Cemitério

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waiting up in heaven I was never far from you Spinning down I felt your every move...

(tarja turunem, i walk alone)

O dia estava cinzento e as árvores quase sem folhas,as poucas que ainda restavam eram de um tom amarelado,cores tipicas do outono em spring Valley.

Eu, Easter Harris, gosto do outono,das cores,do tapete de folhas sobre a relva, daquela bruma constante que paira sobre a cidade, emprestando a tudo um ar meio sobrenatural, costumo inventar histórias em minha mente na qual vivo um romance com um vampiro, tendo spring Valley como cenário. Vivo a inventar histórias, algumas anoto para usar futuramente em meu livro de estréia, o livro que me tornara uma escritora conhecida e com muitos fãs apaixonados por meus personagens.

Observei as marcas que meus tênis deixavam na terra enlameada da ruazinha que levava até o cemitério da cidade, pra onde me dirigia naquele momento, o cemitério de spring Valley era uma construção antiga, os portões eram de ferro maciço, altos e com a pintura original descascada,passei por eles e começei a caminhar entre os túmulos a procura da sepultura de meu pai. Ele estava fazendo aniversário naquele dia, 53 anos,se ainda estivesse vivo. Eu ainda era uma criança quando ele morrera,mas as lembranças dele era as mais vivas na minha memória e as mais felizes,naquela época eu sabia o que era ser importante para alguém.

Achei a sepultura, era um túmulo grande coberto por marmore, larguei sobre a lápide a sacola que caregava e tirei um esqueiro,uma velinha e um cupcake lá de dentro. o cemitério estava deserto e a visibilidade estava diminuida por causa da névoa, mas eu estava tão acostumada as visitas a sepultura de meu pai que não ligava para a paisagem pouco convidativa.

-olá papai- passei a mão sobre a foto dele, encrustrada no mármore.-tive saudades.

Me ocupei em limpar a sepultura com os materiais que costumava deixar ali,escondidos atrás de um vaso com lírios brancos. quando acabei a nevoa ja baixara ainda mais,peguei o celular do bolso do moletom, já passavam das cinco horas,as seis o responsável pelo local fechava os portões.

O ritual de aniversário, que eu repetia todos os anos foi rápido,acendi a vela e cantei a musica de aniversário,minha voz, embora baixa, ficou bem audível no cemitério deserto.

Me despedi de meu pai e tomei meu caminho de volta, agora um pouco ansiosa pra chegar a saída,era quase na hora de fechar,apressei o passo me desviando dos túmulos,estava a poucos metros da saida quando olhei para traz e o vi.

Forcei meus olhos,tentando ver mais claramente através da névoa, mas não pude lhe distinguir com precisão as feições, mas ele estava lá,bem ao lado de uma lapide com um anjo debruçado sobre os braços, como se chorasse,estava completamente imovel, os olhos presos em mim,ele realmente me olhava, e seus olhos não pareciam desse mundo,eles brilhavam de uma forma inumana.

Senti um arrepio,e o frio pareceu se intensificar, eu sabia que devia seguir para a saida, mas meus pés não pareciam querer me obedecer,e não me movi, quando o estranho começou a caminhar na minha direção,ele caminhava a passos lentos,quase calculados,estava bem próximo, mas a névoa só permitia que eu visse sua silhueta e aqueles olhos que pareciam se destacar ainda mais naquela paisagem cinzenta.

Parecia loucura mas me vi desejando que ele acabasse logo com a distância entre nós para que eu pudesse ver claramente seu rosto.

A Sétima FilhaWhere stories live. Discover now