Capítulo 17

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Mate-me, por favor

O barulho era irritante, contínuo e forte o suficiente para me puxar lentamente dos braços do sono. Meu corpo demorou para entender realmente o que estava acontecendo e abrir os olhos ligeiramente, saindo de um sonho sobre futebol para a escuridão do meu quarto. Com um gemido de frustação, percebi que o relógio ao lado da minha cama marcava 2:16 da manhã e que o som que havia me acordado era o toque do meu celular.

Cegamente, tateei o criado-mudo com as pontas dos dedos até encontrar o celular. Sem nem ao menos checar de quem era a chamada, aceitei-a e levei o aparelho até o ouvido.

- Hum... - Resmunguei, com sono demais para falar qualquer frase completa.

- Todie! - A voz de Scott soou do outro lado. Ele disse somente o meu nome e entāo permaneceu em silêncio, possibilitando que eu ouvisse sua respiração ofegante, o assobio fraco do vento e o som contínuo e acelerados de seus pés batendo contra o chão. Ele estava correndo. - Ela disse sim! Tody, está me ouvindo? Marie disse sim para mim! Ela aceitou namorar comigo, cara!

A notícia, com toda a certeza, foi o suficiente para me despertar de uma vez por todas. Sentei-me na cama, enrolado em lençóis e arregalando os olhos para a escuridão. Mesmo que eu acreditasse veementemente no que Marie Elizabeth sentia pelo meu melhor amigo, obrigá-lo a dar o primeiro - e mais importante passo - tinha sido dar um tiro no escuro, pois poderia destruir o pouco que eles já tinham se ela o rejeitasse.

- Sério? - Perguntei, feliz.

- Mais sério impossível. - Ele continuava correndo do outro lado do telefone, pois ainda respirava pesadamente. - Eu escrevi o pedido na porra da pizza e... Jesus, quando ela abriu e ficou silêncio, foi a hora que eu mais quis chorar em toda a minha vida. Cara, eu tava lá com aquele terno quente como o inferno, um buquê de rosas e aquela porcaria de pizza, plantado do lado de fora da casa dela.

Não pude me impedir de rir ao imaginar tal cena. Eu podia ver cada detalhe, sentir cada segundo de angústica que Scott havia passado no silêncio da ausência da resposta, como se eu tivesse assistido tudo.

- Ela estava tão linda de pijama, cara. Tão, tāo linda, que quase desisti de tudo. Fiquei louco de medo de perder tudo aquilo e, se isso tivesse acontecido, nossa amizade não iria me impedir de te dar uma surra, Benson. - Ri com a ameaça, pois, com toda a sinceridade, eu teria permitido que Scott me batesse caso tudo aquilo tivesse acabado mal. Ouvi quando os passos ritmados dele começaram a reduzir de intensidade até pararem de vez, indicando que ele não mais corria. - Ela passou tanto tempo em silêncio que achei que fosse morrer e... Ah, calma.

Esperei pacientemente enquanto Scott respirava profundamente, recuperando o fôlego da corrida noturna. Ouvi-o dar mais alguns passos e entāo um som seco do que parecia alguém deixando-se cair sentado no chão. Haviam barulhos de vento e movimento do outro lado da linha, como se Scott estivesse escolhendo a melhor posição para segurar o celular e não resisti em perguntar:

- Onde você está, Scottie?

- Eu não sei exatamente. Alguma rua residencial. - Ele respondeu, respirando forte.

- Como assim você não sabe onde está? Irmão, você já notou que estamos no meio da madrugada?

- Eu sei, eu sei. Quando cheguei em casa, simplesmente não consegui dormir, então saí para correr e não sei bem por onde passei. Não iria conseguir conviver com isso sem te contar até amanhã. - Ele riu e revirei os olhos, mesmo que ele não pudesse ver. - Tody, ela disse sim e me abraçou. Ela simplesmente me abraçou e eu chorei.

Como não te amar?Onde as histórias ganham vida. Descobre agora