Cap. 13 - Uma noite alucinante

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Renato entrou lentamente na quadra da escola como quem caminha para a cadeira elétrica, ou um animal que segue rumo ao abate. A profusão de luzes coloridas piscando quase o deixou cego. Ainda assim, com um pequeno esforço, ele conseguiu ver que estava bem vestido. De onde tinha saído aquela calça e o casaco azul marinho elegantíssimos? Como ele foi parar dentro daquela roupa? Ele não se lembrava dos seus últimos dias e isso o assustava. O som estava alto. Muito alto, aliás. Mais do que qualquer ser humano fosse capaz de suportar. Além de estar tocando o tipo de música que ele não era nada fã.

As pessoas ao seu redor, todas elas da sua escola, agiam de forma estranha. Até mesmo engraçada. Era como se todos estivessem presos em uma fita cassete velha, que dava altos e avançava rapidamente alguns segundos.

Renato esfregou – que já estavam começando a ficarem suadas – na calça, foi difícil secá-las naquele tecido meio algodão, meio sintético. Ele franziu a sobrancelha e decidiu explorar o local. Precisava descobrir o que estava acontecendo.

Alguém passou correndo e esbarrou nele. Era um garoto bonito do primeiro ano, Ricardo o conhecia dos corredores da escola. O menino disse alguma coisa, mas foi impossível entender em meio àquela barulheira infernal. Renato retomou sua caminhada exploradora e, de repente, tudo ficou lento ao seu redor. As pessoas, que até bem pouco tempo, movimentavam-se com gestos rápidos passaram a se mover como se estivessem no espaço. Alguém escorregou e deixou o copo com refrigerante cair. Era possível ver o líquido se desfazendo em pequenas gotas no ar e realizando um baile multicolorido antes de cair no chão.

Renato odiava situações novas. Gostava de estar no controle. Sempre ficava tímido quando era colocado diante de alguém ou alguma coisa que ele não conhecia. Seu visual vampiresco era, na verdade, uma grande carapaça, um escudo para protegê-lo das ameaças externas (leia-se outros seres humanos).

Ainda com o mundo a sua volta girando em câmera lenta, o olhar de Renato foi atraído para um rapaz a uns quatro metros de distância. Ele estava de costas conversando com alguém, tinha os ombros largos e atraentes. Como em uma novela barata de TV, o cara virou-se lentamente e o coração de Renato acelerou. Wesley exibiu aquele sorriso de dentes perfeitos e foi em direção a Renato. À medida que o cowboy se aproximava, todo o corpo de Renato, cada célula, cada átomo entrava em ebulição.

Os dois ficaram frente a frente, poucos centímetros os separavam. O perfume de Wesley atingiu Renato em cheio e fez sua cabeça girar. Era impossível ser racional na presença daquele cowboy.

- Estava te esperando – disse Wesley e nesse momento, magicamente a música pareceu não atrapalhar a conversa deles.

- Me esperando? Por quê?

- Porque nós combinamos de nos encontrar aqui. Ou você se arrependeu de ter me convidado?

- Eu te convidei?

- Claro que convidou. Disse que queria retribuir meu convite para a quermesse – Wesley deu uma boa olhada ao seu redor. – Confesso que este não é bem meu ambiente, mas até que estou gostando.

Renato franziu a testa, estava confuso. Muito confuso mesmo. Nada ali fazia sentido. O que ele estava fazendo em uma festa na quadra da escola? Que festa era aquela? O que Wesley estava fazendo ali?

- Tem certeza de que nós combinamos isso?

- Absoluta. Olha aqui – Wesley retirou o celular do bolso, tocou na tela, que se iluminou em seguida, fez alguns movimentos e começou a ler. – "Vai ter uma festa na escola amanhã, não quero ir sozinho, você pode ir comigo? Lembre-se que fui naquela quermesse contigo, você me deve uma. Ass. Renato" – Wesley voltou a colocar o celular no bolso. – Achei fofo você me convidar para sair, tudo bem que aquele último argumento era desnecessário. Eu viria contigo de qualquer jeito, bastava convidar. Não precisava apelar para a dívida que eu tinha com contigo – ele riu.

Entre Meninos (Romance gay) - Concluído Where stories live. Discover now