Boa leitura.
[Kora Nekane]
Toquei à campainha várias vezes assim que cheguei. Olhei as horas, visto que já estava escuro; 9:40 pm.
Ashton abriu a porta longos segundos depois e assim que me olhou ficou com uma expressão assustada.
- Kora, o que se passou? Já reparaste no teu estado?! - Ashton perguntou incrédulo, puxando-me para dentro de casa. Não hesitei e abracei-o assim que tive oportunidade.
- Kora, tu não podes continuar naquela casa. Não podes continuar a viver assim.- Ashton afirmou, enquanto me abraçava de volta.
- Não tenho outra opção.- declarei, desfazendo o abraço. Tanto o meu olho como o meu tornozelo estavam a latejar e a doer bastante.
- Vamos primeiro tratar desse olho, já falamos melhor sobre essa situação. - ele disse, puxando-me pelo pulso e levando-me até ao seu quarto. Sentei-me na sua cama, enquanto ele foi buscar o que era necessário para tratar das feridas.
Ele meteu-se de joelhos, metendo uma caixa branca ao seu lado. Abriu-a e tirou de lá um pedaço de algodão e um frasco pequeno que devia ser um antisséptico. Ele preparou tudo como devia ser e de seguida, dirigiu-se à minha cara.
Ashton, passou várias vezes com o algodão na ferida do meu olho e cada vez que ele carregava ligeiramente nela, doía-me bastante, mais do que se não tivesse tocado.
Honestamente, não estava a conseguir distinguir muito bem a dor física da psicológica; parecia que cada parte do meu corpo doía e que cada parte esta cansada de viver assim.
- Tens mais alguma ferida que precise de ser tratada? - ele perguntou, olhando-me. Assenti e puxei ligeiramente o tecido das ripped jeans que cobria o meu tornozelo. Vi o quão mau estado estava o meu tornozelo; tinha muito mau aspeto pois uma nódoa negra de dimensões consideradas grandes estava alojada naquela zona e para não bastar estava ligeiramente inchado.
Ouvi o Ashton a murmurar um ''Oh meu Deus'', antes de fazer o curativo.
Entretanto a minha cabeça dava voltas e mais voltas, tentando esquecer todas as coisas más que me tinham sido ditas hoje; tentava mentalizar-me que não era como o meu pai tinha dito, que eu era diferente, mas estava a ser complicado pois, a imagem do seu olhar de profunda raiva estava bem fixo na minha mente.
Os olhos transmitem todos os sentimentos reais que a boca não se atreve a dizer. Neste caso, ele disse e pelo seu olhar se confirmou as palavras amargas que saíram. Eu tentava esvaziar a minha mente mas parecia impossível.
- Está bem? - ouvi Ashton a dizer. Olhei-o com uma certa confusão.- Não ouviste nada do que eu disse, pois não?
Abanei a cabeça e baixei a cabeça, olhando para as minhas mãos, suspirando pesadamente.
- Eu disse que era melhor ficares uns dias aqui em casa, para teu bem.- ele repetiu, sentado-se ao meu lado. Reparei que a caixa branca já não estava no chão e o meu tornozelo tinha uma ligadura.
- Não posso.- respondi.- Vai ser pior, acredita. Ele tem o prazer de me fazer sofrer, ele gosta de me ver magoada. Aposto que se saísse de casa, ele procurava-me e fazia bem pior.
- Mas, então quando é que isto vai parar? - ele questionou-me. Encolhi os ombros.
Muito provavelmente isto tudo iria acabar, quando houvesse uma tragédia naquela casa, na pior das hipóteses.
- Já comeste alguma coisa? - Ashton voltou a falar e eu abanei a cabeça.
- Não tenho fome.- afirmei.
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Jet Black Heart; hemmings [AU]
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