Capítulo 8~

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Helena

              Todo mundo erra, diz o ditado. Já perdi as contas de quantas músicas falando sobre erros e imperfeições do ser humano a gente vê por aí. Dessa vez, eu precisava assumir a culpa.

              As coisas no trabalho não diminuíram em nada o ritmo. Por mais que eu estivesse certa de que Miguel estava viajando, peguei-me olhando com suspeita para todos os meus superiores na M&D. Será que... Não. Eles definitivamente não estavam fazendo nada de errado. Era só o Miguel vendo coisas onde não elas não existiam. Eu atribuía essas minhas dúvidas à cena que se repetia em looping na minha mente desde a semana anterior, quando o outdoor foi ao ar. O olhar cabisbaixo de Miguel me tocou. De todo jeito, segui com a vida. Um pouco mais feliz, porque já estávamos há mais de uma semana sem festa no andar de cima. Provavelmente elas estavam acontecendo em outro lugar, mas isso não é da minha conta. Eu não poderia negar que era estranho, porém. Considerando que ele cortou relações comigo naquele dia, achei que nunca fosse ter esse tipo de consideração e deixar que eu dormisse. Por conta de sua benevolência comigo, mesmo em um momento de claro ódio, eu arrumei um tempo após o jantar para ler o dossiê dele. A programação na TV estava insuportável e eu estava com um pouco de preguiça de procurar por algo na Netflix. Também não queria começar uma maratona de nada.

              Comecei a ler as folhas, com calma. Dentre todos os outros documentos em papel timbrado, havia e-mails, cópias de planilhas, folhas de pagamento, extratos de contas bancárias... Era muito mais informação do que eu esperava. Era muito difícil que meu vizinho tivesse forjado tudo aquilo. Avancei algumas páginas, tentando encontrar alguma coisa que me fizesse desacreditar nas coisas que lia, mas eu não consegui encontrar nada.

               Era difícil de admitir, mas eu tinha errado com Miguel.

              Argh, saco.

              Abri meu computador, querendo desistir/com medo de perder meu emprego. Miguel teria que fazer suas coisas de hacker no meu computador depois, porque eu tinha certeza que qualquer garoto com tendências a hacker poderia achar vestígios da busca que eu faria no meu computador. Eu não tinha acesso a muita coisa no meu computador pessoal, mas pesquisei um pouco na internet, tentando achar qualquer movimentação ilegal que a mídia pudesse ter noticiado. Nada. Eles estavam se escondendo muito bem. Eu precisaria fazer essa busca no meu computador da empresa, onde eu tinha acesso a tudo. Dormi, porque era tudo o que eu precisava depois daquele amontoado de coisas na minha mente de uma vez.

                 No dia seguinte, passei minha hora de almoço completamente sozinha na agência. Era incrível como toda a empresa parava para comer junto e eu não tinha percebido antes de precisar fazer algo "ilegal". Era uma opção dos diretores e isso só me pareceu suspeito depois de ler o dossiê de Miguel. Fui até a sala do T.I., pedindo a todos os deuses da boa publicidade que me ajudassem. Como se tivessem de fato me escutado, a sala estava vazia e um dos computadores ainda não tinha sido bloqueado por inatividade.

                Sentei na cadeira acolchoada e comecei a pesquisar. Eu salvava uma cópia de tudo que eu achasse impertinente, mas o medo de ser descoberta me fez usar uma aba anônima para criar um endereço de e-mail falso e direcionar todos os arquivos para Miguel. Eu também não queria que ele soubesse que era eu quem mandava as informações. Meu orgulho ainda não estava completamente despedaçado.

                Eu ainda tinha esperanças de não encontrar nada demais, mas ia tudo por água abaixo. Eu sabia que não tinha muito tempo para ficar lendo e analisando, então separei pastas enormes de arquivo para colocar em um pendrive. O que eu tinha certeza de que era importante, enviei diretamente para Miguel. Os outros eu daria uma olhada primeiro. O que eu não esperava era que meu pendrive de oito gigabytes não fosse suficiente. Eu precisaria voltar depois para continuar vasculhando aquelas pastas.

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