Capitulo 12. Brisa morna

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Deserto da Líbia, Egito.

O pôr do sol se destacava ao fim de um horizonte vasto de planícies e dunas douradas a se perder de vista, não fazia tanto calor como durante o dia, mas as rajadas de vento que pairavam pelo ar já eram mornas o suficiente para deixarem as roupas encharcadas de suor. Porém mais do que o clima inóspito e de uma possível desidratação; o camelo também não ajudava. O vai e vem do seu andar espaçado e lento jogava meu corpo para frente e para traz em um solavanco enjoativo que já durava quase sete quilômetros percorridos. O arrependimento de ter comido três sanduiches de camarão antes de partirmos do vilarejo começava a bater no céu da garganta.

Alex seguia logo à frente em seu imponente camelo dourado, parecia tão confortável e contemplativa sobre sua cela que chegava a dar nos nervos, seu vestindo longo de linho preto esvoaçava ao vento junto a um Hijab prateado que lhe cobria a cabeça. Eu me perguntava como ela conseguia manter toda essa pose ao mesmo tempo em que eu estava quase que literalmente derretendo.

– Sabe... – sacudi as rédeas do meu camelo para que pudesse acompanha-la. – quando você disse que esse seu contato exigiu que nos encontrássemos no Egito para negociarmos as informações, eu imaginei restaurantes chiques no Cairo, hotéis de luxo em El Sheikh ou até mesmo as ruinas do Templo de Karnak. Mas... Um deserto?

– Era isso ou apelar para organizações criminosas. E você sabe que eu odeio apelar para esses caras. – disse dando de ombros.

– Pelo menos me diz que a gente já está quase chegando! – murmurei sentido os últimos resquícios de saliva se dissolverem na minha boca.

– Talvez sim, talvez não... – Alex forçou a visão ao longe, na tentativa de avistar algum sinal de vida. – mas são eles que vão nos achar. – enfatizou olhando para mim.

– Deixa eu ver se entendi direito, vamos continuar perambulando por esse deserto mesmo já quase anoitecendo e com recursos limitados, até eles nos acharem?

– Temos um vencedor! – bradou com sarcasmos.

– Você só pode tá de brincadeira... Afinal quem são esses caras? Não me contou nada a viagem inteira.

– São uma organização chamada de Cybers Ativistas. Trabalham com venda de informações secretas para alguns governos do G7.

– G7? Como conheceu eles?

– Quando eu trabalhava no serviço secreto do governo, descobri um fluxo de comunicação anônima entre o Pentágono e uma espécie de algoritmo na Dark Net. Era um algoritmo complexo, eu nunca tinha visto algo parecido antes. Então eu comecei a rastrear os ciclos de comunicação que o Pentágono tinha com essa tal entidade, foi então que eu descobri que o governo pagava uma organização independente para ter informações privilegiadas sobre a Rússia e a Coreia do Norte, enfim. Consegui um telefone um endereço e logo em seguida comecei a sair com um dos caras que trabalhava para essa organização. Namoramos por seis meses. – disse por fim limpando a garganta e ajeitando o Hijab.

Encarei-a por alguns segundos um tanto surpreso.

– Tá legal....

– Depois que terminamos ele continuou com os Cybers Ativistas, mas nunca trocou de número.

– Então foi com ele que você falou?

– Foi. E por acaso vai ser com ele que vamos negocias as informações pessoalmente.

– Eu só espero que essa ideia brilhante de fazermos isso no meio do deserte não tenha sido desse seu ex-namorado, por que se foi...

– Espera! – Alex rapidamente me interrompeu com um movimento de braço. – ouviu isso?

– Ouviu oque?

Alex puxou as rédeas do seu camelo em um movimento sutil, parando logo em seguida.

– Não está escutando?

– Oque? – um tanto confuso puxei as rédeas e dei meia volta com o camelo, parando logo ao lado de Alex que se manteve em silencio. Estávamos sobre uma elevação alta que nos possibilitava ter uma visão privilegiada do horizonte; não se via nada a quilômetros de distância, mas foi quando notei que a brisa que soprava em meus ouvidos trazia com sigo uma espécie de batidas cadenciadas que pareciam aumentar gradativamente. – sim... Eu to ouvindo agora. Oque será que é?

– Helicópteros. – disse Alex olhando fixamente na direção de onde havíamos vindo.

Quando olhei, avistei ao longe três pontos minúsculos no céu, se movendo rapidamente em nossa direção.

– Finalmente as coisas começaram a ficar interessantes por aqui.

¨¨***¨¨

Quando os helicópteros de porte militar passaram por nós, ainda sobrevoaram a região por alguns instantes até iniciarem um pouso sincronizado sobre uma área plana logo depois do morro a onde estávamos. Gigantescas cortinas de areia se levantaram contra a ventania, engolindo completamente as três naves, tornando-as praticamente borrões no cenário desértico, à medida que os motores perdiam potência a neblina de poeira começavam a se dispersar, revelando uma movimentação agitada logo depois do pouso.

Eu me sentia genuinamente impressionado, afinal aquilo realmente havia sido uma entrada de tirar o folego, mas a pergunta que não queria calar era...

– Três helicópteros? Isso não é meio que um exagero? – olhei para Alex.

– Não quando se trata desses caras. – disse me encarando de volta. – vamos.

Descemos a grande elevação de areia com cautela, até chegarmos lá em baixo. A claridade do dia começava a dar seus últimos suspiros no horizonte dourado, indicando que a escuridão da noite fria não tardaria a chegar. Descemos dos camelos a menos de trinta metros de distância de aonde os helicópteros haviam pousado. Senti meus pés afundarem sob a areia morna quando desci da cela.

– Tem mais alguma coisa que eu precise saber antes de falarmos com esses caras? – questionei enquanto desamarrava as bagagens que havíamos trazido nas celas.

– Eles são rigorosos com segurança, por isso não se acomode com lanternas na cara ou com revistas invasivas. São muito desconfiados não deixam passar nada. – disse Alex do outro lado dos camelos, eu mal conseguia vê-la. – não pergunte nada e nem questione nada, só fale quando falarem com você e se falarem com você, no mais e bom você ficar de bico fechado, me ouviu bem Willian? – reprendeu.

Bufei.

– To vendo que isso vai ser um saco.

Coloquei uma mochila nas costas e a alça de uma mala gigantesca apoiada no ombro, Alex surgiu do outro lado com um tablet nas mãos movendo seus dedos na tela com agilidade.

– Essas negociações não costumam demorar muito, a gente entrega o dinheiro, pega as informações e antes mesmo de amanhecer embarcamos no primeiro voo para Los Angeles.

– E um bom plano. – olhei em direção aos helicópteros. – mas eles não parecem ter vindo em tanques de guerra voadores pra um passeio rápido.

– William, por favor, agora não é hora de ser paranoico. – disse sem tirar os olhos do tablet.

– Eu não to sendo paranoico... – estreitei meus olhos na tentativa de enxergar alguma coisa, mas a penumbra da noite não me permitia ver mais do que silhuetas perambulantes. –... Eles estão tramando alguma coisa...

– Ei! William? Oi! Tem alguém ai?! – acenou Alex com a mão próximo ao meus rosto, na tentativa de chamar minha atenção.

– Oque?

– Você escuto o que eu disse? Vamos seguir com o plano, entregamos o dinheiro pegamos as informações e vazamos daqui. Ok.

Suspirei em concordância, ajeitando as bolças que eu carregava. Quando de repente uma questão me veio átona.

– Então... Quando você e esse seu ex-namorado Hacker terminaram... Foi numa boa?

¨¨***¨¨

A arte de ser um ladrão. (Dark romance gay) [PAUSADO]Where stories live. Discover now