Capítulo 3

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Júlia

Havia algo de muito estranho na atmosfera. Uma animação diferente, uma energia potente que só era sentida quando eu estava na sala da emergência. Já era a minha terceira xícara de café enfrentando um plantão de vinte horas. Já tinha participado de duas cirurgias cardíacas mais cedo e tive que ficar para ajudar na emergência. Estava cansada, mas sentia o excesso de adrenalina e de pessoas falando ao mesmo tempo, correndo e fazendo suturas. Estava tudo uma loucura.

Tudo por causa de um sério acidente na estrada que ia para uma cidade do interior cujo nome não era importante naquele momento, pois isso era o menos importante naquela movimentada tarde de sexta-feira. Um ônibus cheio de estudantes bateu em um caminhão causando um engavetamento na estrada, inúmeras vítimas foram levadas para vários dos hospitais da região. O que importava de verdade era a vida dessas pessoas, e não de onde vieram.

Olhei para o relógio e já eram 19h, puxei um longo suspiro e tomei mais um pouco do café forte.

— Doutora, precisam de ajuda no leito três, pode ir até lá?

— Claro, Ana Rosa.

A chefe de enfermagem, uma mulher com um pouco mais de quarenta anos, linda e muito ativa me despertou dos meus pensamentos que era ir embora o quanto antes. Não tinha sido uma boa ideia ir a uma festa com as meninas na noite anterior, pois o cansaço estava cobrando o preço. Caminhei para o local indicado e auxiliei o médico especialista em trauma em um atendimento complicado. Quando o paciente estava estabilizado ele olhou para mim com um meio sorriso.

— Está com cara de cansada, já está aqui há um bom tempo, deveria ir para casa, doutora.

— Farei isso, obrigada. Estava indo embora quando me pediram para vir ajudar vocês.

— Agradeço por isso. Foi uma ajuda e tanta. Já pensou em migrar para o trauma?

— Já, mas a cardiologia me ganhou.

— Uma pena.

— Bom trabalho, pessoal! — A voz grave do Doutor Saulo chamou a nossa atenção. — Conversarei com vocês separadamente depois, mas por ora, quero dizer que fizeram um trabalho excelente. — Seu olhar encontrou o meu causando um leve tremor dentro de mim. — Sei que tem pessoas aqui há mais tempo do que o hospital permite, então quem estiver em um turno há mais de 12 horas está dispensado. Para o restante, bom trabalho. Doutora Júlia, preciso falar com você, na minha sala.

Engoli em seco e tirei as luvas que ainda estava usando e o acompanhei. Vinha tentando desligar o cérebro por um momento e não pensar no que o homem caminhando ao meu lado queria, mas sem sucesso. Com seu porte alto e atlético, ele parecia um desses jogadores de futebol americano, o nariz afilado e queixo quadrado. Com os cabelos castanho-claros quase loiros e lisos, e os penetrantes olhos azuis esverdeados faziam mais do que algumas cabeças se virarem por onde passava.

Inclusive a minha.

O tempo todo.

Aos 44 anos não parecendo ter mais do que 35, era viúvo e pai da minha melhor amiga. Saulo não trocou a roupa, ainda usava o pijama cirúrgico azul, que deixava à mostra os braços fortes e pescoço. Meus olhos desceram por suas costas largas e se detiveram em seu traseiro redondo e bonito. O homem era um espetáculo. Ele entrou na frente e encostou na mesa cruzando os braços encarando-me seriamente. Fechei a porta e tentei com todas as forças não ficar olhando para os seus braços fortes de músculos saltados.

— O que diabos pensa que está fazendo, doutora?

Pisquei meio sem entender do que se tratava. Será que ele estava me repreendendo por olhar a sua bunda? Não era possível.

Corações Proibidos - A paixão secreta do médicoDonde viven las historias. Descúbrelo ahora