Capítulo 14: Largado as Traças

182 18 0
                                    


Três anos depois....

Pov. Tristan

24 anos

(...)

O líquido amargo desce arranhando minha garganta. Três anos. Faz três anos que Stephanie saiu da minha vida e ainda dói como se tivesse sido ontem.

A imagem de Michael a beijando ainda assombra meus pensamentos, e o jeito que ela olhou para mim quando Melody me beijou também me traz pesadelos. Desde aquele dia eu não sei mais o que é a felicidade genuína.

Tudo o que sei é que Stephanie está com Michael, o que me dá raiva. Eu sou forçado a vê-los juntos todo santo dia — já que a sacada do meu apartamento tem como vista o campus da universidade da Califórnia — e não há um dia em que eu não jogue água na cara de Michael, mesmo sabendo que Stephanie percebe.

Resumidamente, minha vida tá uma merda. Eu perdi o rumo, perdi a vontade de querer conquistar o mundo por ser um deus. Todos os dias acabam sempre no mesmo lugar: sozinho num bar.

Depois que saio do meu trabalho no centro de resgate marinho, ou de uma visita com meu pai, eu sempre acabava sentado no balcão do bar, bebendo de uísque a vodka, para tentar aliviar a saudade da única pessoa que já fez sentido na minha vida: Stephanie Grayson

Encho mais uma vez o copo com Buffalo Trace bourbon, pensando em como a minha vida tinha seguido sem ela. Realmente, eu não estava nada bem.

A cada dia que passava eu continuava sem entender Psique e Cupido. Eles me deram a oportunidade de sentir o mais puro dos amores, e depois tiraram isso de mim, me colocando a uma distância de milhares de quilômetros da minha felicidade.

Porque eles me entregaram o paraíso se iriam me tirá-lo? Porque eles me deram a melhor coisa do mundo para depois arrancar de mim? Porque me separar da felicidade?

O líquido arranha minha garganta quando viro o copo de uma vez. Que merda de vida, que porra de carma.

Pelo menos tudo isso serviu para que eu virasse alguém melhor. Com o tempo eu perdi a minha arrogância, e evoluí como pessoa, quase me esquecendo por completo de que era um deus, de que eu era especial de alguma forma.

É incrível como uma mulher pode mudar a vida de um homem, porque quando ela entra na vida dele, ela vira seu mundo do avesso e o faz dela. Mas quando ela resolve partir, tudo fica diferente, e não há como voltar a ser como era antes.

Afogar as mágoas na bebida nem sempre me anestesiava totalmente. As vezes a minha mente me levava para época em que eu era feliz. Às vezes a bebida só me fazia lembrar ainda mais dela. E às vezes eu chorava enquanto observava o campus da minha varanda, e tudo piorava caso eu a visse.

Quando percebo que a bebida já estava surtindo efeito, pago a conta e vou embora. O bar ficava na esquina do meu apartamento, então não seria uma caminhada muito longa. 

Ando aos tropeços até meu prédio, querendo chegar o mais rápido possível para continuar a beber para afogar as mágoas.

Assim que entro, ando até a cozinha e pego as cervejas que eu guardo na geladeira, me dirigindo para a varanda logo em seguida. O campus da Universidade da Califórnia estava calmo e tranquilo, não havia ninguém ali aquela hora da noite.

Minhas noites tem se resumido a isso nos últimos três anos: sozinho na varanda depois de voltar do bar, me afogando ainda mais na bebida na esperança de que isso amenize a solidão que tem me perseguido.

Coloco uma música aleatória para tocar enquanto abro a quinta garrafa de cerveja.

Meu orgulho caiu quando subiu o álcool, aí deu ruim pra mim
E pra piorar, tá tocando um modão de arrastar o chifre no asfalto

Além do Mar em Seus Olhos | vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora