Capítulo 7

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Emma estava dirigindo agora em direção à casa de Regina. Lembrou-se do dia em que a salvara do Wraith, o sugador de almas, e talvez Regina se lembrasse também.

Enquanto se encaminhava à prefeitura, Regina perguntou:

– Então, Emma... Em que você trabalha?

– Eu sou uma caçadora de recompensas - respondeu - Sabe, procuro bandidos, levo-os para a cadeia, pego o dinheiro.

– Parece um trabalho empolgante - observou Regina.

Olhando pela janela, Emma observou as pequenas lojas e estabelecimentos de Storybrooke, junto com várias pessoas conhecidas passando pelas calçadas e observando o fusca que ziguezagueava pela cidade. Pôde notar que a cidade estava mais moderna do que antes, tanto na arquitetura quanto nos automóveis que transitavam; a Storybrooke anterior estava parada na década de 80, enquanto esta era uma cidade contemporânea.

O céu ainda estava nublado, mas leves raios de sol apareciam. Em pouco tempo, Emma chegou à casa da prefeita, e estacionou.

– Por que nós estamos na minha casa? - perguntou Regina.

Emma pensou no que poderia dizer. Mas decidiu que não tinha mais como mentir. Não conseguia mais. Precisava contar qual era sua real intenção com tudo aquilo. Mas na hora certa.

– Porque coisas importantes aconteceram aqui. - respondeu.

As duas desceram, e Emma fez sinal para que Regina a seguisse até o jardim dos fundos.

– Você conhece a minha casa? - perguntou a mulher, espantada, mas Emma não respondeu.

Viram-se frente à macieira bem cuidada da prefeita, no meio de seu gramado. Uma cena passou na mente de Emma. Uma cena de anos antes. Uma motosserra, raiva, e vários galhos da macieira caindo. "Você não tem ideia do que eu sou capaz." Era definitivamente um momento marcante.

– Aqui, Regina. - disse Emma, apontando para a macieira - Tenho certeza de que você se lembra de algo sobre esta árvore.

– Sim, eu me lembro - respondeu ela de forma cética - Eu a plantei quando eu era jovem. Ela tem sempre me acompanhado desde então.

– Não é disso que estou falando - explicou Emma - Estou falando de momentos, não fatos. - esticou o braço e apanhou uma maçã.

– Tente se conectar a esse local, Regina. Por favor. Eu preciso que você se lembre.

Regina respirou fundo e fechou os olhos. Permaneceu assim por um minuto inteiro, com a expressão imutável, e por um momento Emma pensou que não iria funcionar. Talvez fosse melhor desistir e tentar outra coisa. Mas quando começou a pensar nisso, a expressão de Regina mudou. Ela fez uma expressão curiosa, como se estivesse se lembrando de algo. A faísca dentro de Emma voltou a piscar.

Regina abriu os olhos de uma vez, e disse:

– Eu me lembro de algo! Eu me lembro de você... Aqui no jardim... E... Uma motosserra?

Emma sorriu como uma criança.

– Você se lembrou de mim? Se lembra de quem eu sou?

– Não - respondeu Regina - Eu sinto muito. Me lembro de você aqui, e uma motosserra. Isso é tudo.

Emma assentiu.

– Isso é tão confuso... - disse Regina - Até ontem, eu nunca tinha te visto em toda a minha vida. Agora, parece que nós já conhecemos... Parece que você já foi parte da minha vida. Eu não entendo.

– Eu sei. - disse Emma, esperançosa - Eu sei que isso é confuso. Mas você está indo pelo caminho certo.

Regina olhou para ela, ainda confusa.

– Venha comigo - disse Emma, oferecendo-lhe sua mão - Venha comigo e eu vou esclarecer tudo.

Regina estava tão confusa e abalada que aceitou o aperto de mão. Emma começou a guiá-la para dentro da mansão.

**********************************************

Elas estavam dentro do escritório de Regina, lugar no qual, um ano antes, Emma tinha caído no chapéu de Jefferson e ido parar na Floresta Encantada. Mas aquela não era a única lembrança marcante que ela tinha com relação ao local.

– Aqui, Regina - disse ela - Tente se lembrar desse lugar.

Regina olhou ao redor.

– É o meu escritório. O que há demais nele?

– Nós duas vivemos algo importante aqui - respondeu Emma, sem rodeios.

Regina parecia confusa.

– "Nós"? O que você quer dizer com... Ah não. - percebendo o que Emma queria dizer, assumiu uma expressão de preocupação - Você não está...

– Regina - tentou acalmá-la Emma - Não se assuste, por favor. Eu... Preciso te confessar algo. Preciso te contar o real motivo pelo qual eu estou fazendo tudo isso.

Na defensiva, Regina começou a andar para trás, se afastando.

– Eu preciso que você se lembre - disse Emma, tentando se aproximar enquanto Regina se afastava - De nosso passado juntas.

– Por favor, Emma - disse ela, suplicante - Não faça isso.

– Mas você tem que se lembrar! De mim, do nosso filho... De nós.

– Do que você está falando? - gritou ela em resposta - Eu já disse que não tenho nenhum filho! Nós não temos um passado! Isso é completamente insano! O nosso encontro não é sobre isso!

– Mas... Eu não entendo - falou Emma - Você acabou de dizer que teve uma lembrança de mim!

– Sim, eu tive, mas isso é completamente diferente de dizer que nós temos um passado juntas, que éramos apaixonadas ou que temos um filho juntas! - Regina cuspia tudo aquilo de forma ríspida, mas não parecia estar nervosa. Ela parecia assustada, com medo, preocupada, mas não irritada - Talvez eu tenha te conhecido algum dia, talvez eu tenha te visto alguma vez e não me lembro, mas nós não temos uma história juntas! Muito menos uma história de amor! Eu nunca tive nenhum filho, e eu não faço ideia de quem você é. Eu nem mesmo sei o seu sobrenome!

– É Swan. E sim, nós temos! - gritou Emma. Logo depois abaixou o tom de voz, com medo de fazer tudo sair de controle, e disse: - Nós temos um passado. Você só não se lembra.

Pegou Regina pelo braço, tentando fazê-la se agachar, mas Regina afastou seu toque brutalmente. Emma abaixou-se, olhando para ela, que estava a vários centímetros de distância.

– Tente se lembrar - insistiu ela - Você estava aqui. Tentando abrir um portal.

– Um o quê? - questionou Regina, assustada.

– Um portal. Para nos livrarmos do Wraith. O sugador de almas. - Emma sabia que estava indo longe demais, mas já tinha perdido o controle sobre si mesma. De forma louca e insana, ela resolveu continuar se arriscando. Agora que já tinha começado, iria até o fim.

– Sua magia não estava funcionando - continuou ela, prestes a chorar de desespero, enquanto Regina parecia cada vez mais horrorizada - E, por algum motivo, eu fui até você e... Não sei, eu senti uma necessidade de te tocar. E então sua magia funcionou. Eu nunca tinha feito magia até então, e o portal simplesmente... Se abriu. Eu não acredito em coincidências.

Regina agora parecia realmente preocupada.

– E depois, ali... - disse Emma, se levantando e apontando para um ponto adiante - Bem ali, eu te salvei do Wraith. Ele veio em nossa direção e eu te protegi dele. Foi rápido, coisa de segundos, mas inesquecível pra mim. Tente se lembrar desse momento. Por favor. - ela disse aquilo de forma suplicante, com lágrimas quase lhe escapando aos olhos.

Regina encarava-a de olhos arregalados.

– Emma, você... Você precisa de ajuda. Olhe só pra você. Falando de magia e coisas fantasiosas como se fosse real.

– Não. Eu estou falando a verdade. - insistiu ela

Regina balançou a cabeça em negação.

– Se eu fosse você eu procuraria o Doutor Hopper. Ele pode te ajudar. Por acaso você... - pigarreou cautelosamente antes de terminar a frase - Usa alguma...

– O quê? Você está me chamando de louca?

– Não! - esclareceu Regina, tentando parecer sutil - Eu entendo você. O amor pode nos levar a fazer coisas realmente loucas. Mas eu acho que você deveria procurar uma ajuda profissional. Para que você possa perceber... Que eu não sou a Regina pela qual você se apaixonou.

Emma deixou as lágrimas escaparem.

– Por que você não acredita em mim?

– Porque é um absurdo, Emma! Essa mulher, seja lá quem ela for... Você a perdeu, e não há nada que eu possa fazer! Por favor... Pare com isso. Apenas pare. Só vai fazer mal a você. E a mim.

Emma respirou fundo. Não queria continuar fazendo aquilo com Regina. Não queria destruir tudo de uma vez. Mas ainda assim... Não queria desistir. Tinha que tentar uma última vez.

– Por favor, me dê uma última chance.

– Não. Eu não posso, Emma - respondeu ela de forma cuidadosa - Não posso continuar alimentando suas loucuras. Agora eu vejo que ter ido te procurar hoje cedo foi um erro. A última coisa de que você precisava era de alguém pra incentivar seus sonhos malucos. Mas o que você precisa... É de alguém para te ajudar. Te ajudar a enxergar a realidade.

Ver Regina chamando aquilo de loucura, de sonhos malucos, doeu em Emma como se uma faca estivesse transpassando o seu peito, e ela chorou ainda mais. Mas mesmo assim ela não conseguia ter raiva de Regina por isso.

Regina se virou e começou a caminhar em direção às portas duplas do cômodo para ir embora. Abriu-a, mas antes de sair virou-se para Emma e disse:

– Agora, por favor... Saia da minha casa.

Emma levantou-se de um salto quando Regina virou-se para ir embora mais uma vez. Segurou-a pelo ombro, impedindo-a de sair, e virou-a de frente até elas ficarem cara a cara. Regina fez menção de gritar, mas Emma cobriu sua boca. Emma segurava seus braços com força, e Regina olhava para ela, os olhos demonstrando total desespero. Ela achava mesmo que Emma seria capaz de machucá-la?

– Você não precisa ficar com medo - disse ela, baixinho, tirando a mão de sua boca - Eu não vou te machucar. Tudo o que eu estou te pedindo é uma última chance. Deixe-me te levar para um último lugar. Deixe-me fazer você reviver um último momento. E se quando estivermos lá, você não se lembrar de nada... Então eu juro que vou te deixar em paz. Para sempre. E nunca mais vou te procurar. Mas se você não me der essa chance... Eu vou embora, é claro. Mas há uma grande chance de eu voltar a te incomodar mais vezes.

– Por que você simplesmente não me deixa continuar vivendo minha feliz vida em paz? - questionou Regina, com a voz trêmula.

–Porque você não está feliz! Você pode negar o quanto quiser, mas eu consigo ver nos seus olhos. Você não está feliz levando essa vida.

Regina continuou olhando, sem responder.

– Olhe em meus olhos - falou Emma, puxando-a para mais perto - Olhe em meus olhos e me diga que você está feliz.

Regina lançou um olhar que expressava fraqueza, dor e tristeza, tudo ao mesmo tempo. Emma podia ouvir seus batimentos cardíacos, quase tão acelerados quanto os dela.

– Não - respondeu ela com a voz rouca - Eu não estou.

Se dando conta do quanto estava sendo abusiva, Emma soltou-a. Mas Regina não se afastou.

Ao invés disso, se aproximou ainda mais, olhando Emma nos olhos. Emma tocou em sua mão e seus corpos se encostaram. Ela sentia como se faíscas estivessem voando entre elas. Uma olhava nos olhos da outra, enxergando dor, medo, desespero, e a necessidade que uma tinha pela outra.

Emma podia sentir a respiração quente de Regina em seu rosto, seus lábios a milímetros de distância. Regina tocou seu rosto e se aproximou ainda mais. Emma fechou os olhos e abriu a boca, pronta para aquele momento...

Mas então Regina recuou. Se afastou de Emma e virou-se de costas para ela.

– OK - disse ela - Eu vou com você a este último local.

A respiração de Emma se tornou mais leve, embora ela ainda estivesse em conflito.

– Mas você tem que me prometer - continuou Regina - Que se eu for com você, e não conseguir me lembrar de nada, você vai me deixar em paz. Prometa. Do contrário, eu juro que vou garantir que você vá para trás das grades e fique lá por um bom tempo.

Tentando estancar as feridas que aquelas palavras lhe causaram, Emma respondeu:

– Eu prometo.

Regina deu um longo suspiro.

– Vamos logo então.

**************************

Dentro do carro, o silêncio era doloroso. Os olhos de Emma ainda derramavam algumas lágrimas teimosas que não queriam ir embora. Ao seu lado, Regina olhava para fora, claramente assustada.

– Eu sinto muito, Emma - disse Regina, quebrando o silêncio - Eu não devia ter sido tão dura com você. Não devia ter falada aquelas coisas daquela maneira. Eu deveria... Deveria ter sido mais cuidadosa.

– Está tudo bem - respondeu Emma, se sentindo horrível por ter feito Regina se sentir culpada quando a culpa era toda dela - Eu também não devia ter exigido tanto de você. É tudo culpa minha.

De repente, Regina começou a chorar.

– Oh, Emma - falou ela, entre soluços - Por que você tinha que tornar as coisas assim? Por que eu tinha que ir te procurar? Por quê?

Cada lágrima que Regina derramava era um pedaço de seu coração que se partia. Ela estava sentindo cada vez mais raiva de si mesma. E não conseguia parar de se perguntar "Por que eu tinha que amar essa mulher?"

Por fim, chegaram mais uma vez ao Granny's. Onde aquela história tinha começado. As duas desceram, e Regina nem perguntou porque elas tinham voltado. Ela parecia extremamente cansada. Entraram na parte exterior do restaurante, onde algumas mesas vazias e vasos de plantas estavam espalhados. Não havia ninguém ali fora. O sol já brilhava alto no céu, as nuvens agora distantes.

– Regina - começou Emma - Você provavelmente não se lembra, mas aqui, neste lugar... Nós tivemos uma conexão muito importante. Pelo menos para mim.

Regina ouvia atentamente, mas sem demonstrar muito interesse.

– Eu estava numa festa de boas-vindas. Você estava tentando mudar. E... Eu te convidei para a festa quando ninguém mais queria. E naquela noite, quando você foi embora... Eu te chamei. E nós conversamos. Pacificamente. Eu perguntei se você não queria ficar. E Deus, eu estava tão nervosa. Tão nervosa que fui quase fria.

Naquele ponto, ela estava chorando ainda mais.

– Nós conversamos sobre o Henry. Você queria vê-lo mais, mas eu era orgulhosa demais para permitir isso. E por alguns segundos... Nós tivemos um momento de tensão, mas você me pediu desculpas, e aquilo mudou tudo. Aquela conversa... Pode não ter sido grande coisa. Mas pra mim foi. Porque eu vi que você queria mudar. Que no fundo você era uma pessoa maravilhosa. Naquele momento... Eu te amei.

Regina parecia levemente emocionada, mas manteve sua firme expressão de indiferença.

– Você se lembra de algo desta conversa? - questionou Emma, com medo da resposta. Sabendo que agora era tudo ou nada.

– Não - respondeu ela secamente.

Ficaram em silêncio por alguns momentos, enquanto Emma chorava.

– Eu deveria ir agora. Não precisa me dar carona.

Mas por algum motivo, Emma insistiu. Aquilo era mais forte do que ela.

– Espere, Regina! Como você pode não se lembrar? Eu sou a mãe do seu filho! Você deve se lembrar de mim, apenas faça um esforço.

– Não! - gritou Regina, de forma realmente agressiva - Eu não vou mais fazer esforço nenhum! Você é louca! Aliás... Você tem certeza de que possui sanidade o suficiente para cuidar do Henry?

– O quê?? - surpreendeu-se Emma, começando a ficar com raiva também - Você está insinuando que eu não sou uma boa mãe?

– Talvez, porque você claramente precisa de fortes medicamentos.

Emma enxugou suas lágrimas.

– Você sempre tem que ser uma insensível arrogante, não é, Regina? - disse

– NÃO ME CHAME DE INSENSÍVEL! - berrou Regina, e as pessoas começaram a aparecer e se reunir ao redor delas- VOCÊ NÃO ME CONHECE, SUA MULHER MALUCA!

Virou-se para ir embora, mas antes, disse, com a cara fervendo:

– Fique longe de mim, fique longe da minha casa... Fique longe da minha vida!

E foi embora. Emma ficou olhando ela se afastar, sem saber exatamente o que sentir.

– O que acabou de acontecer aqui? - perguntou Granny, que estava no meio da multidão que tinha assistido à briga.

– Nada. - garantiu Emma - Absolutamente nada.

Abriu espaço em meio à multidão, entrou em seu carro e deu a partida. Dentro do carro, o breve momento de raiva e mágoa logo foi substituído por tristeza e culpa. Somente agora ela percebia o quão estúpida e agressiva ela tinha sido. O que ela estava pensando? Ela esperava que Regina fosse acreditar em tudo tão rápido? Imaginou a si mesma anos antes, quando não acreditava nas histórias de Henry sobre a Maldição. Se naquela época alguém tivesse tentado lhe impor tal história da mesma forma que ela fizera com Regina, provavelmente sua reação seria igual ou pior.

Emma dava voltas pela cidade sem rumo, apenas passeando para tentar acalmar sua mente e seu coração, sem sucesso. Enquanto dirigia, chorava, chorava de arrependimento porque, durante alguns momentos tudo estava indo bem e ela arruinara as coisas com sua pressa e impulsividade. Arrependimento porque por alguns momentos ela teve Regina em suas mãos, e a deixara escapar entre os dedos como grãos de areia. E acima de tudo, chorava porque sabia que Regina não estava feliz e a machucara ainda mais.

Por fim, decidiu parar de dar voltas e rumou de volta para o Granny's. Desceu do carro e entrou na pensão. Quando chegou na porta do quarto, enxugou suas lágrimas. Não queria que Henry a visse chorando novamente. Já tinha causado sofrimento demais a uma pessoa que amava, não queria causar a outra.

Abriu a porta. Henry encontrava-se deitado, absorto no livro de contos de fadas. O garoto pulou da cama assim que ela entrou.

– Então? - perguntou ele, empolgado - Você conseguiu? Fez ela se lembrar de algo?

– Não - respondeu Emma, encarando o chão.

Henry olhou confuso.

– Receio que a Operação Mãe tenha sido um fracasso. E é tudo culpa minha.

M3*7[O

Give Me LoveWhere stories live. Discover now