Capítulo 68 (revisado)

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Acordei com a luz do sol invadindo o meu rosto. Eu nunca gostei de dias de sol. Olhei para cima e virei rapidamente a cabeça. Minha visão precisou se acostumar com a luz ambiente antes que eu voltasse o olhar para o teto. Havia um buraco na tenda hospitalar que estava localizado bem acima de minha cabeça. Levei as mãos até o cabelo e notei o quanto estavam quentes. Há quanto tempo eu estava ali no sol?

-Você não podia ter me tirado daqui? perguntei a Carol mesmo sabendo a resposta e a intenção.

-Tive medo de te acordar se movesse a maca.

"Até parece".

-Onde estão todos? perguntei notando a falta de barulho.

-Empenhados em manter a sua segurança, alteza- disse com desdém e voltou a dar atenção ao livro que estava lendo.

Me levantei e sentei na maca. Estava suando muito e já não cheirava muito bem. Procurei em volta e vi que alguém havia arrastado minha mochila até ali junto com algumas outras. Peguei-a e sai de fininho. Josh guardava a porta, sentado em uma cadeira velha de praia, ele cochilava com o boné no exército na frente do rosto e com a arma empunhada.

-Não estou dormindo- resmungou quando passei por ele- Apenas descansando os olhos.

Eu ri e continuei caminhando.

-Como você está? Ele quis saber. Tirou o boné da frente do rosto e me encarou com olhos vermelhos, o típico sinal de quem havia bebido muito e dormido pouco.

-Eu estou bem, mas que ressaca essa sua em cara- ele bufou em cansaço e se recostou mais na cadeira que parecia prestes a ceder com todo aquele tamanho. Um legítimo brutamontes do exército.

-Beber faz bem- respondeu.

-É sim- concordei- Inclusive estou indo até o rio pegar um pouco de água.

-Ajuda a acalmar a dor.

-Você está com dor? perguntei inspecionando-o. Detectei uma faixa em seu pé descalço.

-Malditos cachorros. Eu nunca gostei deles.

-Pitbuls não são amigáveis.

-Zumbis também não, por isso eles mordem.

-Carol também não, e nem por isso ela morde.

Mas eu imaginei que se não soasse totalmente estranho ela até poderia morder, e espalhar toda aquela raiva recolhida.

Ele riu e tomou um gole de algo em sua garrafa. Duvidava de que fosse água.

-Você menina, é tenebrosa.

-Obrigada- respondi. Ele puxou uma garrafa- dessa vez de água de sua mochila e a jogou para mim. -Obrigada, parte dois.

Ele assentiu e se levantou.

-Onde é mesmo que vamos?

-Eu vou tomar um banho- respondi confiante.

-Você não é louca. Dixon entrou naquele riu, a água deve estar mais limpa naquela poça ali- e apontou para uma poça no chão com uma mistura de água e óleo. Eu ri e retomei a caminhada.

-Você não precisa vir.

-Eu preciso.

-Mas você está ferido.

-E vivo.

Arqueei uma sobrancelha para ele. Era durão, mas não podia negar que também sentia dor.

-Não me olhe assim, eu não queria, mas é o meu trabalho.

-Não precisa mentir Josh, eu sei que você só quer o prazer da minha companhia. Ele balançou a cabeça e indicou o rio.

-Aquelá área, perto da árvore é mais segura para banho. Assenti e comecei a retirar coisas da mochila. Josh, que havia arrastado a cadeira de praia consigo, sentou-se na sombra e concentrou o olhar na outra margem do rio.

-Você não vai ficar ai, vai? perguntei com uma mão na cintura e o pé batucando no chão.

Ele manteve a expressão "profissional" no rosto e disse:

-Não vou a lugar algum.

Com o biquíni e a toalha nas mãos, andei até uma grande árvore e me troquei atrás dela. Ouvi um barulho do outro lado do rio, o movimento gerou pequenas ondas na água.

-Josh- chamei-o saindo detrás da árvore.

-Eu vi- respondeu ele se levantando- Não deve ser nada, um galho ou uma pedra que rolou até a água. Ele puxou o binóculos do pescoço e olhou melhor- Não se preocupe.

Entrei na água rapidamente e comecei a me esfregar, alguns pontos precisavam de mais atenção.

-Vou te matar se não parar de olhar pra mim assim- brinquei com Josh. Ele engoliu em seco e virou o rosto.

-Daryl me alcança antes de você- brincou ele de volta.

-Daryl não é ciumento- comentei prendendo os cabelos molhados em um rabo de cavalo.

-Eu pensei que você o conhecesse, mas sobre isso está tão enganada. Ele te ama, não deixaria ninguém chegar perto de você.

-É por isso que ele odeia Ozônio? perguntei rindo.

-Não, o garoto faz por merecer. Ele te jogou de um carro em movimento.

-Ele quis ajudar o Daryl- defendi.

-E Daryl quis ajudar a Carol- argumentou.

-Eu odeio a Carol.

-Você odeia a Carol por isso- ele disse e riu. E eu ri também porque em parte era verdade.

-Como é que você conseguiu tudo isso? ele mudou de assunto dando atenção a uma bacia quadrada transparente que eu havia arranjado no dia anterior, dentro dela havia vários produtos de higiene pessoal que antes estavam amassados em minha mochila.

-Eu vasculho casas, as vezes não encontramos comida e pilhas e balas, mas todo mundo usava shampoo, sabonete, creme corporal e essas coisas

-E você carrega tudo isso nas costas? ele apontou para a mochila.

-Eu não vou viver o bastante para ter problemas na coluna- respondi.

-Sinceramente Maria- ele disse colocando o boné na frente do rosto de novo- Espero que você viva bastante.

Então eu mergulhei.

Meus pulmões tornaram a implorar por ar. Meu corpo se debatia debaixo d'água, preso a um par de braços fortes e impenetráveis. Eu tentei chutar, arranhar, alcançar alguma coisa, qualquer coisa que fosse, mas não alcancei nada. E quando dei por mim, estava novamente inconsciente.

DIXON - No Fim Do Mundo Donde viven las historias. Descúbrelo ahora