Cap. 01 - Um estranho no ninho

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Para Renato, seu quarto era o mais próximo que conhecia do paraíso. Ele adorava ficar deitado ali no escuro, iPhone nas mãos e fones enterrados no ouvido. Adora viajar ao som de Nirvana, Queen ou AC/DC. Embora essas fossem suas bandas prediletas, o menino magricelo de cabelo alisado sempre jogados sobre o rosto, não dispensava sons mais, digamos pesados, como Ghost ou Rammstein.

As férias de julho estavam no começo, mas Renato havia planejado como iria desfrutá-las há um bom tempo. Desde de maio, ele decidiu que passaria o mês todo ouvindo suas bandas prediletas e lendo. Carlos Ruiz Zafón, Clarice Lispector, Caio Fernando Abreu, Joe Hill, esses eram os autores que vinham se acumulando sobre sua mesinha de estudo nas últimas semanas (ocupadas com estudo de coisas sem graça alguma, mas que cairiam nas provas).

Renato fechou os olhos e começou a embarcar na voz melódica de "Élan". Adorava Nightwish também. Mal começou a sonhar acordado, a porta do quarto abriu. Joana acendeu a luz e fez uma careta ao ver o filho deitado atravessado na cama.

- Meus Deus, você está horrível!

- Não costuma bater antes de entrar,  não? - protestou Renato, tirando os fones do ouvido.

- Não na minha casa - disse Joana pondo as mãos na cintura - Espero que suas malas estejam prontas, rapazinho!

Renato recolocou os fones no ouvido e aumentou o volume.

- Está me ouvindo, Renato?

Sim. Ele estava ouvindo, mas preferia fingir que não. Já fazia ideia de onde aquele papo da mãe ia levá-lo.

Joana esperou alguns segundos. Diante da inércia do filho, entrou no quarto e foi até o filho. Abaixou-se e puxou os fios arrancando os fones do ouvido de Renato.

- Estou falando com você, mocinho!

- Eu ouvi, caramba! Parece louca! - indignou-se enquanto recolhia os fones que caíram no chão.

- Maravilha! Então posso deduzir que suas coisas estão arrumadas!

Renato respirou fundo antes de continuar.

- Eu já disse que não quero ir...

- Até aí, tudo bem, mas quem decidi as coisas aqui sou eu. E pra seu azar, eu decidi que nós vamos viajar pra fazenda da sua avó, sim, senhor.

- Só acho que eu deveria ter o direito de opinar.

Joana soltou um risinho irônico.

- Você só tem dezessete anos, não trabalha e vive às minhas custas. Resumindo: eu mando, você obedece.

- Por que eu não posso ficar aqui? Você vai de boa e ainda leva a Suzy. Tenho certeza de que ela vai adorar passar um mês na companhia de vacas e cavalos.

- E deixar você sozinho aqui em casa? Aliás, sozinho, não. Acompanhado desse bando de loucos vestidos de preto que você chama de amigos? Nem pensar!

- Mas eu...

Joana fez um gesto com a mão para que o filho se calasse.

- Chega, Renato! Já decidi e está decidido. Arruma suas malas que a gente parte amanhã bem cendo!

Assim que a mãe deixou o quarto e fechou a porta, Renato fez um gesto pouco educado com o dedo do meio em direção a ela. No fundo, o que ele queria mesmo era dar dedo para mãe. Apontar o dedo na cara dela, mas bem ou mal, ela ainda era sua mãe. E como ela mesmo dissera, era quem pagava todas as contas. Quem sabe quando ele tivesse um emprego e mandasse no próprio nariz. Ah, sim. Aí, ninguém iria segurá-lo, ou mandar nele. Não mesmo.

Entre Meninos (Romance gay) - Concluído Where stories live. Discover now