22 | Room To Breathe

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You Me At Six

Boa leitura.

[Kora Nekane]

- E tens dinheiro para isto? 

- Achas que se eu não tivesse, estaria aqui?- perguntei retoricamente já irritada com o interrogatório todo. 

- Tudo bem.- o rapaz entregou-me um maço de cigarros e eu em troca entreguei-lhe o dinheiro. Murmurei um ''obrigado'' e fui-me embora por entre os becos estreitos entre as casas.

Quem pensa que a auto-destruição é uma forma nova de criar, está errado. Ninguém cria algo a partir uma pessoa envenenada ou até mesmo morta ou de uma pessoa cujo sangue foi derramado por entre feridas, ou será que isso não conta?

Isso é só uma maneira de romantizarem as situações. 

Nestes últimos anos, o que eu tenho feito apenas é destruir-me aos poucos. A cada dia que passa destruo-me mais um pouco. Já não me preocupo comigo como antes de me preocupava. 

Não ando a comer como devia, não a dormir o suficiente, trabalho para ter algum dinheiro para sobreviver, fumo e bebo demasiado. Parece que a auto-destruição é algo que já fazer parte de mim há muito tempo e não consigo calcular o tempo que demorará até chegar ao fim. 

Esta seria a minha nova aventura e outro mau hábito que viria até ao meu encontro. Aliás, nós é que vamos de encontro com os maus hábitos, nós é que fazemos as escolhas. 

Fui até à praia que a esta hora estava, muito provavelmente, deserta. Sentei-me não muito afastada na areia molhada. O som das ondas a rebentar provocava um barulho agradável nos meus ouvidos.

Abri o meu novo maço de cigarros e tirei de lá um, acendendo-o de seguida. Inspirei fundo e fechei os olhos por uns segundos com o objetivo de me acalmar. 

Sentia que os meus olhos estavam inchados de cansaço e a minha cabeça pesava como se fosse uma bola de chumbo. 

Pergunto-me demasiadas vezes porque é que a vida tem de ser tão injusta com umas pessoas e tão justa para outras. Não encontrava qualquer tipo de explicação para o tipo de vida que eu levava; não me refiro às minhas escolhas, até porque eu tenho consciência do que faço, mas refiro-me ao tipo de vida que me proporcionaram. Como por exemplo, os meus pais tratarem-me da forma como me tratam, das escassas posses económicas, entre outras coisas. 

Se alguma vez tinha sido feliz? Apenas em criança, certamente. Só fui feliz nessa altura, porque a inocência era algo que me cegava; como se eu tivesse tido uma venda nos olhos e que de repente, de um momento para o outro, ma tiraram, sem qualquer aviso prévio.

Sinto-me extremamente magoada por dentro, não só psicologicamente mas fisicamente. Doi-me o coração, mas não é uma dor normal, é uma dor intensa que me sufoca. Esta tristeza sufoca-me, sinto o coração apertado. 

Já nada tem interesse para mim, como era antes. O meu corpo pesa, apesar de ser magro. Cada respiração é mais dificultada. Muito sinceramente, sinto-me a morrer a uma velocidade incrível. 

Eu sei que há dias melhores que outros e que o que eu sinto é passageiro. Daqui a uns dias até posso estar a rir e a sentir-me bem, mas por enquanto, esta tristeza mata-me. Sinto que não sou respeitada o suficiente, sinto-me sozinha e devastada; principalmente, sinto que a minha vida não vai melhorar e que irei sempre estar neste ciclo vicioso de sentimentos.

Levei mais uma vez o cigarro à boca, sentindo-me mais leve e descontraída. Ri-me dos meus pensamentos, porque eu estava a ser bastante estúpida. 

Jet Black Heart; hemmings [AU]Onde histórias criam vida. Descubra agora