01 - O retorno

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A luz do amanhecer mal havia começado a se insinuar pelas cortinas pesadas do quarto quando os gritos estridentes da minha avó me arrancaram do pouco sono que eu conseguia ter naquela casa.

- Anya! Levante-se imediatamente! Você vai se atrasar! - sua voz cortava o silêncio matinal como uma lâmina afiada.

Arrastando-me para fora da cama, eu tentava afastar o peso daquele lugar. A casa dos meus avós sempre pareceu mais um museu do que um lar, onde cada peça de mobília e cada retrato nas paredes parecia me julgar.

O café da manhã foi acompanhado pelo som do relógio e o ocasional tilintar de talheres. Meus avós sentavam-se à mesa, imponentes e distantes.

- Não vai comer mais, Anya? - minha avó perguntou com um tom que mais parecia uma acusação.

- Não estou com muita fome, obrigada - respondi, tentando manter minha voz neutra.

- Se continua assim, vai desmaiar antes de chegar a Hogwarts. Que tipo de bruxa você é? - meu avô lançou sobre mim um olhar severo e eu forcei um sorriso.

-Acho que uma bruxa que não tem muito apetite pela manhã. - Após o desjejum, subi as escadas de volta para o quarto para me vestir. Vesti uma calça azul, uma blusa de algodão cinza, uma bota preta e um casaco de couro preto, ainda mais no inverno era muito bom vestir aquelas roupas, ir para Hogwarts sempre trouxe um misto de emoção e alívio, como se, ao arrumar minhas malas, eu pudesse deixar para trás quem eu era naquela casa.

[ ...]

Caminhando até a plataforma nove e três quartos, sentia cada passo me levar para longe daquele ambiente opressivo. Ao chegar, a estação estava agitada, famílias se despedindo, crianças rindo e correndo.

- Anya, lembre-se do nosso sobrenome. Não faça nada para envergonhar a família - minha avó disse, sua voz fria mesmo em meio à despedida.

- Vou tentar - prometi, sem me comprometer demais. Eu já havia aprendido que, para eles, minhas conquistas nunca eram suficientes.

Atravessando a barreira mágica, senti como se finalmente pudesse respirar. O trem de Hogwarts estava à minha frente, prometendo mais um ano de estudos e aventuras. Subindo no trem, procurei um compartimento vazio, mas uma voz familiar me chamou.

- Anya, aqui! - Era Pancy, acenando de seu lugar. Com um sorriso, me juntei a ela, Draco e Crabbe já estavam lá, discutindo sobre as últimas novidades do mundo bruxo.

- Finalmente decidiu se juntar a nós, Grindelwald?" - Draco brincou, um sorriso presunçoso nos lábios.

- Não comece, Malfoy - eu ri, acomodando-me ao lado deles. - Estou mais interessada no que este ano nos reserva.

Conforme o trem partia, deixando para trás a plataforma, senti uma onda de alívio e antecipação. Naquele momento, havia apenas a promessa de novas aventuras, de amizade, de um lugar onde eu, Anya Grindelwald, poderia explorar quem realmente queria ser, longe das sombras do meu sobrenome.

À medida que o trem serpenteava pelas paisagens em constante mudança, a conversa dentro do nosso compartimento fluiu livremente, oscilando entre especulações sobre os novos professores, as últimas fofocas do mundo bruxo e, inevitavelmente, os desafios e expectativas do novo ano letivo. Pancy, com seu jeito enigmático, parecia particularmente interessada nas palavras de Draco, enquanto Crabbe fazia anotações meticulosas sobre cada tópico de conversa, como se já estivesse se preparando para os exames finais.

Draco, por sua vez, alternava entre provocar e compartilhar seus próprios insights sobre o que esperava do ano, especialmente sobre o Quidditch.

- Este ano, a taça vai ser nossa - disse ele com confiança - A Sonserina não vai deixar por menos. - Eu observava eles, percebendo como cada um, à sua maneira, buscava seu próprio lugar em Hogwarts. Eu não era diferente. Sentada ali, ouvindo e participando da conversa, senti uma conexão inesperada com eles, uma sensação de pertencimento que raramente encontrava na casa dos meus avós.

A Marca Negra - Theodore NottWhere stories live. Discover now