Três

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Acordo rapidamente me levantando da cama, saio de meu quarto e entro no quarto de Alice.

"Alice? Está aí? Cadê você?" Logo a avistei parada em frente seu armário.

"Ei estou aqui o que aconteceu?" Ela fala e logo me olha.

"Eu só tive um pesadelo.. Nada de mais" balanço a cabeça negativamente.

"Ah sim" ela volta olhar o armário.

"Vou me ajeitar para o trabalho"

...

Depois de chegar em casa e tomar um banho tranquila, vou para a sala me sentando no sofá, suspiro por mais um dia ter passado, só temos mais amanhã e não consegui nada mais do que já tenho, não tenho nem a metade da metade, nem tenho com quem conseguir.

O meu pai não era assim, ele começou a usar drogas quando a mamãe começou a trabalhar em uma casa de família como empregada mas ela praticamente mora lá, de vez enquando que ela aparece em algum domingo. Ele era muito chato com ela mas a amava como se fosse a única mulher no mundo. Ele se sentiu um pouco traído quando ela saiu de casa para trabalhar nessa casa de família sendo que iria morar lá, ele não percebeu que ela fez isso pensando em melhorar a vida pra nós.

Eu e Alice moramos com ele já que sempre foi um bom pai mas mal sabíamos que ele se tornaria o que se tornou hoje.

Ele só sai de casa para comprar drogas ou quando tem algum bico para ele trabalhar e ganhar dinheiro, eu tive que amadurecer rápido pois tinha eu e Alice pra sustentar, e meu pai também pois ele não ajuda em nada com as coisas da casa, minha mãe sempre manda algum dinheiro para cá já que ela fica lá quase não tem gastos, ela faz isso pra nós ajudar. Eu faço meu salário render e ainda consigo guardar um pouquinho para minha faculdade.

Não sei o que vamos fazer, eu queria ajudar meu pai mas não tenho como ajudar, não tenho dinheiro e não tenho como conseguir tudo. Não sei como ele conseguiu gastar tanto assim com drogas. Meu Deus onde nós vamos parar?

Eu simplesmente não sei. Está cada vez mais difícil, ele não se importa muito com a gente mais mas eu ainda o amo, por mais que faça dois anos e meio que ele use estas coisas, eu me lembro do antigo jeito dele, amoroso comigo e com Alice, preocupado. Mas agora as coisas mudaram tanto que acho que para ele a única coisa que importa são as drogas.

Eu não quero que façam nada de mal a ele, ainda tenho esperanças dele melhorar. Já tentei o convencer de o colocar em uma clínica de reabilitação mas ele não quer, diz que se eu o colocar ele vai fugir e eu não vou ser mais filha dele. É essa a gratidão que ele me dá.

A sorte que a Alice e eu somos bem próximas e ela me ajuda com tudo que pode em casa, ela é jovem mas é uma grande irmã, eu a amo muito.

A vejo vir em minha direção e sorrio.

"Hey meu amor, estava pensando em você. Como foi a aula?" A olho.

"Foi normal" ela fala desanimada e se senta ao meu lado.

"Ué, aconteceu algo?" A olho novamente.

"Nada, nada de mais" ela deita a cabeça em meu ombro.

"Eu te conheço Alice, te conheço muito bem" começo a acariciar o cabelo dela que logo solta um sorriso.

"Um garoto idiota lá na escola" ela suspira.

"O que ele fez hum?" Falo baixo.

"Ele estava gritando pela escola que meu pai é um drogado, alegando que viu ele comprando drogas em um ponto perto da casa dele" ela fecha os olhos.

"Ai, mas deixa esse garoto idiota Ali, ele queria te provocar e fez isso. Você sabe de tudo, sempre te deixei bem claro sobre estas coisas que era pra você não ficar sabendo por outras pessoas" beijo a cabeça dela.

"Eu sei. Mas dói sabe? Alguns ficaram rindo de minha desgraça"

"Baby? Deixa eles rirem, eles não sabem o dia de amanhã e também não sabem o que aconteceu para o papai começar com isso. Eles não sabem de nada e não tem o direito de ficarem rindo disso" falo baixo novamente ainda acariciando o cabelo dela.

"Eu sei, mas fico um pouco chateada" ela abre os olhos e levanta a cabeça pra me olhar.

"Hum vou melhorar isso, fica aí." me levanto do sofá e vou para a cozinha.

Suspiro e pego as coisas para fazer um brigadeiro, começo a preparar o brigadeiro e alguns minutos depois o término colocando em um prato. Pego duas colheres e volto pra sala.

"Proooonto" vou me sentando no sofá novamente e entrego uma das colheres a ela.

"Brigadeiro? Oba." Ela sorri e pega a colher.

"Aham, pra te animar" rio e dou uma colherada logo levando até minha boca.

Olho pra ela e a vejo encarar o brigadeiro e logo dar uma colherada, enchendo toda a colher e levando até a boca.

Depois de comermos todo o brigadeiro eu decido ir para meu quarto, entro no mesmo e pego meu celular ligando para minha mãe.

Logo a vejo atender e suspiro.

"Olá sumida" digo a ela.

"Olá, tudo bem?" Ela diz normalmente.

"É, e você?" Falo sentando na cama.

"Bem. Aconteceu algo?" Ela dizia calmamente.

"Eu, eu não quero que pense que liguei por algum interesse mas sim aconteceu algo, queria que dissesse que pode me ajudar" suspiro.

"O que você aprontou? Não me diga que está grávida?" Ela solta uma risada irônica.

"Eu não fiz nada ok, esquece" desligo a chamada e logo desligo meu celular pra ela não poder ligar de novo.

Poxa pra que falar desse jeito comigo? Mas que merda, não fiz nada de mais. Só queria ver se ela tinha algum dinheiro para emprestar, amanhã fecha os três dias e não tenho nem a metade da metade.

Estou muito preocupada, muito mesmo. Amanhã eu estou de folga, eu fui em um dia que não devia ir para cobrir uma amiga e então pude escolher um dia para tirar a folga, já tinha escolhido faz alguns dias e deu coincidência de ser isso.

Não sei o que vai acontecer amanhã, não sei mesmo, só quero que dê tudo certo. Não quero perder meu pai, por mais de tudo eu amo ele e sempre que posso eu tento o ajudar.

Suspiro e vejo Alice entrar no quarto, sorrio para ela.

"Vai dormir?" Ela me olha.

"Ainda não, amanhã estou de folga" respondo.

"Então vamos assistir a um filme?" Ela senta ao meu lado.

"Vamos" falo me levantando da cama.

"Pode escolher" ela fala se deitando em minha cama.

"Ok" pego um filme de comédia e o coloco.

Volto para a cama e me deito dando play no filme, nos cubro e ficamos olhando o filme até dormir.

The Payment |Z. M.|Where stories live. Discover now