Sábado, 20 de Setembro
14:00 PM
Aproveitar a paisagem através do melhor lugar de Paradise era o seu novo passatempo. O telhado de casa, tinha se tornado o melhor refúgio para a jovem de cabelos brancos, que ao deitar-se sobre as telhas, sentia uma liberdade incomum correndo-lhe pelas veias, a liberdade de ser quem era.
Preocupar Rose e Henry pelos últimos acontecimentos ao longo do tempo, não estava nos seus planos, e pedir a Henry para que não falasse sobre aquele dia em que ela chorou era o novo segredo dos dois. Era sábado, os dias passaram como a brisa do vento e as ruas de Paradise tornavam-se movimentadas; pelas carroças que passavam pela estrada de terra, pelas famílias que caminhavam alegremente em comunhão ou pelo senhor Louis e senhora Clark, que passeavam de mãos dadas, causando inveja às solteironas de plantão que disfrutavam de um chá na casa das irmãs Courtney. Eram deveras mente - ao olhar de Aneline - um casal literário. Assistir pelo ponto mais alto, era incrível. Dava-lhe a visão ampla dos hectares verdes e bem no fundo, rente à linha do horizonte onde terminava Paradise, o mar tomava posse de toda a beleza espantosamente esbelta.
Hoje era um dia especial, era o dia em que Glory tinha insistido em fazer uma festa de boas-vindas. Ela já não se lembrava disso, porque naquelas duas semanas seguintes, após o incidente com Penélope Wilson, Aneline a tentava evitar, mas isso trouxe desconfiança por parte de Tess, que a questionava a razão dela o fazer. Para Tess seria muito fácil bater de frente com Penélope, e para evitar mais ameaças ou acabar por envolver a ruiva em um problema que não era dela, Aneline resolveu não contar a verdade à amiga. Sentia-se mal por estar a mentir, mas era por uma boa causa. Pelo menos ela pensava assim. Quando se ergueu para se levantar após ouvir a voz de Rose no quarto, deparou-se com algo que lhe despertou a atenção. Gabe Benetton saía de casa e entrava na berma da estrada enquanto segurava o que parecia ser uma flor, entre os dedos. Ela decidiu então, o analisar. Não o via a três dias, pois a presença dele não era mais tão presente na escola e isso parecia ser estranho.
Bem no fundo sentia um misto de preocupação e curiosidade que a arrebata contra a parede da consciência em que Aneline Hudson odeia Gabe Benetton e a parede em que a própria impulsividade tomava-lhe conta do espírito e era impossível não pensar no jovem de olhos verdes-musgos. Nem ela mesma entendia a razão, mas as conversas - inebriantes de Pietra Gomes eram sem dúvida confusas -.
Pietra Gomes, a sua amiga que a levava a um abismo que a própria consciência desconhecia.
Ela adornava conversas que até mesmo Tess Spencer parecia entender, menos, ela.
A atenção das colegas centrava muito em "futuros pretendentes", enquanto ela só pensava no seu lindo mundo literário, ah e também em tirar boas notas nos exames. Ela era muito boa com palavras, mas com números, eram um desastre. Pensou que estudar fosse divertido, mas depois dela ter de trocar a sua incrível e amada literatura por matemática durante um dia inteiro, ela tinha chegado à conclusão que estudar requer concentração.
Algo que ela não tinha, já que bastava ver uma borboleta entrar pelo quarto, a sua concentração ia pelo abismo.
— Aneline querida, estou a chamar-te há algum tempo. — a voz de Rose ficou mais próxima.
— Eu já vou Rose! — respondeu e subiu a janela para entrar.
Rose a olhava com as mãos na cintura.
— Aneline, eu não gosto que fiques no telhado. É perigoso.
— Mas o telhado é um puro combustível para a minha imaginação.
ESTÁ A LER
A menina dos cabelos de neve
RomanceAneline, uma órfã de 15 anos, vive em um mundo onde a realidade é cinzenta, mas sua imaginação é um jardim de cores vibrantes. Após anos presa em um orfanato, finalmente chamou a atenção de uma família que vivia em Verzin, um vilarejo perdido na es...