Capítulo 17~

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Miguel

              — De novo, Miguelito? — Vovó reclamou, enquanto bebia mais um gole do seu chá e me encarava. — Não foi semana passada que você me pediu um conselho para conquistar a Heleninha?

             Dona Eunice sempre será a melhor conselheira de todas, não há dúvidas sobre isso. Esse é o motivo pelo qual, depois de tanta bobagem que eu fiz nas últimas semanas, recorri a ela. Descobri na pele que um Miguel apaixonado é um Miguel que tem o dom de estragar tudo. Repetidamente.

             Eu podia ter simplesmente ignorado a cena que eu tinha presenciado, pego Lena pela mão, subido até o nosso cantinho ou apenas nos trancar no meu apartamento até que a gente se acertasse. Em vez disso, dei uma festa. Percebe o idiota? Uma pena que eu só tenha enxergado isso depois de ter que empurrar para longe a loira que estava debruçada em mim. Ela tentou me beijar e conseguiu por um momento. Até que aquele olhar dilacerante que Lena me dera brotou em minhas pálpebras fechadas como um filme.

              — Não, vó. Isso faz um pouco mais de tempo, mas não importa. Eu preciso de sua sabedoria.

             — Sabedoria eu tenho de sobra, meu filho, mas preciso que você explique melhor o que está acontecendo, porque tinha certeza que o terraço ia funcionar.

             — E funcionou, vó. Só que seu neto estragou tudo.

              Vó Eunice me encarou e, em seguida, começou a rir como se eu tivesse dito a coisa mais engraçada do mundo.

              — Querido, isso é absolutamente normal. Vocês homens vivem estragando tudo.

              — Vó. — Supliquei, porque eu não precisava que ela tirasse uma com a minha cara. — Ajuda aqui, vai. A merda foi em níveis colossais.

               — Miguel. Nada de palavrões. Você sabe que eu não aprovo esse seu vocabulário. — ela disse, séria.

              — Eu soltei um 'merda' na sua frente. Tem noção do problema?

              — Soltou outro, mas eu não vou comentar isso. Da próxima vez, lavo sua boca com sabão e pimenta. Agora diz aqui para sua avó no que eu posso ajudar.

              Contei tudo para a minha vó, omitindo minha parcela de criminalidade por questões de saúde. Se ver o neto cometendo burradas em relacionamento já deixava aquela expressão torturada no rosto de Dona Eunice, imagine só se eu deixasse escapar que tudo aquilo tinha acontecido porque eu quebrei algumas leis de privacidade e segurança. Quando terminei, ela me olhava com uma careta de quem não aprovava nenhuma das minhas atitudes.

              — Eu, no lugar da Heleninha, chamaria um cara bem forte, talvez aquele amigo ruivo dela, o fortão, para dar umas palmadas em você, meu filho, mas a sua sorte é que nós mulheres temos uma paciência de Jó. Como eu disse, vocês vivem estragando tudo. Já nos acostumamos com isso.

             — O que eu faço, vó?

             — Ah, meu filho. Você pede desculpas. Não tem nenhuma fórmula mirabolante para ela te perdoar.

             — Eu duvido que ela me deixe chegar perto. Eu vi o jeito que ela me olhou antes de sair da festa...

             — Você já tentou esperá-la na janela? Como vocês faziam no começo?

             — Da última vez que fiz isso, surtei de ciúmes e a senhora sabe o restante da história.

             — Tenta, filho. É só fazer a coisa certa dessa vez.

Lá em cimaWhere stories live. Discover now