Volto para casa pensando na garota que havia visto. Prestes a se cortar. Eu queria poder ir pessoalmente ajudá-la. Afastos esses pensamentos e entro em casa.
Andrew está sentado no sofá, e se levanta logo que me vê, me abraça
- Onde você estava? - ele pergunta
-Eu descobri o que devo fazer -respondo quase imediatamente
-Eu fiquei preocupado
-Me desculpe- digo e nos encaramos por alguns segundos. Sou a primeira a desviar o olhar.
-Tenho que trabalhar- ele diz, colocando a mão em meu queixo, fixo meus olhos novamente nos seus, eles têm uma expressão que parece triste e cansada. Os olhos de Andrew não eram assim.
-Está tudo bem?
-Claro que está - ele diz, e se afasta um pouco, depois sorri.
Ele pega sua jaqueta e se dirige até a porta. Eu o acompanho com os olhos. Ele gira a chave e abre a porta. A brisa fria da noite invade a sala de estar.
-Andrew?- o chamo quando ele está quase saindo de casa e ele se vira para mim novamente. - Eu amo você - digo, e ele sorri. Eu retribuo o sorriso
-Também amo você, Meri- ele diz, ainda sorrindo, seus olhos não me passavam mais tristeza, como se ganhassem vida novamente.
Ele então se vira e sai, fechando a porta e a trancando por fora. Lembro-me que minhas asas ainda estão expostas. As recuo para meu corpo novamente. Subo as escadas enquanto faço um coque frouxo no cabelo.
Vou até o banheiro e lavo o rosto. Me olho no espelho, noto que meu cabelo está mais claro, continua ruivo, porém, está mais claro. Ignoro aquele detalhe.
"Impressão minha", penso, e me olho novamente no espelho. Por cerca de un segundo vejo o reflexo de Cloe, da minha mãe e do meu pai. Sinto que lágrimas ameaçam cair.
Saio do banheiro e me jogo na cama. A porta que dá acesso à sacada está aberta.
Ouço um miado fraco. Logo após, um gato preto entra em meu quarto, me assustando, aparentemente ainda filhote. Eu me levanto e me aproximo, ele se assusta um pouco e recua até se acostumar com a minha presença. Depois, me deixa enfim tocá-lo. O acaricio por alguns segundos. Seus olhos são alaranjados e seu pelo é macio. O pego no colo e fecho a porta da sacada.
Deito-me na cama. O gato se deita perto de mim. Meu quarto fica silencioso.
-Será que eu estou agindo errado com Andrew?- pergunto para o vácuo ao meu redor, não sei bem se queria uma resposta.
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Enquanto Eu Ficar
FantasyTudo bem se tudo acabar amanhã, de hoje para amanhã é muito pouco. E sim, de todo pouco existe um universo. Existe um infinito entre hoje e amanhã. Viveremos hoje, somos tão jovens e tolos, sonhadores, como crianças inocentes deitadas em narcisos. V...