0.2 Daddy, daddy, daddy

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Aberdeen era completamente entediante e os amigos de Louis resolveram sair de lá e ir para algum show em Glasgow, ou pelo menos foi o que disseram na mensagem de texto enviada para o garoto quando estavam a meio caminho.

— Então, o que você quer fazer? — perguntou Harry, parando em um sinal vermelho.

Louis passou alguns segundos roendo as unhas, e então se virou no banco, puxando o cinto de segurança que teimava em se apertar contra sua clavícula.

— Sei lá, você liga se a gente parar um pouco? Eu 'tô meio cansado.

Harry encarou a tela do GPS no painel, colocando o carro em movimento novamente.

— Alguma coisa contra Gretna Green? É a cidade mais próxima, nós podemos parar pra comer também.

Ele notou que Louis parecia inquieto, passando o celular de uma mão para outra, e se debatendo com o cinto, mas não fez nenhum comentário.

— Se você quiser... — foi tudo o que ele respondeu, agora cutucando o estofado do banco, de cabeça baixa.

Harry suspirou e se manteve em silêncio até estacionar o carro numa área de serviço no acostamento, o que fez Louis se assustar e olhar para ele.

— Lou, está tudo bem?

— Não é só que... eu 'tô te atrapalhando né? Tipo, antes a gente 'tava indo pra um lugar, mas agora...

Harry se arrumou melhor no assento até poder se inclinar e tocar o rosto dele.

— Não é nada disso, eu já disse que estou de férias, além do mais quem escolheu vir com você fui eu. Se você quiser ir para Glasgow ficar com seus amigos eu não tenho problemas, e eu posso te levar, ou você pode ir sozinho. — Louis assentiu, mas continuou de cabeça baixa e mudo. — Nós vamos parar em Gretna, comer alguma coisa, e até lá você decide, tudo bem? — Outro aceno. O homem suspirou novamente e colocou o carro de volta na estrada, deixando Louis cuidar dos próprios pensamentos.

♥♥♥

— Cidade fofa, nunca vim aqui antes. — disse Louis enquanto mastigava um sanduíche. Ele parecia ter relaxado mais ao longo do caminho até Gretna Green, e tinha aceitado sem reclamar que Harry pagasse pela comida que tinham comprado.

— Eu também não. Só não entendi a fixação por ferreiros.

— Então... — ele colocou o cabelo comprido atrás da orelha, e parecia prestes a começar a roer a unhas de novo, mas pareceu perceber e derrubou a mão no colo. — Tudo bem pra você se eu ficar aqui e pegar alguma condução pra Glasgow?

Harry sorriu e concordou com um aceno, mas não muito sinceramente. Para ele, Louis estava indo embora muito cedo, mas também sabia que não podia mantê-lo, o garoto não era um bichinho de estimação, e mesmo que a situação deles fosse menos estranha e aleatória, ainda seria quase impossível fazer qualquer coisa sobre as realidades quase opostas onde viviam.

— Certo, só precisamos voltar no carro para buscar sua mochila.

Era estranho pensar que 24 horas antes, ele não tinha ideia de que estaria agora numa cidade na fronteira com a Escócia, comendo sanduíches com um garoto quinze anos mais novo, que ao mesmo tempo que era ousado e descuidado, às vezes parecia indefeso e assustado, que parecia ter o próprio Sol dentro de si, e como o Sol, ficaria marcado nas retinas de Harry por muito tempo depois de ir embora.

Eles caminharam até o carro em silêncio, e Louis permaneceu parado, assistindo Harry sentar no banco do motorista e relutantemente ligar o motor. Buscando um último contato, uma última lembrança daquela criatura impossível, o homem se virou e colocou a cabeça na janela, olhando ligeiramente para cima para ver Louis com um sorriso que não chegava aos olhos.

— Você precisa de alguma coisa?

— Quê? você não, tipo, pensa que eu faço programa, ou coisa do tipo, né? — o pensamento parecia tê-lo assaltado agora, inesperadamente, e as palavras saíam corridas, o sotaque dele as tornando mais ásperas. — Porque eu não faço não. Eu tive um monte de trabalho merda, mas isso não, eu prefiro voltar pra casa, trabalhar numa lojinha, eu 'tô--

— Não, não! Eu perguntei se você precisava de alguma coisa porque você é legal, e eu gosto de você, quero que você fique bem, e talvez ver você de novo, se você quiser. Eu não penso em você dessa forma, Louis, não penso e nunca pensei.

O rosto de Louis se iluminou, e a sombra de receio que estava em seus olhos pelas últimas horas desapareceu.

— Sério? É que eu nunca fiquei com alguém tipo você, que tem, tipo, grana e fala todo importante, tem um carro chique, então sei lá o que é que vocês pessoas ricas pensam sobre meninos desempregados que viajam e transam com desconhecidos.

Harry gargalhou, dessa vez sincero.

— Eu não sou uma pessoa rica, meu emprego paga bem, mas minha mãe era enfermeira, Lou. E é por causa do emprego que eu "falo importante", ensinando Direito você precisa fazer da língua formal um hábito. Portanto, sem razões para ter receio, você é uma pessoa que escolheu viver como lhe dá prazer, quem sou eu para julgar?

— Quer saber, foda-se! — exclamou Louis antes de abrir de uma vez a porta do carro e se atirar no colo de Harry, o beijando furiosamente. — Você fica todo gostoso falando bonito, tem como falar putaria desse jeito também? Eu ia gostar.

— Não tenho certeza, mas nós podemos investigar. — eles riram com os lábios colados, Harry fechando a porta às cegas com um baque. — Para onde você quer ir agora agora, jovem viajante? Isso é, se você quiser que eu te leve.

— Eu não, nós! Foda-se Glasgow, você já viu o mar em Gales? É muito show, tem um monte daquelas pedras enormes que as pessoas se jogam de cima nos filmes, quer ir? A gente pode estacionar num penhasco e dormir no carro ouvindo as ondas!

Deslizando as mãos pela cintura dele, Harry riu novamente.

— Gostei da ideia, mas não tenho certeza se dormir no carro é uma boa ideia para as minhas costas, nem todo mundo é um jovem viajante por aqui, Lou, e hotéis perto do mar existem por uma razão.

— Hotéis são caros seu velho!

— Você mesmo quem disse que eu sou uma pessoa rica.

Dando um suspiro falsamente irritado, Louis se ajeitou em seu colo, deitando a cabeça em seu ombro e o encarando com olhos brilhantes cheios de sarcasmo.

— Tá bom então, daddy.

Harry congelou, interrompendo a carícia que fazia na pele do garoto, que percebendo o efeito do que tinha dito tão inocentemente, riu malicioso e se inclinou para sussurrar em seu ouvido.

— Daddy, daddy, daddy.


Nota: Obrigada por todos os votos e comentários que essa fic recebeu até agora! Mais uma vez agradecendo minha beta oldirectioner (que precisa parar de morrer cada vez que agradeço a ela, até porque uma beta morta não serve de nada), e até o próximo capítulo.

xxx

Lua

:)

My Heart Belongs to Daddy, My Soul Belongs to the Road ♥ L.S. AUWhere stories live. Discover now