Cap. 42 - MEU MUNDO GIRA POR VOCÊ

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Wesley voltou do balcão trazendo duas taças grandes de sorvete, colocou uma delas em frente a Renato e se sentou pousando a segunda taça à sua frente. Renato pegou a colher, mexeu o sorvete, mas não pareceu muito empolgado. A cara de preocupado e a testa franzida ainda estavam ali. Wesley encarou o namorado e achou melhor tentar espantar aquela nuvem cinza que pairava sobre a cabeça dele.

- Relaxa, garoto – pediu Wesley –, talvez você esteja exagerando.

Renato encarou Wesley, um misto de agradecimento e incredulidade. Primeiro por perceber que o namorado se preocupava com ele, segundo por achar que Wesley não tinha percebido a gravidade da situação. Assim que o cowboy o encontrou na saída do cinema e percebera que Renato não estava lá muito empolgado, o rapaz acabou tendo que revelar o que ocorrera mais cedo em sua casa.

Wesley ouviu cada palavra que Renato falou sem emitir opinião. Vez ou outra, ele soltava um "sei", ou um "entendo", nada mais do que isso. Tocado pela tensão de Renato, o peão convidou o amado para tomar um sorvete, um café, ou qualquer outra coisa. Renato preferiu a primeira opção, sem pensar muito bem no que estava fazendo.

- Não estou, não. – garantiu Renato, finalmente. – Eu conheço a minha mãe. Ela está desconfiada de alguma coisa.

Wesley deu de ombros.

- Talvez seja melhor assim, talvez seja a hora de você abrir o jogo com ela.

- Tá me zoando, né?

- Não. Estou falando sério. Vai que tudo isso seja um sinal dos céus para você tomar uma decisão.

- Eu não acredito em sinais divinos, Wesley.

Wesley meneou a cabeça.

- Eu sei... mas tem hora que a vida nos empurra para onde ela quer. E, tipo, às vezes nem é tão ruim assim. Já pensou que sair do armário para sua família possa até ser uma boa?

- Você faz parecer tão fácil...

- Não foi isso que eu quis dizer... até porque eu sei que não é nada fácil – Wesley colocou sua mão direita sobre a esquerda de Renato. – Mas, às vezes, a gente sofre por antecipação.

- Meu pai ia surtar...

Wesley pensou um segundo. Não estava a fim de forçar a barra. Ele sabia melhor do que ninguém que família era coisa complicada. No fundo, cada um sabe a hora certa para fazer a coisa certa. Ele confiava no julgamento do namorado para tomar suas próprias decisões.

- Bem, talvez a sua mãe só esteja mesmo a fim de conversar mais com você. Tipo uma aproximação. Nada tão sério, entende?

Renato finalmente experimentou o sorvete.

- Ok, mas e a história do meu moleskine?

- Pois é...  você jura que não o esqueceu na fazenda. Então, quanto a isso, não sei o que pensar.

- Eu tenho certeza de que a Suzy está metida neste sumiço.

- Mas você não pode provar?

- Não, não posso.

- Eis aí o dilema...

- Garota insuportável – disse Renato, quase sussurrado.

Wesley concentrou-se em seu sorvete, fez-se novamente um silêncio na mesa e, por um instante, pareceu que os dois não tinham nada mais para falar. A mente de Renato era um computador girando e girando, buscando explicações para as coisas pelas quais estava passando. Seu caderno de desenhos (comprometedores) desaparecido e o súbito interesse de Joana por sua vida eram muitas novidades para um dia só.

- E o filme? – Wesley quebrou o silêncio.

- Oi?

- Como foi o filme?

- Foi legal... era uma comédia romântica, escolha do Elvis – Renato revirou os olhos, como se pedisse desculpas pelo gênero do filme – você bem que podia ter ido ver com a gente.

- Não dava mesmo, eu achei que ia ficar a noite toda preso àquele trabalho. Mas ainda bem que terminei de preparar tudo e pude vir te encontrar – Wesley sorriu e Renato não conseguiu ficar imune àquele sorriso lindo.

- Você é a única coisa boa na vida – disse.

Wesley fez que não com a cabeça.

- Não diga isso.

- Mas é sério! Minha família é um saco. Ainda bem que você apareceu.

- Nessa família, que é um saco, podemos incluir a pobre dona Vanda também?

Renato deixou escapar um risinho de alívio.

- Não. Com certeza, não. Vanda foi outra grande e grata surpresa que tive este ano.

- Viu só? – Wesley fez gesto amplo com as mãos – Nem tudo está perdido.

- Talvez você tenha razão.

- Pode apostar que tenho. – Wesley inclinou-se na direção de Renato. – E outra coisa: agora estamos juntos. Você é muito importante para mim... vamos superar qualquer problema e vamos seguir sorrindo.

- Não disse? Você foi... quer dizer... você é o melhor presente que recebi. Além de ser fofo.

Wesley voltou a sua posição anterior.

- Não vá achando que sou um bom menino, meu caro. Eu não sou. – brincou Wesley.

- Nossa! Que medo! – devolveu Renato no mesmo tom.

**

Misturado ao grande número de frequentadores do shopping, quase invisível na multidão, Manuel observava o filho e o peão quase se pegando em público. Furioso, ele virou e se afastou dali.

Entre Meninos (Romance gay) - Concluído Where stories live. Discover now