Prólogo

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     Há cinco anos a estrada tem sido meu lar

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     Há cinco anos a estrada tem sido meu lar. Pilotar a moto entre carros, caminhões e outras motocicletas em grandes rodovias, tornou-se um hábito constante. Viver como um nômade, não é fácil, mas a possibilidade de estar a cada dia em um local diferente sem apegos, emoções ou qualquer coisa que me fizesse ser estável, me satisfez. Na verdade, pensei que era isso que queria. Mas infelizmente, as emoções que senti no inicio dessa corrida, não estou sentindo agora. Foi bom ter me distanciado, ter afastado tudo e todos, só que agora, devo voltar. Minhas raízes, origens, clamam por mim, posso sentir. Nesses cinco anos, vivi em função do clube, não tive um lugar fixo, se houvesse uma casa ou quarto por mais de uma noite teria sido morto. As minhas chances de sobrevivência se tornaram pequenas há cada noite na estrada, por onde passava o rastro de dor, sangue e sofrimento me seguiam. Nos primeiros meses na estrada, Gabe designou-me ao clube de Drusk que havia ocorrido uma invasão e estavam precisando de alguém para investigar o caso. Fiquei semanas estabelecido no complexo, movi céus e terra naquele lugar e descobri o que havia ocorrido, um tal de Gutiérrez com sua gangue tentou roubar a metanfetamina que estava no galpão, um dos lugares que o clube possuía para armazenar tais carregamentos. Encontrei-o e o fiz pagar pelo seus atos, ninguém fode com um Angel e nem com seus aliados sem sair manchado. Os angels me designavam para clubes que necessitavam de um castigo ou de algum suporte, os alvos normalmente haviam desviado cargas de cocaína do nosso clube, roubado cargas, furtado armas ou até mesmo desrespeitado Gabe ou ameaçado famílias dos membros, essas coisas entre nós era inadmissível. Me tornei à lei, fui temido, impus regras e fiz uma reputação entre os clubes e as estradas, me tornei um fora da lei e fiz jus ao patch de 1% em meu colete. O reconhecimento veio quando Gabe, presidente dos Black Angels MC em certo dia, entrou em contato avisando-me do que havia feito numa dessas missões e às consequências dos meus atos. Os tiras encontraram o clube rival em chamas, o galpão que havia atrás cheio de drogas e dinheiro incinerado e os membros choramingando enquanto observavam, além disso, um prefeito local estava todo ensanguentando ao lado de uma das meninas do clube. Após esse acontecimento, reviraram do avesso a vida do tal prefeito e o prenderam, não só ele, mas os associados aos clube rival por corrupção, tráfico de drogas, pessoas e assassinato. A decisão de retornar tão abruptamente as minhas origens, fez-me lembrar de tudo que ocorreu para que decidisse sair.
    Como na época era o braço direito de Gabe, tive que abdicar o cargo, já que iria me tornar um nômade, não poderia ser Vice- Presidente da estrada. Possibilitei ao meu irmão a chance de ocupar a vaga que deixei disponível, obviamente, a capacidade que ele possuía de liderar não foi a pauta da conversa em que tive com Gabe. Dizer que doeu entregar a função que ansiei durante anos seria um eufemismo. O caminho que tive que percorrer para conseguir a vice liderança, foi árduo. Conquistei com muito suor, dor, lágrimas e solidão. Tive que trocar muita das vezes, a companhia que queria estar, por uma corrida. Não pude me priorizar ou minha felicidade, o clube era o foco, era o que tinha que cuidar e priorizar. Afastar-me do lugar em que cresci, da única família que tive, foi a solução que encontrei para aplacar a dor em que estava assolando meu coração. Nunca pensei que abrir mão de um verdadeiro amor seria tão doloroso. Fui um masoquista, dispensá-la me destruiu e a cada palavra que saía dos meus lábios enquanto tentava afastá-la arruinou-me por dentro, mas foi necessário. Não havia possibilidade de deixá-la se aproximar, minha vida é um caos e para piorar tudo, Kane voltou. Ele ameaçou a minha garota e no que é meu, ninguém toca. Deixei tudo porque queria esquecê-la, no entanto, não consegui. Ela destruiu-me para qualquer outra mulher. Praticamente todas às noites, sonho com sua voz gritando o meu nome. No sonho, posso ouvir nitidamente seus gemidos fracos e a voz sussurrante pedindo socorro. Como se estivéssemos num galpão com fraca luminosidade e baixa temperatura. Conseguia vê-la tão fragilizada e caída ao chão que esqueci que era um sonho, pois a impotência que senti foi inexplicável. Tentava me mover para ajudá-la, mas não obtinha resultados. Essas lembranças por mais dolorosas, trouxeram-me de volta à realidade. Nem contei do meu regresso para meus irmãos, mas é como dizem: O bom filho, a casa torna. E cá estou, em frente aos portões de aço do complexo.
      As portas duplas se abrem, dando-me acesso a enorme garagem, tento encontrar um local vago para estacionar e quando encontro, estaciono e desço da moto. O amontoado de motocicletas estacionadas em fileiras impossibilitaram encontrar uma vaga tão rapidamente. Consigo perceber pelo canto do olho que estou sendo observado, viro-me totalmente e sei que é um prospecto.
    O jovem me analisa e acena com a cabeça em direção ao clube, prefiro ignorar, pois uso as cores do clube e elas estão visíveis em minha pele, inclusive o colete que visto. Ignorando a pergunta silenciosa do homem continuo caminhando em direção à entrada. Assim como os portões, as portas duplas do salão de entrada são de aço e blindadas. Empurrei-as com certa força e brutalidade, fazendo-as se chocarem bruscamente com a parede, ocasionando um barulho alto, ultrapassando o som das batidas ensurdecedoras da música. No caso, todos os membros, visitantes e prospectos, direcionaram o olhar em minha direção. Não esperava chamar tanta atenção, mas aconteceu. Os olhares direcionados à mim, estão confusos, animados e excitados. Tento encontrar algum conhecido, porém não lembro de nenhum deles. Claro, faz mais de um ano que não volto.

Slater - Série Black Angel MC #1Where stories live. Discover now