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Melie Silva
São Paulo, 7:37 🌥

Por um momento tudo ao meu redor ficou em completo silêncio, minha irmã teve a mesma reação que eu mas foi mais rápida em id ajudar o mais velho a se apoiar direito para manter-se de pé.

Ele me olhou com um sorriso amarelo, mas envergonhado.

Dava para ver que ele não estava em sã consciência, fui ao seu encontro ajudando minha irmã a colocá-lo na cadeira a mesa da cozinha com cuidado. Ele pediu água e nós lhe damos, ficamos o tempo todo apenas o observando bebericar a água gelada no copo. Acho que estávamos as duas confusas sobre a situação do homem de barba e cabelo bem feitos, mesmo afastada aquele cheiro continuava no ar me deixando enjoada de tão forte.

– Pai, por que está assim? – Vic foi a que arriscou conversar com o bêbado.

Ele apenas sorriu. E demorou a responder.

– Assim como? – soluçou.

– Como? O senhor já se olhou no espelho?! Nunca nem se quer bebia direito na nossa frente!

– Vic calma... a mãe ainda está dormindo – falei tocando em seu braço quando levantou o tom de voz.

– Exato, sua mulher está lá em cima sabe lá se realmente está dormindo de tão preocupada que estava ontem! E aparece desse jeito?!

Ela o enfrentava como se estivesse sóbrio, mas não estava, apenas tirou lágrimas do homem que não nos comoveu. A mim um pouco, já me dava um aperto no peito vendo meu pai daquele jeito mesmo sabendo que ele é grandinho e sabe oque faz da vida, pelo menos até esse momento.

Passando meu olho pela camisa branca de botões vi o quão suja sua cor estava, mais acima dos ombros, na curva do pescoço havia uma mancha vermelha.

Não... não pode ser, batom? Eu rezei para não ser isso, respirei fundo prendendo todo ar por alguns segundos ouvindo ao fundo minha irmã ainda jogando fatos na cara do bêbado chorão. Ele agarrou nossas mãos ainda soluçando, isso me despertou dos pensamentos que insistiram em passear na minha cabeça.

– Me perdoem... minhas filhas eu não sei oque me deu

– Não é a nós que precisa pedir perdão, pai. Sua esposa que está sofrendo, e com certeza faz tempo, já que não é a primeira vez!

Me doeu imaginar que aquelas lágrimas eram apenas o efeito do álcool, ou até imitação dele mesmo. Mais uma vez eu pensei esse não é meu pai. Muitas famílias acabam assim, mas o que aconteceu para chegar a isso? Acho que a inocência de filha mais nova que me passavam escorre por minhas bochechas em forma de lágrimas.

Ajudamos o senhor Júlio todo o tempo, fiz um café da manhã reforçado para ele comer antes de ir deitar

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Ajudamos o senhor Júlio todo o tempo, fiz um café da manhã reforçado para ele comer antes de ir deitar. Nesse meio tempo enquanto ele comia nossa mãe acordou, sem nem imaginar a situação que encontramos ele o abraçou esvaindo toda preocupação que antes tinha.

Sal e pimenta  || VeighOnde histórias criam vida. Descubra agora