Capítulo 9

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Bom dia! Presentinho de sábado para vocês. 

Aproveitem 

Júlia

Sempre detestei o fato de não conseguir controlar minhas reações nervosas extremas. Meu nível de estresse estava nas alturas nas últimas semanas somado à raiva e indignação por ter sido tratada pelo meu superior, o mesmo homem que eu era obcecada, como uma idiota emocional e antiprofissional ao me tirar da cirurgia que mais almejei em toda a minha vida, explodi em uma gargalhada enquanto lágrimas desciam pelo meu rosto.

Eu não era normal.

Aconteceu a mesma coisa no congresso no Rio de Janeiro quando Saulo, depois de me proporcionar o melhor beijo da minha vida, me deixou dentro daquele elevador com pernas trêmulas, coração acelerado e a calcinha encharcada como nunca fiquei na vida. Naquele momento queria desaparecer, chorar, gritar, xingar todas as gerações daquele homem, acabei tendo uma crise de riso. Não conseguia parar de rir e chorar ao mesmo tempo, por isso apertei o botão que dava para o terraço e fiquei lá sozinha até que estivesse estabilizada para ir para o quarto que dividia com as minhas amigas.

No outro dia, engoli a humilhação e me armei com todo orgulho que tinha para lidar com Saulo. Fiquei surpresa com o quanto eu podia ser fria e disfarçar bem os meus sentimentos por ele. Quanto ao beijo, não pensei em outra coisa deste então. Tudo que eu mais queria era sentir outra vez aqueles lábios nos meus. Suas mãos me apertando firme.

Entrei na sala da Sue sem bater e fechei a porta atrás de mim. Ela ergueu a cabeça e franziu o cenho abrindo um sorriso contagiada pela minha gargalhada incessante.

— Ju? O que é tão engraçado assim que — ela se calou ao perceber o meu estado, não era a primeira vez que ficava assim na frente dela —, amiga, o que aconteceu?

Levantou-se apressada deixando a caneta sobre a mesa e foi ao meu socorro. Eu estava encostada na porta, então ela segurou meu braço e ajudou-me a sentar em uma das cadeiras confortáveis da sala dela. A porcaria do riso não parava por nada. Era constrangedor.

— Eu... odeio o seu pai. Você não tem noção do que... ele acabou de fazer comigo.

— Bem, essa é nova para mim. Sempre achei que você adorasse trabalhar com ele. O que foi que ele fez?

Contei toda a história do transplante. Enquanto eu falava ela encheu um copo com água de uma garrafa que tirou da pequena geladeira no canto e me entregou para que eu bebesse. Quando terminei já me senti bem melhor e tinha parado com a crise de riso restando só lágrimas e humilhação. Claro que omiti que meu chefe vinha dificultando a minha vida desde que voltamos do Rio de Janeiro há um mês, ou teria que dizer o motivo, e isso estava fora de cogitação. Pensei que fosse coisa da minha cabeça, pois tínhamos conversado e resolvemos esquecer o acontecido, mas percebi quando ficamos frente a frente e olhei bem dentro daqueles olhos azuis acusadores que estava coberta de razão.

— Que horas vai ser esse procedimento? — perguntou cruzando os braços, muito brava. — Meu pai não pode fazer isso, ele praticamente disse que você não é profissional suficiente para lidar com a possível perda de um paciente. Por isso odeio a medicina, não se pode agir com humanidade nem uma vez?

— Não importa, ele me cortou da cirurgia e do caso, mas agora, pensando com mais clareza, percebo que talvez ele tenha razão. É fato que me envolvi demais no caso. Foi bom falar com você, estou me sentindo mais calma e com os pensamentos no lugar.

— Besteira. Eu se fosse você tomaria uma atitude.

— Como assim?

— Vou te falar o que dever fazer...

Corações Proibidos - A paixão secreta do médicoWhere stories live. Discover now