Nada

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Quando eu finalmente me recompuz, vi que minha mãe ainda estava ali, paralisada, apenas me observando, ela evitava de me olhar nos olhos, mas eu pude perceber que ela me olhava com pena, o que era horrível do mesmo jeito, eu odiava essa sensação, aliás, eu odiava tudo o que estava acontecendo.

- Você está melhor?

- Não mãe, eu não estou melhor, para de ficar perguntando isso toda hora, eu queria estar morta, por que você não me deixou morrer? - Falo entre soluços.

- Não fala bobagem Lara, você não pode entregar os pontos assim. - Ela diz baixo.

- Eu não tenho escolha. - Gritei voltando a chorar outra vez. - Vocês não me deram a opção de escolher se eu queria ou não passar por tudo isso... - Meu tom de voz aumenta gradativamente. - Eu não queria passar por nada disso, você acha que se eu podesse realmente escolher, eu preferia ser estuprada pelo meu próprio pai e ter que afastar todos a minha volta? Hem? Você acha que eu ia querer ser humilhada todo santo dia pelas únicas pessoas que deveriam me amar? Me responde mãe. Você acredita mesmo nisso? - Digo tudo ainda muito alterada.

Sua expressão era indescritível, eu não sabia definir muito bem se ela estava com medo e com raiva ou se tava assustada e incrédula, do nada a mão dela foi direto no meu rosto, senti uma ardência e fechei os meus olhos, eu dava tudo para não estar ali naquele momento, eu poderia estar em qualquer lugar, menos ali.

- Me respeita Lara, olha como você fala comigo. - Disse quase trincando os dentes.

- Eu tô respeitando.

- Falando essas coisas pra mim?

- Eu só to falando a verdade. - Disse entre os dentes secando as lágrimas.

- É por isso que ele te trata assim, você não tem escrúpulos Lara, você só fala merda, você não tem noção do que você está falando. - Ela se altera.

Eu realmente não conseguia acreditar no que estava ouvindo, mais uma vez ela estava me culpando, não dava para entender o que ela esperava de mim.

- Eu tinha 12 anos mãe, 12 anos, eu não tinha noção de nada naquele tempo, eu não queria passar por nada daquilo, pelo amor de Deus, eu era uma criança e vocês destruíram a minha vida. - Gritei me levantando da cama e a encarando cara a cara. - Você sabe o que é isso mãe? Você tem noção do que eu tenho passado todos esses anos? - Falo em um tom mais baixo, porém, um tom rude, eu não conseguia não demonstrar a raiva que eu sentia.

- Você nunca prestou Lara, essa é a verdade. - Ela fala sínica.

- Eu não me lembro de ter feito nada que te fizesse chegar a essa conclusão.

- Mas cheguei.

Eu a encarei por alguns instantes e então meu pai apareceu na porta do meu quarto.

- Você tem sorte que a sua mãe tem muita paciência com você. Eu já teria te dado uma surra bem dada.

- É só o que você sabe fazer. Vai em frente, me dá uma surra, faz o seu melhor. - Digo desviando o olhar e dando um sorriso sarcástico e involuntário.

- Você quer ver do que eu ainda sou capaz? - Ele ameaça entrar.

- Por que você não me mata logo? Vamos, acaba logo com isso. - Me irrito me aproximando dele.

- Porque eu preciso de você viva. - Sorri.

- Você é um imundo, eu odeio você. - Grito dando vários tapas no peito dele.

- Eu sou... O que... Você... Quiser. -Disse pausadamente agarrando o meu pescoço e me levando contra a parede, quase me levantando do chão. - E você ainda não viu nada.

Anjos Não ChoramDonde viven las historias. Descúbrelo ahora