Tempo

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Acordei sentindo meu corpo inteiro doer, um embrulho no estômago e uma vontade louca de chorar, tudo ao mesmo tempo, tentei levantar correndo, mas por motivos óbvios, encontrei muita dificuldade, fui para o banheiro, consegui chegar a tempo na beira do vaso, mas eu não tinha nada para botar para fora, só que meu organismo não queria aceitar isso, comecei a pôr um líquido verde para fora com um pouco de espuma, amargava e queimava a minha garganta, não sabia de onde tinha saido tanta coisa assim. Alguns instantes depois minha mãe entrou no quarto.

- Lara? Lara, o que você tem? - Ela pergunta entrando no banheiro.

- Eu tô bem. - Falo me levantando com dificuldade.

- Eu to começando a me preocupar com esses seus enjôos. - Ela diz parda me encarando.

- Eu estou bem mãe.

- Não Lara, você não está bem, nem um pouco. Eu fiz seu café da manhã, então desce e come alguma coisa. - Diz me dando as costas.

- Eu não quero.

- Quer sim.

Minha mãe me deixou sozinha no meu banheiro, então eu aproveitei e tomei um banho, meu corpo estava horrível, muitas marcas, cortes, muitas dores, eu mal conseguia me movimentar, tudo era limitado, tudo doía muito, depois de tirar os corativos alguns cortes voltaram a sangrar, eu me limitava a passar o sabonete apenas onde não havia ferida alguma, mas a água levava para o resto do corpo a espuma, me fazendo gemer de dor, eu só queria que tudo aquilo acabasse.

Depois do banho eu fui para o meu quarto e peguei meu celular para ver a hora, eram 7:15 da manhã ainda e já tinha uma mensagem da Nanda.

"Bom dia Anja, que bom que você está melhor, fiquei menos preocupada, se é que você está falando a verdade dessa vez. Só espero que você resolva sair dessa logo, por favor, não demora muito e quando você decidir tomar essa decisão, me procura, vou ficar feliz em poder te ajudar."

Eu queria responder, pedir ajuda, gritar, mas eu não podia, eu não podia meter ela nas minhas confusões. Joguei o celular pro lado e desci para tomar café, ou tentar, eu não queria comer, mas eu sabia que se pelo menos eu não descesse lá, minha mãe não ia me deixar em paz. Comi algumas frutas que estavam ao meu alcance e tomei um pouco de iogurte, ela me observou o tempo todo.

- Você tá sentindo alguma coisa além dos enjôos? - Pergunta me olhando de lado.

- Não, só muita dor e vontade de morrer mesmo, fora isso, acho que não. - Digo sem olhar pra ela.

- Para de brincadeira Lara, isso é sério, você desmaiou ontem.

- Eu sei, deve ter sido por ter perdido um pouco de sangue. - Brinco.

- Um pouco Lara? Você estava pálida quando eu entrei no banheiro, no chão tinha mais do que um pouco de sangue. - Ela se altera um pouco.

- Não exagera mãe.

- Não é exagero, você poderia ter morrido lá. - Diz irritada.

- Então por que não me deixou morrer? - Gritei com os olhos já cheios de lágrimas.

- Porque eu não posso. - Me encara.

- Não pode por quê?

- Porque eu não posso.

- Não tem porque, você me odeia mesmo. - Falo diminuindo o tom de voz. - Ah já sei, seu marido te mata se você deixar o brinquedinho dele morrer né? - Hironizo.

- Eu me importo Lara. - Ela diz manso me encarando.

- Não mãe, você não se importa. - Digo abaixando a cabeça.

Anjos Não ChoramWo Geschichten leben. Entdecke jetzt