Bônus - Capítulo 22 (Inédito)

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Le bonheur est une bulle de savon qui change de couleur comme l’iris et qui éclate quand on la touche. – BALZAC

Tinta, pizza e reencontro com o passado


O pincel fazia cócegas, o toque leve e úmido sobre minhas costelas. Tentei veementemente ficar parado, mas a risada escapou dos meus lábios antes que eu pudesse controlar.

- Tody, assim eu não vou terminar nunca. – Felipe resmungou, afastando o pincel para não borrar o desenho que fazia sobre minha pele.

- Me desculpe, me desculpe. – Ergui os braços, tendo cuidado para não esbarrá-los em lugar algum, já que os desenhos sobre eles ainda secavam. – Vou me comportar, juro. Sabe que quero ir para casa o mais rápido possível.

- Não parece. – Revirou os olhos para mim.

Felipe mergulhou o pincel fino na tinta roxa e novamente começou a pintar minhas costelas. Mordi o lábio para não rir e me concentrei ao meu redor: o chão protegido por um plástico branco, os dois holofotes sobre nós, a cortina transparente que nos dividia do restante da sala, dando-nos o mínimo de privacidade, já que eu me encontrava somente de cueca. Vez ou outra, uma pessoa da produção entrava no nosso espaço para espiar o avanço de Felipe e perguntar se precisávamos de algo.

Estávamos em um estúdio fotográfico e, em pouco tempo, eu e Felipe iríamos fazer o photoshoot para uma das mais importantes revistas de moda masculina do país. Eles queriam fazer uma matéria especial sobre casais homossexuais com influência e haviam nos convidado para ser a capa, uma proposta maravilhosa que, ainda assim, demorei muito para convencer Fê a participar. Mesmo sem tantos receios como no passado, ele ainda não se sentia completamente a vontade com fotos – algo muito ruim para quem estava casado com um modelo.

A ideia para a capa conosco tinha sido fantástica e, além de promover minha recente carreira de modelo, também colocaria a arte de Felipe para ser vista por todos aqueles que comprassem a revista: tiraríamos as fotos sem camisa e descalços, possibilitando que todas as tatuagens do peito, braços e costas de Fê ficassem expostas. O trunfo das fotos era, então, me mostrar ao seu lado, com as mesmos desenhos de suas tatuagens pintados sobre a minha pele em todas as cores possíveis, tornando-me um verdadeiro arco-íris com pernas. Obviamente, o único que poderia fazer esse tipo de trabalho com perfeição era meu próprio marido e isso explicava porque estávamos ali nas duas últimas horas, Felipe copiando suas tatuagens sobre minha pele cuidadosamente.

- Todie, eu estou vendo você fazer bico. – Ele resmungou, sem erguer os olhos de seu trabalho.

- É claro. – Bufei e recebi um olhar de reprovação. Qualquer respiração desregulada da minha parte poderia borrar a pintura em andamento sobre minhas costelas. – Eu queria que estivéssemos em casa hoje, só nós dois. De todos os dias do ano, eles tinham que marcar esse photoshoot justo para hoje?

Felipe soltou o pincel sobre a mesa de ferramenta, coberta por potes de tinta e outros utensílios que tínhamos trazido de casa, e andou até estar na minha frente. Segurou meu rosto entre suas mãos e pousou um beijo calmo sobre minha boca antes de se afastar e dizer:

- Eu também adoraria passar o dia só com você, mas teremos nosso tempo depois que tudo isso acabar. Por enquanto, estou feliz apenas de trabalharmos juntos no dia do nosso primeiro aniversário de casamento.

- Eu quero te abraçar. – Pedi, manhoso.

- Não ouse! – Deu um passo para trás, as magníficas bolotas azuis arregalando-se. Eu sempre seria apaixonado por seus olhos e isso me deixava ainda mais carente. – Um abraço agora é algo que não posso dar.

Como não te amar?Onde as histórias ganham vida. Descobre agora