volta do seu pescoço, existia um cachecol de lã vermelho. Bonito ,. 

Um grande suspiro saiu-lhe por entre os lábios. 


Queria falar o quanto as árvores e plantas pelas quais passava eram perfeitas, mas o clima não estava dos melhores. O jovem de cabelos negros focava a sua total atenção na estrada de terra, depois das suas últimas palavras não sentiam animo para continuar uma conversa. Ela gesticulava com as mãos o diálogo que poderia criar sem ser inconveniente. 

" Incrível Aneline!

Conseguiste arruinar a tua primeira boa impressão. Agora ele não poderia ser mais gentil. Mentir é feio. " 



— Existem muitas flores nesta nova vila incrível? — perguntou não aguentando calada. 

Pude observar o movimento dos ombros dele se comunicar por linguagem corporal com ela. — Eu amo flores. Elas não são incríveis? Não querendo ser chata, mas explorar a diversidade de oportunidades de conhecer mais sobre a natureza, torna tudo tão esplêndido. Ah! — Disse mais animada. — As árvores também são muito bonitas. Já falou com uma árvore? Podemos abraçar e contar histórias para que elas floresçam e tenham folhas bonitas. Árvores ficam tristes quando chega o outono. As folhas caem e elas ficam carecas. Eu tenho pena. — Impossível não ouvir atenciosamente, mas não estava com humor para lhe dar uma resposta. Melhor deixar ela  se expressar e falar do quanto ama a natureza. — Para o onde vamos também tem muitas flores? Eu ficaria encantada. Juro! — Tocou o ombro do jovem e isso o fez a olhar subitamente e quase perder o controlo da carruagem, mas tomou as rédeas rapidamente. 

— Não consegue não me distrair, senhorita? — Respirou fundo. 

Aneline iria tocar novamente o ombro dele, mas desistiu. 

— Peço imensa desculpa. Eu só vi um bichinho no seu ombro e queria o espantar. Eu prometo que ficarei caladinha durante a viagem. — Cruzou os dedos em frente aos lábios, como se fizesse uma jura para não o incomodar e afastou-se um pouco. Puxou o gatinho branco para o seu colo e começou a murmurar em voz bem baixinha, no ouvido do animal. Gabe Benetton arqueou a sobrancelha com a atitude dela e ocasionalmente olhava por cima do ombro, observando discretamente. 

Faltavam poucas milhas para chegar à casa dos Hudson, que se situava um pouco mais afastada da vila e era rodeada por hectares de terrenos agrícolas. Tudo em volta era verde e muito bonito. Parecia até uma pintura de como cada detalhe se encaixava na paisagem que desfrutavam na rua de Paradise.  Parecia de facto um paraíso e a junção dos campos de carmim que ficavam espalhados pelos restantes hectares, davam um charme a mais. Talvez essa fosse a razão da família Benetton decidir construir o seu património ao lado da casa dos Hudson. Os seus pais gostavam de prezar pela paz e tranquilidade. Após avistar uma placa de madeira com o nome da rua, ficou mais aliviado. Aneline estava tão entretida a conversar com o gato, que não tinha se apercebido da sua chegada. Na rua, caminhando rente à estrada, pude ver o Sr. Louis e a sua esposa de mãos dadas. Eram um casal romântico e deveras invejado por parte das solteironas de plantão. O Sr. Louis era professor na escola do vilarejo e adornava com o seu amor e as suas poesias, as ruas de paradise. 

A menina dos cabelos de neveWhere stories live. Discover now