Capítulo III - Uma Inimizade.

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"Se não temos a sensibilidade de sentir a culpa pelos nossos erros, não teremos a capacidade para aprender com eles"

Assim como os dias de sol, os dias de chuva aparecem. Entre fios brancos e lágrimas ela perdia-se em soluços altos. Era o que dava ser uma pessoa intensa! Aneline escondia a cabeça entre as pernas enquanto chorava, mas, de vez em quando a levantava e olhava para a paisagem em frente - como se isso fosse amenizar a sua dor.

— Que árvores incríveis. — Murmurava tentando amenizar o sentimento de culpa, mas, voltou a chorar novamente. — Eu sou uma péssima pessoa.

Ali estava ele, o mesmo sentimento que ela teve quando cortaram os lindos cachos de Stacy, ou então quando a diretora queimou o seu presente de Natal que Dona Flora tinha comprado especialmente para ela.

Era angustiante.

Um sentimento de culpa, que a corruíra ferozmente por dentro.

Sentada sobre o telhado, refletia sobre o que tinha feito. Após o acidente, que levou Gabe Benetton para o centro médico da cidade mais próxima, ela só teve a reação de fugir e se fechar no seu quarto. Sentia que era o desastre em pessoa e os pensamentos negativos a consumiam como um vampiro sugava o sangue de um humano até findar os últimos suspiros.

Era uma estranha comparação, mas muito idêntica.

Assim que todos da casa surgiram ali um tanto desesperados pelos gritos que ela deu, não conseguiu olhar nos olhos de senhora Glory, pois, acabara de quebrar um quadro que parecia valioso e isso magoou o filho dela.

Era incrível a capacidade que ela tinha de arruinar a possibilidade de criar boa impressão aos outros. Ela se recusava a sair daquele quarto, ia comendo os pratos de comida que Rose deixava à porta, mas ela sentia uma vergonha tamanha que preferia ficar ali dando escopo à sua imaginação e pensar nos cenários mais terríveis possíveis.

— A menina não vai sair daquele quarto? — Perguntou Henry arrumando o seu jornal entre os dedos e notando a falta de Aneline à mesa pelo quarto dia. Rose soltou um longo e demorado suspiro. Já tinha tentado diversas formas de fazer com que aquela situação se amenizasse, porém, nenhuma delas tinha resultado. Ela também sentia a necessidade de respeitar o espaço de Aneline, não queria ser intrusa.

— Acho que não sou tão boa com palavras, a menina se sente culpada pelo acidente na casa dos Benetton e isso também é responsabilidade minha, pois Aneline é como uma criança e eu não tive prudência, ou cuidado de a vigiar. Fui irresponsável. Ela está envergonhada pelo acontecimento. Já lhe expliquei que Glory não está chateada e não a quer ver triste, mas ela insiste em ficar a chorar noite e dia naquele quarto. Não sei mais o que fazer.

— Como está Gabe Benetton? Já se recuperou?

Perguntou seriamente virando a folha do jornal.

— Pelo que parece, o quadro acertou-lhe a cabeça e deslocou-lhe um dos ombros. Está a recuperar, mas não poderá fazer grandes esforços.

— Ele é um jovem forte, isso é um pequeno acidente. Não é preciso tanto drama! Quando ele tiver de segurar uma arma entre os braços para lutar pela sobrevivência, como acontece em alguns países, aí eu terei pena. — Senhor Henry voltou a ler o seu jornal tranquilamente, mas antes terminou o seu diálogo — Fala com a criança para ir até a casa dos Benetton se desculpar e tudo estará resolvido. — Senhor Henry é uma pessoa prática. — Ou irei tomar posse do problema e o resolverei à minha maneira.

— Estou preocupada. — desabafou.

— A preocupação não resolve problemas. — Fechou o jornal e o pousou sobre a mesa. — Quanto à conversa que tivemos há uns dias, eu vou procurar um bom ajudante para induzir Aneline a estudar e com isso resolvemos esse pequeno problema. Concordo que deve tentar entrar na classe dos jovens da idade dela. Só o facto de ser uma órfã já abaixa as possibilidades dela na sociedade, atrasar um ano seria um caos.

A menina dos cabelos de neveOnde as histórias ganham vida. Descobre agora