Cap. 06 - Um convite surpresa

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O domingo estava chuvoso, Renato acordou por volta das 11h30, esticou-se na cama, observou a água batendo forte na janela e pensou em ficar mais um tempinho enrolado no edredom. Na verdade, ele teria ficado ali o dia todo, curtindo uma preguiça gostosa, se não fosse a fome que insistia em deixá-lo desconfortável. Entre ficar deitado e acalmar o estômago, que insistia em lhe avisar que estava vazio, o rapaz decidiu pela segunda opção.

Renato saiu do quarto, desceu as escadas e passou pela sala completamente vazia. A casa estava mergulhada num silêncio estranho e inédito. Desde que chegaram à fazenda da avó, Susy transformara o local em um grande salão de festa: sala, corredores, sala de jantar, biblioteca; em qualquer lugar, a irmã caçula ligava aquele maldito dock station, que ganhara do pai, plugava o celular e colocava sua playlist horrorosa para tocar. Um verdadeiro inferno que acabava obrigando Renato a fugir para seu quarto ou para algum lugar fora da sede da fazenda. No entanto, naquela manhã chuvosa de domingo, não havia nenhum sinal da irritante Susy pela casa. Nem dela, nem da mãe, nem da avó. Não havia sinal de vida naquele lugar. No entanto, mesmo não vendo nada que lembrasse a irmã por perto, Renato achou melhor não comemorar. Susy tinha um faro incrível para aparecer e estragar seus momentos de felicidade.

Renato entrou na cozinha disposto a devorar o mundo. Estava tudo muito arrumado e limpo. O velho fogão à lenha impecavelmente organizado, os pratos empilhados no armário de madeira, os copos em seus devidos lugares. Onde estaria todo mundo? Era domingo, Judite provavelmente estaria de folga, mas e sua família? Será que haviam tirado folga também? Já era quase meio-dia, era para ter alguém preparando o almoço. Pelo visto tinham esquecido dele, Renato sentiu-se meio que abandonado. Esquecido naquela casa gigantesca.

Sem entender o que estava acontecendo ali, ele pegou a garrafa térmica sobre a mesa e balançou, estava cheia. Ufa, menos mal, pelo menos não ficaria sem café. Havia bolo e pão caseiro também; ou seja: também não morreria de fome. Já estava no lucro. Pegou um pedaço generoso do pão de milho e uma fatia considerável do bolo do mandioca, encheu uma caneca de café com leite e sentou-se para comer. Ficou ali parado alguns minutos saboreando aquelas guloseimas, enquanto observava a chuva lá fora. De repente, veio-lhe a ideia de que ficar sozinho talvez não fosse algo tão ruim. Estava precisando de um pouco de sossego. Comeu mais um pouco do bolo e desejou que no apartamento deles, em Paraíso, tivesse alguém como Judite, uma cozinheira, como dizia a avó "de mão cheia", para fazer aqueles quitutes maravilhosos. Mas não, em Paraíso, sua família vivia à base de comida congelada ou enlatados. Algo, no mínimo irônico, visto que em sua casa vivia uma médica, porém sem qualquer talento para cozinhar.

Embalado pelo som da chuva lá fora, Renato pensou no corre-corre que era a vida da mãe. Não podia culpá-la pela alimentação péssima que ele e Susy tinham. No início, quando os filhos eram pequenos, Joana tentou estabelecer uma dieta saudável para os dois; mas o pai, que vivia sobe o mesmo teto na época, boicotava a esposa e, sempre que ela não estava por perto, entupia os filhos de refrigerantes, hambúrgueres e salgadinhos industrializados. Uma catástrofe. Quando Joana, tomou conhecimento, já era tarde e os filhos já tinham um paladar viciado. Pobre Joana. Renato riu lembrando das várias tentativas de Joana em mudar o comportamento alimentar dos filhos. Tudo inútil. Diante dos fatos, ela relaxou. Depois, quando se separou do marido e precisou cortar as despesas (leia-se empregada doméstica), Joana adotou as comidas industrializadas, resolvendo assim vários problemas, como a falta de tempo para preparar as refeições dos filhos.

Depois que terminou a fatia de bolo de mandioca, Renato passou para o pão de milho, que estava particularmente incrível. Renato comeria tudo, mas era melhor se controlar. Não queria se tornar um Elvis na vida. A imagem do amigo gordinho e abusado invadiu sua mente. Elvis não tinha nenhum problema com o sobrepeso, não mesmo. Aliás, se havia alguém na face da Terra com uma autoestima maior do que a de Elvis, Renato não tinha conhecimento. Lembrou, do nada, da vez em que a professora de Educação Física, olhando-o de cima a baixo, sugeriu que ele ficasse no banco de reservas durante um jogo de futebol. Elvis encarou aquela mulher, magra como uma vareta e alta como um poste, também de cima a baixo e começou:

Entre Meninos (Romance gay) - Concluído Where stories live. Discover now