Capítulo 4

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Emma's POV


As lembranças atingiram Emma como uma tempestade surgindo em um dia tranquilo de verão. Rápida e repentinamente, dezenas de vozes, diálogos e cenas invadiram sua mente ao mesmo tempo, deixando-a tonta. Mas uma voz se destacou em meio a todas as outras.

"Meu presente para você são boas memórias. Uma vida boa para você e Henry." Lembrou-se do desespero, dos sentimentos, da dor. "Você nunca o abandonou. Vocês sempre estiveram juntos". Um aperto de mão e arrepios. Mais dor. Regina aparecia em sua mente em diversas situações. E sua família. E Henry. Henry. Leu a placa verde que erguia-se diante deles. "Entrando em Storybrooke". Virou-se para o garoto, que tinha o mesmo olhar no rosto.

– Henry. Henry! Nós voltamos! - gritou ela, repleta de felicidade, abraçando-o - Nós estamos aqui!

– Sim, nós conseguimos! - exclamou ele em resposta - Nós conseguimos, mãe!

– Hã... Talvez um pouco de agradecimento fosse bom. - interrompeu Hook, a quem ela não tinha prestado atenção até então.

– Pode tirar o cavalinho da chuva, Hook. - respondeu Emma. - Você não vai conseguir um beijo dessa vez. Mas de qualquer forma, obrigada. Só uma pergunta... Como você fez isso?

– O café que vocês tomaram hoje de manhã. - respondeu ele - Eu coloquei em cada um uma gota de poção restauradora de memórias que a Regina fez. A poção demora algumas horas para fazer efeito, mas pelo visto funciona muito bem.

Mas Emma não estava mais prestando atenção. Sua mente tinha se voltado para outros pensamentos após ouvir o nome que Hook dissera.

– Regina. - disse ela - Oh meu Deus, Regina. Onde ela está? Onde está Regina? Eu preciso vê-la.

Sem esperar por uma resposta, saiu correndo em direção à prefeitura. Numa cidade como Storybrooke, nada era longe demais, e era impossível para Emma se esquecer daquele endereço. "Espere, Emma!" gritou Killian, mas ela ignorou. Continuou correndo enquanto gritava o nome de Regina. Podia não fazer muito sentido, mas ela precisava encontrá-la. Regina fora a primeira coisa que viera em sua mente, junto com um impulso incontrolável de procurar por ela. Ela estava ali. Não teria que passar o resto de sua vida sem ela, como pensara que ia ser, e isso era bom demais pra ser verdade. Rostos conhecidos olhavam assustados para aquela mulher passando por eles como uma flecha, mas ela não ligava. Agora que suas memórias tinham voltado, que Regina tinha voltado, ela faria qualquer coisa para encontrá-la.

Finalmente chegou à Rua Mifflins, onde a imponente mansão branca da prefeita erguia-se. Meio ofegante, começou a caminhar no caminho entre o jardim em direção à porta. Bateu três vezes e esperou. Seu coração batia forte no peito, ela sentia medo e alegria ao mesmo tempo. Não sabia o que estava sentindo por Regina, nunca tinha parado para pensar, só sabia que precisava seguir aquele instinto que levava-a até ela.

A porta se abriu, e seu coração quase parou. Mas não foi Regina quem encarou Emma do outro lado. Uma mulher de cabelos castanhos, levemente loiros, usando um vestido longo e vermelho, olhava para Emma com uma expressão confusa.

– Pois não? - perguntou ela

– Ah... - Emma estava confusa; nunca tinha visto aquela mulher na cidade antes, e nem no livro de Henry. Mas não pensou nisso por muito tempo, afinal havia muitas pessoas na cidade que ela ainda não conhecia - Eu gostaria de falar com a Prefeita. Ela está?

– E... Eu posso saber quem é você e por qual motivo deseja vê-la?

Emma estava começando a ficar impaciente, mas respondeu:

– Meu nome é Emma Swan. Eu sou sua... sou sua... - parando para pensar em qual era seu relacionamento com Regina, chegou à conclusão de que não tinha uma resposta. Elas não eram mais inimigas, mas não eram exatamente amigas e (Emma repreendeu-se mentalmente por pensar nisso) também não eram um casal. Por fim, respondeu: - Eu sou a mãe do filho dela.

– O quê? - indagou a mulher, como se ela fosse louca. - A prefeita Mills não tem filhos.

– É claro que ela tem!

A mulher abriu a boca para responder, mas pareceu mudar de ideia e ao invés disso falou, ainda com uma expressão confusa:

– Bem... Acho que você pode entrar. Tenho certeza que Regina tem um tempinho para conversar com você. - dizendo isso, abriu espaço para ela passar. Em seguida, fechou a porta e foi embora.

Emma olhou para a suntuosa sala de estar, que ainda era do jeito que ela se lembrava. Logo Regina apareceu, descendo as escadas e olhando para ela. Mais uma vez, o coração de Emma disparou e sua respiração ficou pesada.

Seus olhares se encontraram. Regina olhava para ela de forma confusa. Quando a prefeita desceu as escadas, Emma caminhou para perto dela e sorriu.

– Posso ajudá-la? - perguntou a prefeita.

– Regina. Sou eu. Emma. - aproximou-se ainda mais, apertando a mão de Regina na sua - Nós estamos de volta! Henry e eu! Nós voltamos pra você!

Regina soltou sua mão bruscamente e disparou, rispidamente:

– Quem você pensa que é para segurar a minha mão desse jeito?

Emma ficou confusa, mas logo depois caiu em si.

– Claro... Você não se lembra de mim.

Um choque de realidade a atingiu, e ela se sentiu como caindo de um abismo. Ela estava tão desesperada para encontrar Regina, tão ansiosa por vê-la novamente, por ouvir sua voz, por tê-la perto de si, que nem parou para pensar em como todos eles estavam ali. Na verdade ela não tinha refletido sobre nada, apenas seguira um sentimento maior do que ela. Só agora percebia o quanto tinha sido ridiculamente ingênua em pensar que ela ia simplesmente bater à porta de Regina, as duas iam se abraçar e tudo ia ficar bem.

Naquele momento teve raiva de si mesma. Raiva por deixar-se levar pelos sentimentos, por agir sem pensar e cair em mais uma decepção. Lágrimas quentes queriam cair por seus olhos, mas ela segurou-as.

– Regina... Eu sei que você não sabe quem eu sou, mas tente... Eu sei que você ainda me conhece aí por dentro.

Ela sabia que não fazia sentido, mas ainda assim precisava tentar. Precisava desesperadamente.

– Eu sou a mãe de seu filho. Eu sei que você se lembra. Faça um esforço... Você realmente não se lembra de mim ou de Henry?

Regina encarava-a como se ela fosse completamente louca.

– Eu não faço a menor ideia do que você está falando. A senhorita só pode estar louca. Não tenho nenhum filho, e nunca vi você em toda a minha vida. Agora vá embora antes que eu chame o Xerife Nolan. - Regina cuspia tudo aquilo, mas não da forma raivosa que ela costumava falar antes. Ela parecia... assustada. Como se estivesse se sentindo indefesa. Algo que Emma nunca vira estampado em seu rosto antes. Aquela não era a Regina que ela conhecia.

Emma respirou fundo, sem saber como reagir. Por fim, disse, com a voz trêmula:

– Me desculpe. Eu devo tê-la confundido com outra pessoa.

Andou até a porta e fechou-a atrás de si, deixando uma Regina assustada e confusa para trás.

Assim que saiu da mansão, viu Henry e Hook correndo a seu encontro, e engoliu o choro mais um pouco.

– Emma! - exclamou Hook - Você não pode fazer isso!

– Minha mãe não se lembra de você - explicou Henry- e nem de mim.

– Eu sei. - ela respondeu - Acabei de perceber. Uma pena que eu tenha dado uma má primeira impressão dizendo ser a mãe do filho dela.

– Você entrou? - perguntou Hook - Deus, A Rainha deve ter achado que você é louca. Veja, Emma... Eu não tive tempo de te explicar. Todos estão de volta por causa de uma nova Maldição.

– Mais uma? -perguntou Henry

– Acho que eu percebi isso - disse Emma, enquanto eles começavam a andar pela calçada - Mas... Regina realmente parecia não se lembrar de mim.

– Porque não foi ela quem lançou a Maldição desta vez. - explicou Hook

– Então quem?

Hook respirou fundo e disse:

– É uma longa história... Por que nós não vamos ao Granny's e eu explico tudo a vocês enquanto tomamos algo?

– Pode ser - respondeu Emma - Mas já vou lhe avisando que algumas bebidas não serão o suficiente para eu cair na sua.

– Eu não sei do que você está falando - disse ele de forma irônica.

Emma revirou os olhos e os três começaram a andar em direção à linha da cidade, onde ela tinha deixado seu carro.

****************

Emma tomou um gole de seu café enquanto processava tudo o que Hook tinha acabado de lhe contar.

– Então, deixe-me ver se eu entendi... Aquela mulher na prefeitura é a Bruxa Má do Oeste? Que também é irmã da Regina?

Cada dia alguém aparecia com um parente novo. Era informação demais para processar.

– É o que parece. - respondeu Hook - Quando eu fui embora da Floresta Encantada para te procurar, ela tinha ameaçado lançar uma nova Maldição. Esta semana, depois de te procurar e receber um chute como resposta, eu voltei para lá, mas... Quando eu cheguei, não havia ninguém. Estava tudo vazio. O castelo, as casas, tudo. Então percebi que ela devia ter cumprido suas ameaças. Usei outro feijão para voltar pra cá, e tudo o que tive que fazer foi te convencer a vir comigo para o Maine, o que não foi tão difícil quanto eu esperava.

– E como você sabia onde Storybrooke ficava? - perguntou Henry, que estava sentado ao seu lado.

– Eu não sabia - respondeu Killian - Eu simplesmente guiei Emma até o Maine, confiando que íamos chegar aqui. Na verdade eu nem sabia se a Maldição tinha realmente acontecido, ou se todos estavam no mesmo lugar de antes. Foi tudo uma questão de sorte.

– Vejo que a sorte está a seu favor. Já eu não posso dizer o mesmo. - observou Emma, pensando em Regina.

– O que quer dizer? - questionou Hook.

– Nada. Nada.

– Bem, Emma, o importante é que você está aqui. E você é a Salvadora. Eu não sei se existe uma salvação dessa vez, mas... Se existe, com certeza ela está em você.

–Mas como eu poderia fazer isso? - questionou Emma.

– Hook está certo, mãe. - interveio Henry- Tenho certeza de que você vai encontrar uma maneira de salvar a todos novamente. Você é forte. Confio em você.

Emma sorriu e disse:

– Bem... Então acho que eu preciso encontrar uma maneira.

– É assim que se fala. Agora, se me dá licença - disse Hook, se levantando - Eu preciso ir ao banheiro. - e deu uma olhada um tanto indiscreta para Ruby, que estava passando em direção à porta em roupas um tanto provocantes. "Mesmo galanteador de sempre", pensou Emma.

Ela esperava que o que quer que Hook sentisse por ela não fosse nada muito forte, pois ela estava longe de correspondê-lo. Ela gostava dele, mas não dessa forma. O beijo que os dois tinham trocado em Neverland fora um erro, um momento de carência no qual Emma deu-lhe falsas esperanças. No ano anterior, quando Neal tinha voltado, ela tinha definitivamente sentido algo por ele, mas achava difícil, quase impossível, voltar a ser aquela jovem da época em que eles se amavam e sonhavam em viver juntos. Muita coisa tinha mudado desde então. Sobretudo, duas mudanças muito importantes chamadas Henry e Regina.

Ela nutria sentimentos por Regina havia séculos. Fazia tanto tempo que nem conseguia se lembrar quando eles tinham começado. No início, tudo o que Regina lhe causava era raiva, raiva daquela mulher louca e fria. Mas depois de um tempo, ela começou a perceber a complexidade dos sentimentos de Regina; no fundo, ela era uma mulher sensível, amorosa e carente de afeto, e Emma sentia necessidade de protegê-la, de fazê-la acreditar no amor novamente. Tudo o que Emma mais queria era abraçá-la e nunca soltá-la, protegê-la de qualquer coisa que pudesse feri-la, fazê-la ceder à pessoa boa que ela tinha dentro de si. Mas claro, ela não tinha coragem o suficiente para isso.

Regina a odiava, ou era o que parecia. Ela nunca corresponderia seus sentimentos. Nunca aceitaria ter uma relação amigável com ela ou com ninguém de sua família, embora em Neverland ela tenha parecido se esforçar...

Tudo era muito complicado. Emma queria dar uma chance a Neal, pois era o que Henry mais queria; ver seus pais juntos novamente. Mas Regina mexia muito com ela, a prefeita era capaz de despertar o melhor e o pior em Emma, e ela não conseguia esquecê-la. Não sabia se o que sentia era amor, mas definitivamente sentia algo. Algo que não saía de sua mente, algo que a fazia agir de forma louca e impulsiva... Algo que tirava sua razão.

Emma olhou para Henry. O garoto folheava seu velho livro de contos de fadas, observando uma ilustração de Regina. Emma não conseguia abandonar a impressão de que não tinha visto nenhum resquício daquele lado forte e poderoso em Regina mais cedo, em sua casa. Ela parecia estranhamente indefesa. Emma supôs que sua personalidade tivesse realmente mudado com a Maldição.

A porta do restaurante se abriu e alguém entrou. Emma ficou incrivelmente feliz por vê-la outra vez, mas se conteve. Não ia cometer o mesmo erro que cometera com Regina.

Mary Margaret, usando agasalhos demais até mesmo para o clima da cidade, sentou-se no compartimento da frente e começou a ler um jornal intitulado "The Daily Mirror".

– Olha! - cochichou Henry- É a vovó!

Emma concordou com a cabeça, e se levantou. Sentou-se em frente à Mary Margaret, que levantando os olhos do jornal, olhou para ela com um olhar confuso.

– Hã... Posso ajudá-la?

– Sim. Meu nome é Emma Swan. Eu sou... Nova na cidade, e... Queria esclarecer algumas dúvidas.

– Muito prazer, Emma. Uma pessoa nova na cidade, hein? Sabe, é estranho ter alguém diferente aqui. Ninguém nunca vem a Storybrooke. Mas é bom conhecê-la. Meu nome é Mary Margaret. Eu sou toda ouvidos - respondeu Mary.

Emma notou Hook aparecendo novamente. O pirata viu-a conversando com Mary Margaret e sentou-se com Henry, ignorando-as.

– Então, Mary... - começou Emma - Eu tive o prazer de conhecer a prefeita hoje. Regina. E ela... Eu não sei, ela me pareceu um pouco chateada, o que é estranho, pois todos me disseram que a prefeita era uma mulher forte e autoritária.

– Ah, ela não é tudo o que falam - explicou Mary Margaret - Ela pode até tentar às vezes, mas é uma mulher muito... Frágil, sabe? A mãe dela morreu de câncer a alguns anos, e eu acho que ela nunca conseguiu superar. Ela ainda tem a irmã, mas o relacionamento das duas não é exatamente...

– Irmã? - perguntou Emma - Seria aquela senhorita de olhos azuis, cabelos claros... ?

– Essa mesmo. Wilma. Ela é dona de toda a cidade, e nem mesmo Regina é mais poderosa do que ela.

– O que você quer dizer com "dona da cidade"? - perguntou Emma

– Ah, sabe... É meio complicado. As coisas aqui em Storybrooke não funcionam da forma convencional. Regina é a prefeita, mas Wilma pode tirá-la do cargo, se quiser. Ela é completamente submissa à irmã, coitada.

Emma estava começando a ficar preocupada.

– E... Quem é o xerife da cidade, se eu posso perguntar?

– Ah, o Xerife Nolan. David é um bom homem. Um homem realmente muito bom - disse ela, de forma sonhadora - Não que eu tenha algum relacionamento com ele nem nada. Dizem que ele tem namorada. - apressou-se a acrescentar.

– Bem... Obrigado, Mary. Se você precisar de algo, eu e meu filho Henry estamos aqui para ajudar você. -disse Emma, se levantando.

– De nada, Emma. Espero que goste de Storybrooke. - disse ela, começando a olhar para Hook de forma curiosa - Quem é aquele rapaz? - perguntou

– Ah... Ele é meu... Irmão. De qualquer forma, foi um prazer conhecê-la. - e fez sinal para Henry e Hook se levantarem.

Os três saíram da lanchonete e Hook disse:

– Agora... que tal nós arranjarmos um quarto na pensão?

– É uma boa ideia - e ao ver o olhar empolgado de Hook, apressou-se em dizer: - Em quartos separados, é claro, Hook. Eu tenho um filho, caso você não se lembre. Vamos, Henry. Vamos arranjar um quarto para passar a noite. Tenho certeza que Hook pode se virar sozinho a partir de agora.

Quando os dois entraram no carro e Emma deu a partida, Henry falou, com uma voz carregada de tristeza:

– Mamãe... É tão triste que minha mãe não se lembre de nós dois, não é?

Emma sentiu-se como se alguém estivesse esmagando seu coração.

Give Me LoveWhere stories live. Discover now