05 - Perigo

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O silêncio entre nós estendeu-se por um tempo indefinido, um espaço de calmaria na tempestade de minhas emoções. Eventualmente, Mattheo quebrou o silêncio, sua voz carregando uma suavidade que eu raramente associava a ele.

- O que aconteceu? - ele perguntou, sua curiosidade tingida de uma cautela incomum. Respirando fundo, encontrei a coragem para compartilhar a notícia que havia abalado meu mundo.

- Meu pai... ele fugiu de Azkaban - confessei, as palavras soando estranhas e assustadoras em voz alta. A reação de Mattheo foi imediata e surpreendente. Seu rosto habitualmente zombeteiro foi substituído por uma expressão de choque, e então, algo mais profundo, quase como reconhecimento.

- Seu pai? - ele repetiu, e havia um peso em sua voz que eu não soube interpretar. Subitamente, ele parecia distante, perdido em pensamentos que ele próprio parecia relutante em explorar.

Sim, notei algo diferente em Mattheo naquele momento, algo que nunca tinha visto antes. Ele começou a agir estranhamente, sua postura antes relaxada agora tensa, como se a notícia tivesse despertado nele um conflito interno. Ele olhava para o vazio, como se buscasse respostas em algum ponto distante do horizonte noturno.

Eu não entendia o comportamento dele. Por que a notícia sobre meu pai teria tal impacto nele? Mattheo sempre se manteve distante dos dramas pessoais dos outros, preferindo observar de longe com seu típico ar de superioridade. Mas agora, a menção do meu pai parecia tê-lo atingido de maneira pessoal, arrastando-o para um mar de pensamentos que ele claramente lutava para compreender.

- Mattheo? - chamei, minha própria confusão e curiosidade crescendo. - Você está bem?

Ele demorou um momento para responder, como se precisasse se forçar a voltar ao presente.

- Sim, estou... - ele disse rapidamente, claramente desconfortável. - É só que... eu não esperava ouvir algo assim.

Mas ele não elaborou, deixando suas palavras suspensas eu queria pressioná-lo por respostas, queria entender o que havia causado tal mudança nele, mas percebi que talvez aquele não fosse o momento.

Com um suspiro quase imperceptível, ele começou a falar novamente, tentando infundir um tom de normalidade em sua voz.

- Olha, Anya, sei que isso é... complicado. Mas talvez você devesse tentar se preocupar com coisas mais importantes - disse ele, evitando meu olhar. Eu o olhei, surpresa com suas palavras. Mattheo continuou, esforçando-se para parecer desinteressado.

- Quero dizer, estamos em Hogwarts, não é? É o lugar mais seguro que você pode estar. Não precisa ficar tão preocupada com... seu pai. - Eu conhecia Mattheo o suficiente para saber que ele nunca considerou Hogwarts ou qualquer lugar seguro, ele sempre foi cético quanto à capacidade das autoridades de manterem a ordem, um ceticismo que muitas vezes se estendia à própria segurança de Hogwarts.

- Desde quando você acha Hogwarts tão segura assim? - perguntei, minha voz carregada de suspeita. Mattheo hesitou, claramente pego de surpresa pela minha pergunta. Por um momento, vi algo parecido com preocupação cruzar seu rosto, antes dele rapidamente recompor sua expressão.

- É só o que todos dizem, não é? - ele respondeu, sua voz soando um tanto forçada. - Dumbledore e tudo mais... supostamente, estamos protegidos aqui.

Aquela explicação não me satisfez. Havia algo mais nas palavras e ações de Mattheo, algo que ele não estava me dizendo. Por que Mattheo, que sempre se manteve à margem, que sempre observou o mundo com um olhar crítico e desconfiado, estaria agora tentando me tranquilizar sobre a segurança de Hogwarts? E por que, especificamente, no contexto da fuga do meu pai de Azkaban?

A Marca Negra - Theodore NottWhere stories live. Discover now