Capítulo 75 (revisado)

249 27 2
                                    

Estava escuro quando tornei a abrir os olhos. O cheiro de comida me animou e sai para apreciar o cardápio. Com o sucesso de Alec e Daryl em encontrar uma ovelha em uma casa de fazenda muito longe dali, Harry fez um ensopado acompanhado por vegetais que vieram do mesmo lugar. Era uma noite de sorte e eu senti fome como não sentia há muito tempo. Deliciei-me com o banquete e ainda consegui comer algumas frutas frescas, incentivada por Rony que disse que elas só me trariam benefícios. Depois de lavar a louça e trocar uma ou duas frases com Carol, me dei por vencida, estava farta e realizada- culinariamente falando. Esfreguei a barriga e sorri para Ozônio que retribuiu com o mesmo gesto, era bom finalmente ter comida de verdade.

-Acho que precisamos discutir algumas opções- disse Alec que espalitava os dentes.

Andei até perto do grupo mas antes de me acomodar Rony segurou o meu braço.

-Acho melhor você ir descansar agora- ele disse. 

-Por favor Rony, foi só o que eu fiz durante o dia inteiro.

-Daryl está esperando você- ele falou. Então entendi que aquilo era um ultimato, uma ordem. 

-Você contou para ele? perguntei me esquivando de seu aperto. 

-Acho melhor você ir agora. 

Decepcionada e totalmente arrasada. andei até minha barraca que havia sido transferida para baixo do grande carvalho para que não ficasse tão abafada durante o dia. Estava acabado. Agora não bastava uma parte de mim ser rejeitada pelo homem que amava, tinha que ser o caos completo. 

-Eu comi demais- disse disfarçadamente ao entrar na barraca. Daryl estava sentado em um canto com meu livro nas mãos. 

-Obrigada por ter trazido comida- eu disse me sentando próxima da entrada onde conseguiria fugir mais rápido. 

-Rony me contou- ele disse segurando firme o livro. 

-Eu nunca tinha comido cordeiro- falei olhando para fora com a cabeça deitada em sob os joelhos dobrados. As lágrimas chegaram de repente. 

-Eu nunca quis um filho- ele disse partindo meu coração- Pelo menos nunca pensei sobre isso.

Um nó se formou em minha garganta. 

-Tudo bem- eu disse quase sem voz- Estou otimista, acho que vamos receber resgate de cima logo e então você não irá precisar lidar com isso. Você fez um ótimo trabalho me trazendo até aqui, mas agora estou bem e tenho certeza de que Alec pode assumir a minha segurança enquanto for preciso. Você definitivamente não precisa continuar. 

-Que droga Maria- ele falou em voz alta me fazendo estremecer- Por que você acha que eu iria te deixar agora? 

-Você já me deixou- afirmei sem respirar. 

-Não, eu só queria te proteger.

-E eu queria o que?

-Queria se proteger sozinha. Você sempre quis. E foi a coisa mais difícil que eu já vivi, ter que deixar  você por conta própria porque era isso o que você queria. 

-Eu não sei o que dizer pra você. 

-Não tem que dizer nada, só aceite, pelo amor de Deus, a minha ajuda. Deixa eu cuidar de você, deixa eu cuidar do nosso filho e dos nossos interesses. 

-Você não precisa cuidar de mim só porque esse filho é seu- eu disse chorando e me odiando por estar chorando.

-Não é por isso, eu já queria antes, mas você escapa de mim e vai vencer sozinha todas as batalhas. Eu não quero ver você nem entrando em uma batalha.

Com o corpo e a dignidade arrastando-se pelo chão, fui para o canto da barraca e me encolhi lá pois não conseguia mais olhar para ele sem ter a visão distorcida pelas lágrimas. O choro é livre. 

O silênico reinava entre nós. Talvez mais tarde conseguíssemos falar sobre isso com mais maturidade, por hora não havia nada mais a ser dito. Era hora de rendição. Cansada pela comida e pela conversa adormeci rapidamente, o sono leve me permitia sentir que Daryl se revirava no chão. 

-Você não devia dormir aqui- ele disse.

-Tudo bem- eu disse me sentando depressa- Posso ficar com Ozônio.

-Não- ele me cortou rapidamente- Você não deveria dormir no chão. 

-Ah- eu disse confusa- É desconfortável para as costas, mas da pra aguentar,a terra é fofa, tirando as raízes, mas não é tão difícil desviar delas.

-Mas não é bom, pra, você sabe...- ele disse olhando para minha barriga. Coloquei a mão sob a barriga com suavidade como um gesto surpreendente de querer proteger o meu bebê. Daryl me encarava inerte, observei um pequeno tremor em seu lábio inferior. 

-Tudo bem, amanhã eu posso achar um colchão, tem muitas casas descendo pela trilha. Ou não, a gente nem sabe quanto tempo vamos ficar aqui mesmo  e carregar muita bagagem é exaustivo. 

-Eu posso?

-Pode o que? Achar um colchão? Eu sei que você quer ajudar, mas não precisa...

-Eu posso pôr a mão? Foi quando eu percebi que seu olhar estava fixo em mim. Foi quando eu entendi que ele se sentia excluído daquilo, porque eu estava longe demais pra ele poder sentir o próprio filho. Com lágrimas escorrendo- pra variar- me sentei mais próxima e peguei a mão de Daryl sentindo falta de cada um dos toques dele. Guiei ele até um ponto da minha barriga sem saber o que esperar. Tinha medo e ansiedade. Ele manteve a mão enorme em cima de mim e eu criei coragem para ceder e me aproximar. Não sei por quanto tempo ficamos em contato um com o outro, mas quando acordei pela manhã, estava deitada sob o peito de Daryl que estava acordado e alerta e sua mão ainda estava a proteger o nosso filho. 

DIXON - No Fim Do Mundo Onde histórias criam vida. Descubra agora