Capítulo 6~

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Helena


               Eu nunca mais vou ser capaz de assistir nada que tenha uma mísera participação do Nícolas Cage na minha vida.

               Meu notebook se tornou impossível de usar com todas aquelas imagens. Eu tentei de tudo para tirar aquilo de lá. Como último recurso, pedi para o menino do TI da M&D dar uma olhada e, ao julgar pela gargalhada que ele deu lá da sala da informática (que pode ser ouvida claramente da minha sala, do outro lado da agência), ele estava se divertindo muito às minhas custas. Minha cabeça se afundou no monitor quando aconteceu, e eu fiz de tudo para que ninguém percebesse que eu era a causadora daquelas risadas.

               No fim do dia, quando todo mundo já tinha ido embora e eu tentava adiantar o que fosse possível para não ter que usar o computador em casa, dei uma passada discreta na sala do fim do corredor e resgatei meu pobre notebook infectado. Infelizmente, precisei resolver uma coisa no aparelho e, relutantemente, eu o liguei. Estava lutando em uma planilha de Excel quando o bloco de notas do computador abriu sozinho.

"Preciso falar com você."

               Acesso remoto é uma bosta. Eu sempre achei estranho quando a galera do TI me pedia para abrir o tal do programa lá e deixar que eles mexessem, então eu via janelas se abrirem e meu mouse se mexer sem que eu tivesse feito nada. Só que nada se compara a isso. Não tinha programa nenhum de acesso remoto no meu computador pessoal; não um que eu tivesse instalado, pelo menos. Fechei a janela.

"Não adianta fechar, Lena. A gente tem que conversar."

                 Comecei a digitar logo em seguida, sem pensar direito no quanto aquilo era bizarro. Se aquilo era sobre minha promessa de outdoor, só havia um jeito de ele fugir daquilo. Eu tinha um ou dois favores como a pessoa responsável pelas campanhas de mídia da nossa agência e eu não hesitaria em cobrar.

"Não temos nada para conversar. Seu tempo está acabando."

"Isso é muito além do nosso desentendimento, vizinha. É sério. Precisamos conversar."

               Fechei a tampa do notebook e o joguei na cama. Era hora de ir para um banho e eu não estava nem um pouco a fim de transformar meu bloco de notas em chat do Facebook por causa de Miguel. Eu precisava de um banho e comida, não necessariamente nessa ordem. Fui até a cozinha, ainda pesando minhas opções na balança, quando o celular tocou.

                — Diz que eu posso dar na cara do Tuts?

               Coloquei Gio no viva-voz e fui pensar no que cozinhar, porque claramente não iria tomar banho agora.

               — Só se você topar ajudar na surra que eu vou dar no Miguel, mais cedo ou mais tarde. Mas conta para a Lena aqui o que Arthur fez que está afligindo seu coração.

                — Nasceu, né Lena? Aquele peste para me tirar do sério só precisa nascer.

                Era engraçado ver a dinâmica dos dois. Eles facilmente seriam aquele casal de inimigos que não suporta ficar nem no mesmo ambiente, mas também são ótimos melhores amigos e capazes de um tórrido romance que dure anos. Tudo na mesma proporção.

                  — Vocês dois se merecem, de verdade. — ri, enquanto constatava a verdade.

                  — Lena, você também está querendo morrer hoje? Porque aí eu faço uma viagem só. Minha vontade é de entrar com o pé na porta no apartamento do Tuts e mostrar para ele que a tintura do cabelo da Fabíola é mais barata que um KitKat no camelô. Foi só ela colocar aquele acobreado e fazer uma progressiva bosta que já tá se esfregando toda em qualquer homem que apareça pela frente. Você tinha que ver eles no elevador hoje, sério. Que ódio.

Lá em cimaWhere stories live. Discover now