Capítulo 11 (revisado)

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Quando subi naquela moto imensa pela primeira vez deixei parte de mim para trás. A garota que antes era indiferente agora se tornara inquieta. O mundo não a assustava mais. Deixei uma parte boa de mim com ela também, no meu peito, onde antes eu carregava o calor, agora, podia sentir a frieza. Eu não sabia o quão bom seria isso pra mim.

O grupo que cuidava do irmão de Daryl, Merle, não era muito receptivo, percebi no minuto exato em que colocaram os olhos em mim que minha estadia com eles não seria das melhores. Encontrei Elise que tentou esconder a empolgação ao me ver. Ela veio ao meu encontro e eu a abracei. Pensei que ela ao menos seria receptiva comigo mas pude sentir a tensão em nosso abraço. Rápido e pouco terno.

-Fico feliz que esteja viva- sussurrou para mim.

Se ela estava feliz não estava demonstrando bem.

Ela se afastou rapidamente de mim e agradeceu silenciosamente a Daryl com um aceno de cabeça. Foi um péssimo obrigado para o favor imenso que ele fez a ela. Eu podia não valer tanto a pena mas a vida dele foi posta em risco por algo que ela, uma desconhecida, lhe pediu.
Por um instante, bem pequeno, tive certeza em algum lugar dentro de mim, que Daryl gostava dela. E por um momento menor ainda, não gostei nada de saber disso.

Daryl tinha o irmão para cuidar. Elise tinha tarefas que a mantinham ocupada e longe de mim. Eu, me sentia deslocada. Era a única ali que parecia depender dos outros para sobreviver. Não carregava suprimentos ou armas, estava vulnerável ao frio e ao perigo. Era indefesa. Isso era o que todos pensavam sobre mim. Um peso a ser arrastado junto consigo.

O acampamento de Elise era na floresta. Longe o bastante da cidade para manter os andarilhos fora de vista, perto o suficiente para pegar mantimentos. E essa foi a primeira decisão que tomei. Não sei porque motivo senti a necessidade de contar sobre minha decisão à Daryl, mas fui atrás dele mesmo assim. Não foi difícil achá-lo, considerando que a população ali não passava de trinta pessoas. Andei até a barraca onde uma mulher cuidava de Merle, coloquei minha cabeça para dentro e vi que ela trocava um curativo em sua mão. Ele falava algumas coisas baixinho no ouvido da mulher e ela ria.

-Desculpe -disse, interrompendo o momento de paquera.

Os dois pararam sua brincadeira e me fitaram.

-Vocês sabem onde o Daryl está?

Merle me olhou dos pés à cabeça antes de responder.

-Se preparando para a caçada -ele disse, enquanto ainda me encarava. Seus olhos pararam em meus peitos. A mulher continuou a fazer o curativo.

-Talvez você devesse vê-lo. Uma mulher faria bem ao meu irmão.

A mulher parou de cuidar do ferimento e começou a rir. Olhou para mim como se aquilo tivesse sido a coisa mais engraçada que já ouviu mas quando notou meu rosto sério, deteve o riso e se concentrou no que tinha a fazer. Havia poucas horas que eu conhecia Merle Dixon e até então não conseguia entender o que era tão atraente nele para que as mulheres se jogassem aos seus pés. Ele era grosseiro, o sotaque forte e as tatuagens de péssima qualidade o deixavam com um ar até meio criminoso, mas eu não concordava em julgar pela aparência, no entanto ele parecia fazer jus a tudo o que eu imaginava. E até coisas piores, muito diferente do pouco que eu conhecia sobre Daryl. 

Eu encarei Merle com nojo e depois sai da barraca. Avistei Daryl limpando a moto atrás de uma árvore. Andei em sua direção, ele parecia interessado apenas no que tinha de fazer. Pelo visto aquilo não era de família.

-E aí- disse ele ao me ver.

-Oi -respondi.

-Você está a salvo agora, não precisa andar por aí com essa cara de assustada.

Fazia tanto tempo que não via meu reflexo no espelho que não podia dizer qual expressão carregava no rosto.

-Eu vou dar uma volta- afirmei. Talvez no fim todo o medo e nervosismo que eu carregava com a ideia de sair sozinha estivessem sim estampados bem ali na evidência da minha cara.

Ele limpou as mãos num lenço vermelho e desviou os olhos da moto para mim.

-Não precisa fazer isso.

Ele parecia não duvidar da minha decisão de sair sozinha.

-Não, tudo bem. Eu preciso.

Ele começou a arrastar a moto para a estrada de chão.

-As pessoas podem ajudar você a se manter aqui.

Eu não sabia do que ele estava falando.

-Não Daryl, eles não vão me ajudar. Eles nem gostam de mim.

Ele riu.

-Mas você está aqui não tem nem uma hora.

-A única pessoa que falou comigo foi o cara que parece ser o Líder deles.

-Staton? O tatuado?

-É -concordei - E ele só disse que eu não deveria esperar que alguém aqui fosse amistoso comigo.

-E você não deve -ele falou

-E eu não vou -respondi.

Daryl fez a contagem de suas flechas.

-Bom. Eu vou indo. Eu só vim avisar você, caso precisasse de mim - disse - Não que você precise. -conclui. Era evidente que Daryl se virava muito bem sozinho, e ele ainda tinha o irmão, com certeza agora que ele pagara o favor ao grupo de Elise, nós não tínhamos mais nada a ver um com o outro. 

Me senti muito idiota. Mas as garotas costumam se sentir assim diante de caras tão intimidadores. Intimidadores e lindos.

Me virei para andar não sei bem ao certo para onde. Ia verificar minhas opções quando ele me interrompeu.

-Não seja durona. Está escuro e frio.

-Não estou sendo -disse, ainda de costas -Só não tenho o que comer, onde dormir e armas para me defender.

- Você tem uma arma- argumentou ele.

-Ela não será o suficiente.

-Bom, então amanhã quando eu voltar da caça a gente pode dar uma vasculhada nas casas de fazendas e procurar algumas coisas pra você.

-NÃO- gritei para ele. -Todos eles já me olham como alguém que vai morrer logo. Não preciso que você cuide de mim para provar que eles estão certos.

-Eu não vou cuidar de você -disse ele. -Até porque é algo que você sabe como fazer. Eu já estava pensando em fazer isso mesmo. Posso contar com a sua ajuda?

Resisti antes de suspirar e aceitar. Não tinha escolha. Entre os olhares desdenhosos e morrer, não foi difícil escolher uma opção.

DIXON - No Fim Do Mundo Onde histórias criam vida. Descubra agora