fifteen

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[jungkook]

eu frequentemente desejava que o sol nunca se fosse. que a luz do dia nunca acabasse e que a presença de jimin não fosse passageira; que ele pudesse ficar comigo por mais um dia, ou mais algumas noites, ou até a eternidade.

desejava que o silêncio não me comesse vivo quando as luzes se apagassem, e rezava para que a luz da lua pudesse me salvar enquanto eu me contorcia debaixo da sua única raia vinda da minha pequena janela.

ansiava por alguém que não fosse eu para escutar os pensamentos que perambulava na minha mente. querendo lembrar de como minha própria voz soava enquanto ela se esvaía, ou como deveria soar quando a alegria alcançava meus olhos assim que jimin alcançava minha mão.

tinha tantas coisas que eu queria dizer à jimin.

coisas que eu queria que ele escutasse vindo da minha voz, e não da minha escrita desleixada.

eu queria que ele fechasse seus olhos cansados e escutasse de mim de uma vez, enquanto eu elogiava ele.

eu queria que ele soubesse que eu gostava quando ele me desenhava. mais concentrado do nunca em aperfeiçoar uma certa curva. eu queria dizer à ele que eu adorava o quão viajante ele é.

queria que ele soubesse que eu gosto de suas piadas irritantes, e comidas.

que mesmo que me assustasse e eu gritasse de medo, eu gostava quando ele pegava libélulas para me mostrar.

ele queria me mostrar tudo que ele gostava: seus lugares favoritos pra ir, e sua combinação de cor favorita nas minhas características.

o calor de suas mãos, de seu apartamento e do seu corpo quanto me sentava com ele no pequeno sofá.

queria dizer à ele que eu estava cansado de viver em tons de cinza.

e que - ele me fez colorido.

_

a rotina trouxe um sentimento que eu só poderia descrever como frio.

as mesmas quatro paredes, o mesmo programa de tv da noite passada, dando na sala e alto o suficiente para onde eu pudesse distinguir suas vozes; um canal que meu pai assistia frequentemente de manha.

o mesmo sentimento grogue enquanto tentava me manter acordado, os primeiros raios de sol da manha me tirando da cama.

o som fraco de chaves tilintando e baralhando.

o mesmo cheiro - café - sempre preparado, nunca consumido.

um ciclo vicioso, morto.

_

"você tá me distraindo, jungkookie" jimin riu baixinho, derrubado o lápis e se virando enquanto eu estudava suas características, com a bochecha pressionada na mesa.

me senti sorrir pela centésima vez, abrindo meu caderno e rabiscando palavras que eu nunca teria coragem de dizer com minha voz.

"você é tão lindo jimin" e eu me arrependi imediatamente da minha escolha de palavras.

mas era verdade.

os traços dele eram lindos, delicados até.

"ah" jimin riu, empurrando meu ombro levemente e voltando a olhar seu tema de casa que se encontrava metade pronto em sua frente.

"eu não sou lindo" ele disse baixinho, agarrando seu lápis com força e fingindo se concentrar.

eu realmente desejava que eu pudesse ter voz naquele momento. desejava que eu pudesse sacudir ele e dizer devidamente o que pensava dele.

eu não tinha certeza se era eu ou minha voz que estava sendo covarde; por que tudo que eu pude fazer foi franzir o cenho e empurrar ele de volta de brincadeira.

_

aquilo não parecia estranho e eu não tinha certeza se deveria ou não.

"ele é um ótimo ator" jimin sussurrou alegre atrás de mim, apontando para seu notebook no escuro do quarto.

"ele é o meu favorito, me pergunto qual é o seu favorito" ele disse baixinho, inconscientemente afagando meu cabelo bagunçado antes de se aproximar mais atrás de mim, um pequeno suspiro escando de sua boca, perto o bastante para enviar arrepios pelo meu corpo.

nós estávamos assistindo um filme aleatório, e em algum momento acabamos naquela posição que fazia parecer que eu iria me afogar no suor nervoso.

jimin sentou de pernas cruzadas comigo em sua frente, o notebook senda a única fonte de luz no pequeno quarto.

e talvez eu estivesse me inclinando pra trás para ele me abraçar, o que ele fez muito contente.

e talvez eu senti um formigamento, senti segurança naquele momento.

senti que, na escuridão de seu quarto, jimin não conseguiria ver o medo em meu rosto enquanto eu pegava ele desprevenido e o encarava, jimin encarando de volta em curiosidade enquanto seu notebook tremeluzia atrás de mim.

talvez isso fosse completamente fora de mim, mas eu senti que era preciso.

era preciso ficar o mais perto possível, submergido no calor dele.

era preciso transmitir à jimin de algum jeito, o que ele significava pra mim.

e se minha boca não seria de nenhum uso verbal...

ela poderia ser usada de algum jeito físico.

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© nerdyjimin

me diz que eu não fui a única a gritar nesse final 🌾 lou

colors [jikook]Where stories live. Discover now