Laranja

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Às vezes a minha vida tá cheia e eu tô cansado dela,
Enjoado da minha voz, do meu rosto e das pessoas,
E aí gosto de acordar, sem querer, antes que o Sol tenha chance de pensar em ficar laranja
Pra ficar calado e aproveitar o silêncio daquelas manhãs únicas
Que ninguém acordou ainda, que os carros estão desligados, que os pássaros ainda não cantaram
Mas, principalmente, quando o Sol e seus raios parecem, no momento, envergonhados
Cheios de pena de tocarem nas paredes, de tocarem nas minhas cortinas, de tocarem o meu corpo, o rosto e o olho,
Que eu quase não vejo
E nem ouço,
É um espaço efêmero e tácito, todos os dias,
Uma surpresa, que sabendo todos os passos, ainda me surpreende,
Porque é, como ontem, gostoso, isso porque é pouco e sendo pouco gruda fácil no peito
E, logo, aquece, tranquiliza e alegra,
Sussurra, no vazio e na calma, aquarela, em feixes, do vidro ao chão, abraça, quente, como mãe preocupada
E vai embora
Pra lembrar que amanhã vem, pra dar saudade, porque nada que é bom é pra sempre e não deve ser,
Se não, não havia saudade... uma saudade quente e laranja

Poemas de Fundo de GarrafaOnde histórias criam vida. Descubra agora