Epílogo

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Helena

Três meses depois

               A minha cortina estava aberta. Eu sabia disso porque meu quarto estava iluminado pelo sol, coisa que raramente acontecia. Eu tinha um blackout por um motivo e ele não estava cumprindo sua função. Isso provavelmente tinha algo a ver com o fato de eu estar muito concentrada em outras coisas ontem em vez de me preocupar em fechar. Estendi o braço na cama, pronta para acordar o "motivo" de eu ter esquecido o blackout aberto e empurrá-lo até que ele se mexesse para fechar o negócio e eu poder retornar ao meu sono de beleza, mas tive que me contentar com os lençóis frios. A cama estava totalmente vazia, o que era uma surpresa, considerando que Miguel nunca acorda cedo.

               Só precisei abrir os olhos por alguns minutos para perceber que não era cedo. O sol estava a pino do lado de fora e o relógio marcava mais de meio dia. Criei coragem para levantar da cama após alguns minutos encarando o nada e ouvindo apenas o silêncio.

                — Miguel? — Chamei-o, após ter feito minha higiene matinal e ele não respondeu.

               Procurei pelo apartamento, mas ele não estava em lugar nenhum, então olhei pela janela, pensando que ele provavelmente teria subido para o andar de cima. Percebi que havia algo preso na janela e fui até lá para ver o que era. Miguel tinha deixado um post-it e uma flor presos ali, com um recado.

Te esperando lá em cima

               Meu Deus. Ele tinha colocado um coraçãozinho. Um coraçãozinho!

               Olhei para o pijama que eu vestia, constatando que não era uma das minhas peças mais bonitas, mas que seria suficiente para subir até o andar de cima, no apartamento do meu namorado. É, namorado.

               Após três meses de relacionamento e dois em um emprego novo, as coisas estavam totalmente promissoras para o nosso lado. Promissoras a ponto de termos viajado juntos no feriadão para passarmos um tempo com meus pais.

               Dona Maria Rita e seu Eduardo estavam encantados com o desencalhe da filha e Miguel mal precisou abrir a boca para que eles se apaixonassem. Eu sabia o quanto meus pais queriam que eu tivesse um irmão, ainda mais depois que eu cresci um pouco, mas a doença no coração da mamãe não tinha permitido outra gravidez. Por isso, quando chegamos na fazenda, havia uma enorme mesa de quitutes que minha mãe preparou para nós dois. Sentamos à mesa logo depois de deixarmos nossas coisas no quarto que eles mantinham para mim.

                — Miguel, mas que nome bonito! — Minha mãe dizia, enquanto recheava um prato com o quiche de queijo. — O que mais você quer, meu querido? Sinta-se em casa, eu preparei tudo isso para vocês!

                — Obrigado, Dona Rita. — ele sorriu, tímido. — Foi minha avó Eunice que escolheu esse nome. Ela costuma dizer que São Miguel me protegeria, mesmo eu sendo uma peste.

               — Com toda razão — Comentei, pouco antes de encher a boca com a torta alemã que tinha servido no meu prato.

              — Não deixe o garoto sem graça, Helena Izabel! Tenho certeza de que ele foi uma criança brilhante.

              — Helena Izabel? Seu nome é composto?

             Minha cara de derrota entregou completamente.

             — Eu sei que ela não costuma usar o segundo nome, querido, mas foi uma homenagem que fizemos às bizavós da Lena. Dona Helena e Dona Izabel. Mulheres muito fortes e determinadas, ainda que não tenham conhecido nossa Heleninha.

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