Cap. 37 - A vida pode ser maravilhosa.

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A Cidade Universitária de Paraíso era um conjunto habitacional com vários prédios de quatro andares, todos iguais com suas paredes de tijolos amarelos aparentes no passado e hoje cobertos de um tom esverdeado resultado do musgo acumulado durante os vários anos de exposição à umidade da região. Cada prédio comportava quatro apartamentos por andar e em cada um deles viviam entre quatro e oito alunos, dependendo da quantidade de dormitórios que o imóvel possuía.

O prédio 15 é o último da rua Darcy Ribeiro, um dos mais conservados. Nele, o apartamento 202 (com apenas um quarto), tornou-se o novo endereço de Wesley.

O aparelho da TV a cabo, jogado no chão de madeira, marcava 15h20, quando Renato retirou alguns livros de uma das várias caixas de papelão espalhadas pela sala e entregou a Wesley, que ajeito, cuidadosamente, os calhamaços na estante surrada de madeira. À medida que o móvel ia se enchendo de livros, suas prateleiras formavam um arco para baixo, dando a sensação de que ele ia despencar a qualquer momento.

- Tem certeza de que essa estante vai aguentar tudo isso? – quis saber Renato.

- Ela precisa aguentar. É a única que temos no momento.

- Falando nisso, você já ocupou quase dois terços dela... e os seus companheiros de quarto? Onde eles vão colocar os livros deles?

- Meus companheiros de quarto não são muito chegados em livros.

Renato franziu a testa. Sim, ele era capaz de imaginar que alguns universitários não gostassem de livros, afinal nem todo mundo gosta, mas o difícil era acreditar que eles não tinham livros, mesmo não morrendo de amores por tais objetos. A Universidade de Paraíso sempre fora famosa pelo nível de ensino que oferecia, fama essa diretamente ligada à quantidade de artigos científicos, pesquisas, revistas especializadas e – claro – livros que os professores obrigavam seus alunos a lerem. Diante disso, era estranho imaginar universitários que não carregavam uma biblioteca particular para cima e para baixo.

- Tá zoando, né? – perguntou, incrédulo, Renato.

- É sério. Já conversei com eles e se juntarmos os livros que os outros três trouxeram, não ocuparia nem uma prateleira.

- Como isso é possível?

- Acho que eles trouxeram apenas as obras pedidas nas grades dos cursos deles neste semestre. – Wesley parou um pouco, colocou a mão na cintura e observou a estante com quase dois terços do espaço preenchidos. – Eu que sou um pouco exagerado. É muito livro para uma pessoa só.

- Mesmo que eles tenham trazido apenas o que foi pedido, acho estranho que seja tão pouco – Renato franziu a testa. – Agora, sobre você ter muitos livros, não acho que seja tanto assim, não. Mesmo porque, nunca temos livros suficientes.

Wesley concordou com a cabeça.

- Isso é verdade... mas, eu vou fazer medicina veterinária. Acho que não tinha necessidade de trazer tantos livros literários.

Renato retirou um exemplar de Deuses Americanos de dentro da caixa.

- Tinha, sim. Você não ia deixar Neil Gaiman sozinho em Rio das Pedras, né? Ou ia? – perguntou Renato, exibindo o livro para o cowboy.

Wesley pegou o livro e passou a mão, carinhosamente, sobre a capa.

- Na verdade, este aqui eu já até li... mas realmente fiquei com dó de deixá-lo para trás. Nunca se sabe quando a gente vai sentir aquela fissura para reler Gaiman...

- Concordo plenamente... você fez muito bem em trazer o senhor Neil contigo... ele e... – Renato parou e olhou ao redor. – ... sei lá, mas esse monte de gente espalhada em, tipo, cinco caixas...

- Não disse que tinha exagerado?

- Talvez só um pouquinho – brincou Renato.

Wesley balançou a cabeça.

- Em minha defesa, quero dizer que o material do meu curso também está nestas caixas... então, pensando bem... não foi um exagero tão grave assim.

Renato deu de ombros.

- Se você está dizendo, eu assino embaixo.

- Obrigado por concordar comigo, senhor – brincou Wesley.

- De nada – respondeu Renato no mesmo tom. – Vem cá, já se acostumou com a ideia de dividir um apartamento com outros três desconhecidos?

Wesley pensou por alguns segundos, fez uma careta e sorriu.

- Tranquilo. Conheci os meninos naquela semana que vim fazer a matrícula e a gente já se deu bem.

- Que bom.

- Eu não sou do tipo que causa uma má impressão à primeira vista, então acho que eles foram com a minha cara também.

- Convencido você, hein? – Renato deu uma piscadinha para o peão. – Bem, esta aqui acabou, vamos para outra caixa.

Renato levantou-se para buscar mais livros e, quando passou por Wesley, foi puxado pelo rapaz. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, o cowboy começou a beijá-lo lentamente. Renato se entregou e os beijos vieram seguidos de mãos que exploravam os seus corpos. E um calor quase febril.

- Tava morrendo de saudade – sussurrou o Wesley.

- Nem me fala.

Wesley passou sua barba malfeita suavemente pelo pescoço de Renato, beijando seu queixo, maxilar e boca. As mãos de Renato percorriam a lateral do corpo musculoso do cowboy, sentindo a pele quente do rapaz em seus dedos.

Enquanto passeavam pela sala, como se fossem apenas um ser, Renato e Wesley tropeçavam aqui e ali nas várias caixas de papelão espalhadas pela pequena sala sem se preocupar. Renato então sentiu suas costas baterem contra a parede, ficando preso entre a barreira de concreto e o delicioso corpo do peão. Os meninos riram. Um riso cortado entre lábios grudados.

Ofegante, Wesley retirou apressado a camisa, quase arrebentando os botões, para, em seguida, ajudar Renato a retirar sua camiseta. O cowboy olhou com olhos de desejo o corpo magro e branco de menino diante dele e, mais uma vez, começou a beijar o seu corpo. Descendo da boca de Renato até seus mamilos e retornando para beijar seus lábios.

- Estava precisando muito disso – disse Wesley ao pé do ouvido de Renato.

- Eu também.

Wesley abriu o zíper da calça de Renato e partiu para desabotoá-la.

- E o seus colegas? – sussurrou Renato, ofegante.

- O quê que tem eles?

- E se algum deles aparecer de repente?

- Eles só chegam amanhã.

- Tem certeza?

- Absoluta!

- Ótimo! – sorriu Renato, trêmulo. – As camas já estão montadas?

Wesley roçou levemente seus lábios sobre o de Renato, segurou seu rosto e beijou-lhe com força. Renato sentia o hálito quente do cowboy embriagando-o.

- Quem disse que precisamos de cama?

Renato sorriu e começou a tirar a calça apertada do seu peão.

Entre Meninos (Romance gay) - Concluído Where stories live. Discover now