CAPITULO 3 - Tobias

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Perdido em meus pensamentos, percebo que perdi totalmente a noção da hora, isso tem ocorrido constantemente, já até me acostumei.

Confiro o relógio e são meia noite, mas estou totalmente sem sono, então algo me ocorre.

Vou até o parque dar uma volta, espairecer um pouco a mente, lá me sinto mais perto dela.

Vou até o banheiro e tomo um banho frio, saio do banho e ponho minha calça de couro preta, minha camiseta branca, uma jaqueta também preta e minha bota de couro marrom.

Pego as chaves do jeep que estão sobre a mesa da cozinha e quando me viro para abrir a porta e partir para o parque, Evelyn interrompe meu ato.

__ Tobias!?

__ Oi. - respondo um pouco seco.

__ Onde vai a essa hora? - preocupada ela quis saber.

__ Eu to sem sono e decidi dar uma volta no parque, pra espairecer a mente, espantar os maus pensamentos. - respondo tentando ser convincente, mas acho que não a convenceu, nós podemos ter ficado muito tempo distantes, mas ela nunca deixou de ser minha mãe e instinto de mãe não costuma falhar.

__ Tobias, por que faz isso consigo mesmo?

__ Isso o que? - sei do que ela está falando, mas prefiro fingir que não.

__ Não se faça de desentendido Tobias, há tempos estou o observando. Não come, não dorme, não sai a não ser que seja para trabalhar, sinceramente, eu estou muito preocupada com você. - ela diz com um olhar baixo e triste, como se a minha dor fosse a dela também.

__ Não há motivo pra se preocupar Evelyn, eu estou bem. - na verdade não estou e ela sabe disso.

__ Tobias, por que insiste nisso? Fica se torturando, remoendo o passado, já se passaram 3 anos e nada de você seguir em frente, nada de você se libertar dessa dor. Você acha que ela gostaria de vê-lo assim? - ela me olha e nesse momento, as lágrimas inundam meus olhos, não quero chorar.

__ Não, na verdade, acho que ela não gostaria mesmo de me ver mais, ela não gostaria de me ver de jeito nenhum, ela não pensou em mim quando deu sua própria vida pelo maldito Caleb, que a entregou de bandeja para a sua própria morte! Como posso viver se a minha razão morreu? Como posso pensar em seguir em frente se ela levou consigo todas as minhas esperanças Evelyn? Eu nunca vou conseguir superar, nunca! - nesse momento, é inevitável segurar as minhas lágrimas e elas jorram dos meus olhos numa cachoeira sem fim.

__ Tobias, não diga isso, todos sabemos que ela o amava mais que tudo. - Evelyn se aproxima de mim e com certo receio de que eu recuse, ela me abraça e eu a aperto inesperadamente, eu a aperto com força entrelaçado em seus braços, a única coisa que consiga fazer é abraçá-la e chorar em seus braços, como fazia nas vezes que meu pai me surrava, voltei aos meus tempos de criança e me permito apenas chorar, acabo desistindo de ir ao parque e fico por ali mesmo, agora Evelyn está sentada no sofá e eu estou com a cabeça em seu colo, como quando era criança e sinto novamente minha confiança nela voltar como uma rajada de vento sobre mim.

__ Obrigado Evelyn, obrigado por estar aqui. - digo ainda chorando e olhando em seus pequenos olhos castanho-claros.

__ Eu sempre estarei aqui Tobias, sempre estarei pronta para consolá-lo. - ela responde acariciando o meu cabelo.

Nunca pensei que sofreria tanto por algo, logo eu que sempre mantive a minha pose de durão, Tobias, o valente destemido, dai uma menina chega e derrepente essa menina toma conta do meu coração de uma tal forma, sinto que sem ela não posso mais ter aquela sensação de ''liberdade'', pelo contrário, me sinto mais preso que nunca, preso a ela, preso as lembranças e as náuseas que tudo isso me traz, meu Deus, até quando vou sofrer dessa forma?

Pego no sono ali mesmo, no colo de Evelyn e pela primeira vez depois da minha infância, pude sentir confiança, carinho e amor nos braços dela, pude perceber também que eu a amo mais do que imaginava e que ela não é apenas a Evelyn, ela é a minha mãe.

***

No dia seguinte, acordo no sofá e Evelyn não está mais aqui, decido levantar e procurar por ela.

__ Mãe? - a chamo de mãe depois de tanto tempo e sinto algo bom dentro de mim, ela está pondo a mesa do café e me olha no momento em que a chamo de mãe, seus olhos lacrimejam e ela diz surpresa:

__ Me chamou de mãe! - ela me olha admirada.

__ Sim, porque você é a minha mãe. - dou-lhe um abraço e um beijo na testa, e nesse momento sinto um pingo em meu braço, ela está chorando... __ Está chorando?!

__ Sim meu filho, mas dessa vez é de emoção, esperei tanto tempo pra ouvir isso de sua boca, não o ouvia me chamar de mãe desde que era criança. - ela pisca para afastar as lágrimas.

__ Me desculpe por tê-la magoado todo esse tempo.

__ Claro meu filho, claro.

__ É... Eu... Eu... Eu te amo. - demorou, mas saiu e ela chora ainda mais.

__ Oh meu filho, eu te amo demais! - nos juntamos e damos um longo e caloroso abraço. Depois de tanta emoção, nos sentamos e tomamos café juntos, bem perto um do outro, queremos aproveitar mais tempo juntos, queremos recuperar o tempo perdido.

__ Vê se sai um pouco filho, o Zeke ligou.

__ Vou sim mãe, livrar minha mente de tantos problemas, acho que mereço.

__ Claro que merece meu amor. - ela diz acariciando meu rosto.

__ Mais uma vez, obrigado mãe. - digo e logo após dou um beijo em seu rosto.

__ Imagina, meu amor.

__ Agora vou encontrar Zeke.

__ Isso... - ela responde sorrindo.

Tomo um banho, ponho calça jeans azul, uma blusa branca, jaqueta de couro preta e minha bota vinho, tenho uma certa fissura por botas, ela me fez gostar... Balanço a cabeça a fim de afastar o pensamento, pego as chaves da pickup e me dirijo a porta.

__ Mãe, to saindo. - dou um grito a fim de avisá-la que estou saindo.

__ Vai com Deus! - ela grita de dentro do quarto.

***

Chegando ao parque, encontro Zeke, Cara, Caleb, Christina, Matthew e Shaunna, eles parecem estar se divertindo, estão rindo estéricamente, fazendo brincadeiras e nem parecem notar minha presença, ao que vou me aproximando, eles passam a me perceber e Zeke vem correndo ao meu encontro, literalmente se jogando em meu colo.

__ Irmão, que saudade! - Zeke grita, como se nós não nos vissemos há cem anos.

__ Não nos vimos a um dia e já está com saudades amorzinho? - falo num tom de brincadeira e ele a retribui.

__ Claro doce, não vivo sem você. - é inevitável, todos caem na gargalhada e eu vou na onda.

Logo estou me juntando a eles e tentando, pelo menos, disfarçar a minha dor, estou tentando fazer isso por ela, pra que ela sinta orgulho de mim onde quer que ela esteja.

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