Capítulo 21

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Apenas um coração batendo

P.O.V. Felipe

Um...

O dois nunca chegou.

TRAC!

Sequer tive tempo de piscar os olhos uma vez antes que o chão se encontrasse sob meus pés. O salto havia sido extremamente rápido, sem proporcionar tempo suficiente para que meu corpo se preparasse para quando atungisse o chão e, quando isso aconteceu, a dor foi imediata, subindo pela perna direita. Parecia que eu tinha colocado tornozelo no fogo e as labaredas o engoliam lentamente, proporcionando uma dor angustiante que corroia meu interior.

Gritei e permiti que meu corpo caísse sobre a grama molhada, apoiando-me nos cotovelos para ter uma visão da minha perna estendida por completo. Arfei ao ver meu estado, meu pé virado de uma forma anormal, o tornozelo visivelmente torcido - ou pior, pois a dor era tão insuportável que eu poderia muito bem estar com algum osso fraturado.

Joguei a cabeça para trás e respirei profundamente seguidas vezes, obrigando-me a pensar em algo que me distraísse da dor. Notei a parede lateral da escola, a tinta ligeiramente descascada, e a janela pela qual eu havia saído repousando a quatro metros do chão. Meu coração disparou e tive esperança de que, de alguma forma, Tody pudesse pular por ela também, porém, quando os minutos se passaram, me contentei com o fato de que aquela era uma das únicas janelas a não ter massas de fumaça escura e densa saíndo por ela. A escola continuava a queimar diante de mim e pensei em quantas vezes eu teria sorrido se visse essa cena, afinal eu odiava aquele lugar e amaria vê-lo destruído, entretanto naquele momento tudo era diferente.

Tody ainda estava lá dentro, preso.

As lágrimas se formaram em meus olhos ao perceber que ele havia arriscado a própria vida por mim, sacrificando-se para que eu saísse. Eu precisava fazer alguma coisa, mas não conseguia me mexer de tanta dor que sentia no meu maldito tornozelo torcido. Parei de tentar me mexer e respirei profundamente mais uma vez, fechando os olhos para pensar melhor. Sem a visão do inferno de chamas diante de mim, ouvi centenas de vozes não muito longe, barulho de água corrente e algumas sirenes de ambulância se afastando. Resmuguei de tão estúpido que era: eu precisava chamar ajuda.

Girei sobre a grama, rangendo os dentes para suportar a dor, e fiquei de barriga para baixo, ainda deitado. Como um miserável verme, arrastei-me, puxando o peso do meu corpo com os braços e a perna não machucada, deslizando dificilmente pela grama até conseguir chegar à esquina do prédio. Dali, podia ver o enorme pátio dianteiro da escola, na qual três caminhões dos bombeiros estavam estacionados, e também a multidão de pessoas, afastadas para atrás de uma corda amarela, distanciadas da operação dos bombeiros. Uma ambulância chegou naquele momento, juntando-se a primeira que já se encontrava no local.

Do chão tentei gritar, mas minha voz não saiu de forma alguma, minha garganta dolorida demais para isso. Tossi secamente, cuspindo no chão logo depois uma mistura de saliva e sangue. Passei a mão pelos lábios para sentir o longo talho que havia ali, indo do lábio superior ao queixo e jorrando sangue por entre os meus dentes - isso explicava o intenso gosto de ferro que eu sentia na boca.

Meu corpo tremia por completo, o terror do que havia acontecido começando a despontar sob minha pele, transformando tudo ao meu redor. Pontos surgiram, atrapalhando minha visão, e o ar sumiu dos meus pulmões, fazendo-me sufocar aos poucos e deixar meu rosto desabar sobre a grama úmida.

Sabia o que era aquilo: um ataque de pânico. Não sentia um havia anos, no entanto, naquele momento, ele me atingiu poderosamente. Tudo se resumia a um terror mudo e massante, dominando-me até que nada mais fizesse sentido, até que todas as coisas do mundo de desfizessem em manchas coloridas, sem forma e sem vida. Cobri a cabeça com os braços, escondendo-me no escuro parcial, e tentei fugir do que fazia meu interior revirar, concentrando minha mente em um rosto.

Como não te amar?Onde as histórias ganham vida. Descobre agora