Capítulo 1

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Giulia Romano

-Em nome do pai, do filho e do espírito santo....

-Amém.- todos repetem enquanto fazem o sinal da cruz.

Minha mão coloca os braços nos meus ombros e me aperta de forma acolhedora enquanto tento não chorar demais. Todos sabiam que ele era meu noivo, todos sabiam que tínhamos uma relação boa.

Mas chorar me parece demonstrar mais fraqueza do que eu deveria, então seguro o choro e sinto aquela dor na minha garganta enquanto engulo em seco. O padre dá o sinal para os homens descerem o caixão dele e fecho meus olhos enquanto as cordas vão descendo.

Lágrimas rolam pelas minhas bochechas e sinto a mão da minha irmã nas minhas costas, lembro de deixar a cabeça erguida e me forço a observar o caixão descendo até encostar na terra funda.

-Aqueles desgraçados.- meu pai fala e consigo ouvir.- Deveriam estar enterrando um deles.

-Podemos resolver isso facilmente.- meu irmão sussurra.

-Não.- sua respiração é profunda.- Eles votariam cem vezes pior e não podemos arcar contra eles.

-Podemos...

-Não podemos.- diz sério e meu irmão se cala.- Não sozinhos.

-Temos todos aliados que poderiam ter, não vejo onde arrumar mais, pai.- ele parece estar confuso.

-Vamos dar um jeito.- observo de canto se olho ele olhar para o relógio.- Vamos.

Quando minha mãe está me virando todos ficam paralisados, limpo meu rosto e ergo a cabeça para ver os Castelli entrando pela porta principal do cemitério.

Todos atrás de mim e na minha frente parecem tensos enquanto os Castelli também param, observo todos sem muita atenção e meu pai passa por nós colocando o chapéu preto.

-Não é o momento, todos estão de luto.- ele diz e começamos a andar enquanto os Castelli caminham também.

Não passamos perto um dos outros enquanto eles vão até o lugar do caixão, minha mãe me aperta mais forte quando os carros deles saem e os nossos chegam quase no mesmo instante.

Meu pai abre a porta e entro primeiro para depois meu irmão e irmã entrarem, a porta fecha e passo a mão pela minha testa notando só depois que estou tremendo.

-Quando chegarmos em casa você vai tomar um banho bem longo de banheira.- minha irmã sorri para mim.

-Ela não precisa de um banho longo de banheira.- meu irmão murmura.

-Você também não ajuda.- Cristina bufa.- Olha, Giulia, papai vai resolver tudo.

-Papai não quer resolver.- digo e eles ficam calados, então olho para Maurício e ele me observa.- Ele não quer, né?

-Ele quer.- segura minha mão.- Mas não temos como fazer isso sozinhos, os Baggatti são muito mais fortes que nós...

-Então vamos pegar a cabeça deles.- começo.- Sem o chefe eles se dispersam.

-Não podemos...

-Porque não?- afasto minha mão da dele.

-Por que se deixarmos passar algo, eles vão voltar e vão matar a mim, meus filhos e fazer coisas horríveis com as mulheres.- diz e minha irmã treme.- Então vamos esperar o papai pensar em alguma coisa.

-Sim, vamos esperar até eles decidirem matar mais de nós.- me viro para a janela e eles ficam calados.

Aperto meu corpo com força e respiro fundo gastando todas as minhas forças para deixar pra chorar em casa. Não vou chorar na frente deles pra gerar mais pena, só pra deixar eles me achando mais coitadinha.

Eu estava começando a gostar dele, começando a amar ele, quando meu pai falou que eu iria casar com ele, achei que era o fim da minha vida e agora estava chorando por um homem morto e que nunca mais ia voltar pra mim.

Não ia ter casamento, não ia ter noivado, não ia ter lua de mel. Não iria ter nada porque ele estava enterrado em um caixão a sete palmos da terra.

Agora teria que voltar pra casa, jogar fora os planos de casamento, jogar fora tudo que eu tinha comprado e o vestido de noiva. Não queria olhar para aquilo nunca mais, nunca mais na minha vida toda.

Provavelmente eu queimaria tudo.

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Giulia Romano

Sento na cama e trago a trança feita no meu cabelo para frente para brincar com a ponta dela, respiro fundo e passo os dedos pela testa tentando entender o que eu estava fazendo aqui?

Minha mãe tinha feito eu tomar uns remédios, talvez depois disso tivessem me trazido para cá para ter mais paz. Me forço a levantar e pegar o roupão vermelho escuro, tudo nessa casa é vermelho escuro.

Abro a porta do quarto e desço as escadas com calma, se alguém me pegar fora do quarto no estado em que estou é provável que me façam tomar mais remédios. Então seguro o corrimão de madeira e vou pisando com calma até chegar lá embaixo.

Dou a volta na escada para ir em direção à cozinha e paro quando ouço algo perto do escritório do meu pai, afasto um cacho que soltou da minha trança e me aproximo da porta lentamente para ouvir a conversa.

-Ela quer que você faça alguma coisa.- meu irmão fala baixo demais, então encosto meu ouvido na porta.

-Sinceramente, o luto da sua irmã é a última coisa que me preocupa, estou preocupado com os Baggatti matando meus homens.- a voz do meu pai parece cansada.

-Não mataram só o nosso.- ouço meu irmão mexer o uísque com gelo.- Você viu os Castelli hoje, eles também estavam de luto.

-Talvez os Baggatti tenham enviado uma mensagem para as duas famílias.- consigo ver meu pai coçando a barba.- Para provar que podem peitar duas famílias poderosas aqui.

-Não tão poderosas assim se não podemos atacar.- meu irmão fala e fica um silêncio terrível.

-Estou pensando em você, na sua esposa e em seus filhos, Maurício.- meu pai fala sério demais e tento não sair correndo.- Não podemos atacar agora, somos muito fracos em comparação a eles.

-Então o que fazemos?- Maurício parece ansioso para agir, ele sempre foi.

-Quero que mande entregar uma carta.- ouço meu pai pegar uma folha.

-Uma carta?- meu irmão parece surpreso.- Uma carta para quem?

-Para Castelli.- diz e até eu fico surpresa.

-O que possivelmente você escreveria em uma carta para o Castelli?- meu irmão parece querer rir.

-Isso é problema meu, que vou escrever a carta.- meu pai fala sério e Maurício para de rir.- Você só se preocupa em entregar a carta.

-Sim, pai.- ouço ele levantar.

Arregalo os olhos e começo uma corrida silenciosa até meu quarto, pulo os degraus de dois em dois e entro no meu quarto tão rápido que a porta bate um pouquinho alto demais.

Encosto meu corpo na porta gelada e encaro a minha cama enquanto continuo pensando na conversa deles.

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