Capítulo 64 (revisado)

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-Cadu? LG? Nego? Biba? Que porra é essa? Nenhum de vocês tem um nome decente? perguntei ao mais velho dos garotos, ele tinha só quinze anos. Nego. Era também o mais fechado de todos.

-São apelidos!

-Ah jura?

-Deixe-os em paz Maria- brincou Ozônio que me acompanhava na caçamba da caminhonete fazendo uma vigia contra os pirralhos. -São só crianças.

-Não somos crianças- respondeu o menino que anteriormente apontara uma arma para mim, dei a ele um olhar de nojo. 

-Blá blá.

-Você é tão criança quanto eles- sussurrou Ozônio próximo ao meu ouvido, eu ri daquela verdade. Era estranho poder zoar com alguém e não ser zoada, para variar. Nessa hora Daryl desceu do carro de trás com Carol, o meu olhar de nojo dessa vez não precisou ser forçado.

-Viemos para substituir vocês- disse ela.  

-Você não devia estar descansando? perguntou Ozônio. Ela ainda parecia muito mau, as escoriações arroxeando, quase negras pelo corpo todo, e ainda mais no rosto.

-Eu vou ficar bem! respondeu ela. 

-Você deveria arranjar um casaco, a temperatura esta caindo bem rápido- levantei as sobrancelhas para Daryl, e aquilo era hora de se preocupar com isso? 

-Eu vou ficar bem! respondi no mesmo tom seco de Carol. Ele deu de ombros, eu simplesmente odiava quando ele agia assim, tentando parecer indiferente. Tentando e falhando. 

Muito contra vontade. Ozônio e eu deixamos a caçamba da caminhonete imóvel e tomamos o lugar de Daryl e Carol no santana verde escuro que Bob dirigia.

-Eles deram muito trabalho? perguntou ele quando nosso grupo seguiu viajem, a leste o sol ainda não despontara sob as nuvens.

-Nahh- grunhi- são só crianças, elas sempre dão trabalho. Bob assentiu e ligou o carro. 

-Você pode falar isso agora princesa- disse Ozônio- Mas se você fosse tão sem coração quanto parece teria os deixado para trás. 

-Quem disse que eu tenho coração? perguntei olhando em seus olhos, desafiando-o. 

-Eu com certeza não disse- ele riu- mas não posso negar que é visível o quanto você é boa. 

Suspirei e sentei direito passando o cinto sobre o corpo. Ozônio imitou nosso gesto. Alec dormia no banco da frente e Bob pouco falava. Como eu previa, a chuva não demorou a cair e rapidamente foi engrossando. Ouvi o rangido de uma chamada no rádio. 

-Não podemos continuar andando com esse tempo- disse a voz de Michael no carro da frente- Tem muito entulho nas estradas. 

Verdade, tinha mesmo. 

-Vamos para na próxima casa de fazenda e nos abrigar- disse Bob em resposta. Ele já havia expressado sua preocupação com a inconstância do clima nos Estados Unidos depois do apocalipse. 

-Temos que tirar eles de lá agora- apontei para os meninos na caçamba à frente. Eu conseguia ver seus corpos tremendo, assim como o de Carol, que agora tinha a jaqueta de couro de Daryl sobre os braços, e Daryl não parecia estar nada feliz por estar se molhando. 

-Não temos condições de nos aproveitar deles se estiverem doentes- falei tranquilamente.

-Você não é tão insensível assim mulher- falou Bob tão alto que acordou Alec. Em seguida buzinou e todos paramos. LG e Cadu foram trazidos para o nosso carro e eu me obriguei a sentar no colo de Ozônio. Não que aquilo me incomodasse, ele era quase como um irmão, mesmo depois de me jogar de um carro em movimento. 

-Eu não vou ter culpa se você começar a sentir algo embaixo de você logo logo- brincou ele segurando minha cintura enquanto passávamos por uma enorme poça. 

-Eu me sentiria ofendida se não excitasse você- brinquei de volta. Alec gargalhou e Bob fez sinal negativo com a cabeça tentando afogar um riso. 

A chuva engrossou. O carro era só um brinquedinho de estrada em uma pista de rali, passamos por buracos que davam solavancos enormes e minha cabeça já estava zonza de tanto se chocar contra o teto. Agradeci mentalmente por Michael ter mudado de carro, e Ozônio não estar mais dirigindo, Bob era muito melhor em situações como esta. E Michael provavelmente já teria retribuido o favor de vomitar em mim. Nós seguimos por mais alguns longos minutos reclamando do trajeto, mas não havia o que fazer, se não escontrássemos abrigo logo seria melhor parar e ficar a deriva.

DIXON - No Fim Do Mundo Onde histórias criam vida. Descubra agora