O gênesis

103 7 0
                                    

Depois de almoçar com Andrew, arrumei a cozinha e fomos para a varanda. Conversamos, era um dia frio, de chuva, sentamos na escada e falamos sobre o colégio, sobre como seria daqui pra frente.
- Não acha que deveria estudar? - eu digo
- Pra quê? Sei das coisas. - nós rimos
- Pra parecer ser um "garoto normal"
- É, posso pensar nisso. - Ele coloca o braço envolta do meu ombro.
- E sobre minha mãe? Meu tataravô?
- O que quer fazer sobre isso?
- O que for preciso.
- Quando? - eu me levanto
- Agora.
- Agora?
- Sim. - ele se levanta, fingindo indisposição. - Quero acabar com isso de uma vez, e... - eu me interrompo - ter minha mãe de volta... voltar a ser normal, ter uma família normal. - ele coloca a mão em meu ombro, em forma de consolo. Entramos em casa novamente e Andrew fecha a porta atrás de si.
- Vamos por qual ? - ele pergunda, fechando as cortinas, deixando o cômodo escuro.
- Sala de visitas. - Ele olha para mim e confirma com a cabeça. - Vou pegar o diário. - subo as escadas correndo, entro no quarto e vasculho as gavetas do guarda-roupas. "Onde eu deixei?", penso, "Bolsa do colégio". Abro um armário, pego a mochila e acho o diário, pego também uma caneta e desço as escadas.
Andrew já estava com as asas à mostra, as mesmas haviam rasgado o blusão com palavras alemãs.
- Vamos? - ele pergunta. Eu afirmo com a cabeça e abro o diário.
"Quero ir para o gênesis da maldição". Escrevo e fecho novamente o diário. Olho para Andrew e ele me estende a mão, caminhamos até a sala de estar, os espelhos já líquidos, gelatinosos. Seguro sua mão e ele entrelaça nossos dedos. Nos olhamos, depois nos voltamos ao espelho, já parados na frente do mesmo. Ele dá o primeiro passo. Seguido por mim, e entramos de vez no gênesis do meu pesadelo.

Enquanto Eu FicarWhere stories live. Discover now