Capitulo 36

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Renato Fernandes
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Encarei Rafaella e vi o quanto aquelas palavras cravaram na mente da
minha irmã. Seus olhos perdidos no horizonte como se tentasse absorver a
informação, mas nada acontecia.

— Está tudo bem? .- Eu me forcei a perguntar, pois acreditava que
desde que descobri, se tornou mais fácil de lidar com o tempo.

Não foi no primeiro dia, nem no mês seguinte, levou anos.

Eu sempre tive raiva dentro de mim, havia mágoa ao lembrar que aquele
acidente aconteceu, pois ele estava fugindo com a minha irmã e me abandonando com uma bêbada.

Eu sempre amei meus pais e eles eram tudo em minha vida.

Mas enquanto Rafa era apenas uma criança para entender o que acontecia, eu tinha oito anos a mais e consequentemente via todas as vezes que mamãe entrava em um quarto caindo de bêbada, entorpecendo os demônios em sua vida.

Eu sobrevivi ao caos que meus pais eram.

E quando papai morreu e mamãe partiu, tomei para mim, a missão de
proteger minha irmã e ser forte por ela.

Pois, ela era minha irmãzinha e eu a amava mais que tudo.

— Eu já sabia... - ela sussurrou, encarando o nada.

Eu a encarei, assustado.

— Como soube? .- indaguei preocupado. Quem me falou isso foi minha mãe, em uma viagem que fez para a fazenda.

Rafa engoliu em seco.

— Descobri uma carta da mamãe ao seu pai. Viajei para cidade vizinha para
falar com ela sobre isso. - Ela me encarou, com os olhos cheios de lágrimas.

— E ela não queria falar, mas me contou sobre tudo. Eu só não sabia como te falar isso.

Rafa tinha um tom culpado que machucava, mas ela não tinha motivo
para se sentir assim.

Eu também guardei aquilo para mim, como se fosse sumir, ou parar de
doer.

— Desculpe — pediu chorosa. — Eu deveria ter falado no instante que
vi, mas não sabia o que fazer direito. Eu só precisava da verdade e...

— Tudo bem, Rafa — falei sorrindo, deixando claro que estava mesmo
tudo bem. — Estamos bem e é isso que importa. O passado dos nossos pais não diz nada sobre quem somos.

Ela engoliu em seco, assentindo.

— Procurou sua família? — Ela me encarou com medo.

Se Rafaella tinha medo de que fosse abandoná-la, estava redondamente
enganada.

— Ele já faleceu e já tenho minha família, você e a vovó e isso nunca vai mudar — respondi, resignado.

Eu não queria nenhuma relação com nenhum deles, mas achava bom
contar à minha irmã o que escondi por todos esses anos.

— Quem te contou isso? — indagou com a voz embargada.

— Nossa mãe — respondi, lembrando-me do dia em que ela veio nos visitar.

Quando veio, Genilda seguia como eu me lembrava dela, bêbada e frágil.

Ela parecia exatamente o reflexo dos anos que se passaram, acabada.

Minha irmã abriu a boca, em choque e confusa.

— Ela falou isso do nada para machucar você? — perguntou,
aterrorizada e me fez rir.

— Não, irmã, ela não teria essa coragem. A verdade vindo à tona só
deixaria nossa família mais abaixo do chão.

Ela engoliu em seco, concordando.

— Ela apenas ficou bêbada e...

— Como todas as vezes — Rafa completou minha frase.

— Sim, como todas as vezes, a bebida a deixava sincera. Revelou que
Sebastião e meu pai eram amigos e eles ficaram juntos antes dela e Sebastião se casarem, mas que já estava grávida de mim.-  Engoli em seco, pois contar tudo pareceu deixar meus ombros mil vezes mais leve.

Saí do cavalo, quando vi Rafa  fazer o mesmo, então me aproximei, ajudando minha irmã a pular no chão.

Ela me encarou e vi as duas lágrimas descendo em seu rosto. O abraço
veio em seguida e ela me apertou tão forte que quase me fez rir.

— Eu sinto muito, eu sinto tanto .- sussurrou várias vezes e senti meu
rosto molhado.

Meu coração parecia se comprimir com as palavras de Rafaella, pois ela
era sincera, da cabeça aos pés.

— Eu sei, Rafa, mas não se preocupe comigo.

— Eu sempre vou me preocupar com você, Tato.  — Ela se afastou,
segurando meu rosto.  — Eu não quero que sofra.

— Eu não sofro por isso. — Fechei os olhos.  — Eu só aprendi que viver
aqui, sozinho, é mais fácil do que me abrir para as pessoas, Rafa.

Se nossos pais foram capazes de se trair, em quem podemos confiar?
Ela sorriu.

— Podemos confiar nas pessoas que amam a gente, Tato — respondeu,
alisando meu rosto. — E eu amo você.

Beijei sua testa, segurando o rosto da minha irmã com carinho, pois se
tinha uma pessoa por quem eu faria tudo era pela minha irmã e pela vovó.

Elas, de fato, eram tudo para mim.

Eu podia entender o desespero do meu pai ao descobrir sobre a mentira
da minha mãe. Mas pensava comigo, se tivesse que lidar com o filho de outro
homem, daria as costas para ele mesmo que o amasse?

Acreditava que não, pois, não seria egoísta a tal ponto.

Sem falar que meu pai também traiu minha mãe, inúmeras vezes, com
inúmeras mulheres.

E como dizem por aí, chumbo trocado não dói.
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Tadinho do Tato, calma Tato a Dani tá chegando na sua vidaaa!🥺

MÃE POR ACASO (GIRAFA) G!P (CONCLUÍDA)Where stories live. Discover now