Anjos Não Choram

Sem Sorrisos

Ao chegar em casa, me deparei com uma cena que preferia não ter visto, fiquei paralisada, imóvel, sem reação, acho que que por um instante eu parei de respirar, meu pai e minha mãe conversando amigavelmente na sala como se fossem grandes amigos, com direito a risinho e tudo, eu simplesmente congelei, não queria acreditar que estava vendo o que eu estava vendo, eu não estava acreditando que ele estava mesmo ali, ela havia prometido que não deixaria ele se aproximar de mim, ela deu a palavra dela, eu não estava acreditando naquilo, eu queria sumir dali, ligar pra minha madrinha, pra minha irmã, pra minha namorada, pra polícia, pra qualquer um, só não queira ficar ali perto dele. Era estranho estar no mesmo ambiente que ele, eu levei muitos minutos o encarando e ninguém também disse nada, chorei sem perceber enquanto olhava os três me encarando. 

- Filha, não chora, está tudo bem. - Ela diz se aproximando.

- Não mãe, não tá. - Disse quase sem voz. 

- Sobe e vai tomar um banho, vou esquentar seu almoço. - Ela diz tentando um sorriso.

- Não quero comer. - Respondo sem tirar os olhos dele.

- Mas você precisa minha filha, não pode... 

- Para de fingir que se importa, para de agir como se você realmente tivesse uma filha, porque você não tem e sabe muito bem disso. - Me alterei. 

- Respeita a sua mãe Lara. - Disse meu pai. 

- Vão se fuder todos vocês. E você... - Disse próxima dele. - Trate de ficar bem longe de mim. 

Nenhum deles disseram mais nada, eu simplesmente fui para o meu quarto e me tranquei no banheiro, não sabia fazer outra coisa que não fosse chorar, meu peito ardia, já estava com falta de ar, uma dor de cabeça insuportável e com medo, com muito medo para ser bem sincera, mas eles não precisavam saber disso. 

Uma meia hora depois, meu telefone tocou. 

- Oi. 

- Eu só mereço um oi mesmo? 

- Desculpa mana. 

- Lara, você está chorando? 

- Não. 

- Não mente Lara, eu te conheço. 

- Eu tô com muita dor de cabeça mana, só isso. 

- Eu vou aí, vou tomar um banho e comer alguma coisa e vou ficar um pouco com você. 

- Não Nanda, melhor não. 

- Por que não? 

- Eu vou tomar um banho também e vou deitar, mais tarde eu te ligo. 

- Lara, o que está acontecendo? 

- Nada. 

- Você prometeu que não ia mentir mais. 

- Não tô mentindo, juro. 

- Eu não acredito em você. 

- Você nunca acredita Nanda, de uns tempos pra cá você não tem me dado uma moral. 

- Você só sabe inventar história, como posso te dar moral desse jeito? 

- Nanda, eu vou tomar banho e deitar tá bom? Tô mesmo com muita dor e quero dormir, quando eu acordar te ligo. 

- Promete? 

- Prometo. 

- Tá bom então. Te amo, fica bem, qualquer coisa liga tá? 

- Tá bom mana, também te amo. Pode deixar. 

Eu entrei de baixo do chuveiro com roupa e tudo, não queria saber de nada, me sentei no chão do box e fiquei encarando a porta por muito tempo. Não sei o que eu esperava que acontecesse, apenas fiquei ali, até que bateram na porta.